Rui Bragança, no regresso do taekwondo aos Jogos Olímpicos

Portugal acredita que pode chegar às medalhas nesta modalidade. O facto de ter o bicampeão europeu na competição dá confiança

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Rui Bragança confessa que vai lutar por uma medalha DR

No sentido figurado, pode dizer-se que o taekwondo é uma mistura entre a esgrima e o xadrez. De um lado, está a parte da esgrima em que tem que se tocar no adversário. Do outro, está o xadrez com toda a táctica necessária para o fazer. Isto a alta velocidade o que faz “a adrenalina correr ao máximo”, explica Rui Bragança, o único atleta a representar Portugal na modalidade nos Jogos Olímpicos deste ano, no Rio de Janeiro.

Foram 11 anos a trabalhar para que Rui Bragança conseguisse alcançar o patamar olímpico e agora, aos 24 anos, o vimaranense qualificou-se para os seus primeiros Jogos ao ser o número três do ranking mundial na categoria -58kg. A ambição e a expectativa no seu desempenho não podiam, por isso, ser mais elevadas, uma vez que Rui é também o actual bicampeão europeu.

“O meu primeiro combate é sempre muito complicado. Mas lá [nos Jogos] eu não posso ter um mau combate, porque não tenho [mais oportunidades]. Enquanto nas outras competições eu vou contra um atleta supostamente mais fraco, que está mais abaixo no ranking, lá só estão os 16 melhores do mundo. Ou faço um bom primeiro combate ou posso esquecer o resto do dia”, confidencia o atleta vimaranense. O que Rui Bragança pode garantir é que vai dar tudo naqueles primeiros dois minutos. “Não posso sonhar com mais se não passar sequer do primeiro combate.”

O seu treinador, Hugo Serrão, eleva a fasquia ao dizer que o objectivo é o ouro. “Temos noção de qual é o nosso lugar, do trabalho que tivemos e do que foi feito para se chegar lá. Temos noção do nosso tamanho e de que o nosso lugar é o ouro”, afirma.

Para José Luís Sousa, presidente da Federação Portuguesa de Taekwondo (FPT), Rui Bragança só precisa de estar ao seu nível para chegar aos lugares cimeiros. “Para isso bastará estar num dia sim. E com uma pontinha de sorte poderá chegar aos lugares de pódio”, diz o dirigente federativo, ilustrando os resultados de excelência que o atleta tem vindo a ter ao longo dos anos nas provas internacionais.

Portugueses olímpicos

Bragança podia ter tido companhia portuguesa nos Jogos do Rio. Nuno Costa não conseguiu ficar entre os seis primeiros no ranking olímpico, o que lhe garantia passaporte directo para a competição. Na prova continental, que é no fundo um segundo momento de qualificação, a escolha do seleccionador nacional, Joaquim Peixoto, recaiu em Júlio Ferreira, que acabaria eliminado nos quartos-de-final (4-3) pelo norueguês Richard Ordemann. Costa, colega de Rui no Vitória de Guimarães, estará, ainda assim, presente nos Jogos como seu colega de treino.

Tanto Bragança como Costa são dois exemplos de uma realidade com que muitos atletas portugueses têm de conviver, enfrentar o desporto de alta competição sem que os apoios sejam os desejáveis e à custa das suas vidas profissionais e académicas. “O taekwondo passou a ser a nossa prioridade, pusemos o taekwondo à frente de tudo, até da vida académica.” Por isso, além do tempo óbvio que tiveram que investir, veio a parte financeira. “Tivemos que investir muito dinheiro, o nosso corpo, a nossa saúde”, acrescenta Nuno Costa.

Rui Bragança partilha da mesma opinião quanto aos apoios, pois muitas vezes tem que ir sozinho às provas. O atleta já nem fala em equipa médica, fala no poder ter o seu treinador na prova. “A Inglaterra leva um atleta a uma competição e é capaz de levar dois treinadores, quatro pessoas só para ver combates, um massagista, um fisioterapeuta, um médico, ou um técnico. E nós… Vai um atleta e é capaz de ir sozinho, ou vai com outro atleta que também vai fazer de treinador… É muito diferente. No entanto, nós temos que trabalhar com aquilo que temos”, explica o lutador.

“Nesta altura, as coisas estão a correr bem, temos tido mais alguns apoios”, destaca Rui Bragança. A federação também informa que há determinados apoios financeiros para atletas que atingem pódios internacionais, dá até o exemplo do que aconteceu em 2015, com o apoio no pagamento de propinas, um patrocínio dos “Jogos Santa Casa” coordenado pelo Comité Olímpico de Portugal, proporcionado aos cinco atletas inseridos do taekwondo no Projecto Rio 2016.

Uma questão de peso

Rui Bragança vai competir na categoria de peso mais baixa na competição masculina (-58kg) e não pode ter uma grama que seja a ultrapassar esta fasquia na altura da pesagem, que é feita 24 horas antes do primeiro combate. Hugo Serrão, treinador de Rui Bragança, pouco revela sobre as estratégias utilizadas para controlar o peso. “Não podemos dizer porque não é correcto do ponto de vista pedagógico. Só podemos dizer que fazemos o que o nutricionista manda”, diz o técnico.

O atleta desvenda um pouco mais. “Com a ajuda da nutricionista da Faculdade do Porto fomos optimizando a nossa dieta e conseguimos perceber como é que temos que aumentar ou diminuir a carga de comida. Não tenho nenhuma restrição, mas claro que com peso e medida e com a noção do que é o meu objectivo”, afirma o lutador. O importante é não perder o foco e ter consciência de “quanto é preciso perder ou ganhar, mas como de tudo”, pois tem mesmo que se ter o peso certo, nem mais nem menos 100g, senão corre-se o risco de ficar fora da competição. “O certo é que tenho sempre 58,0kg no dia da pesagem”, conclui o atleta entre risos. Texto editado por Jorge Miguel Matias

Atletas

Rui Bragança (estreia) -58kg

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