Religião e Futebol

Li uma notícia no jornal PÚBLICO em que a oposição em Gaia tomou uma posição sobre a ida do presidente de câmara para a Administração da SAD do Porto.

A reacção despropositada do seu presidente chamou-me atenção. É importante o respeito pela pluralidade com a afirmação de uma verdade.

Um presidente de câmara, que exerce um cargo público, tem que estar preparado para aceitar críticas e verificar a pertinência das mesmas.

Numa democracia deve fluir o livre intercâmbio de opiniões por muito antagónicas e irreconciliáveis que sejam. Todos nós sabemos quem se julga dono da verdade não está disposto a rebaixar-se para a discutir. Acaba-se por instituir no espaço público um confronto entre opiniões, a um nível censurável.

Um presidente de câmara pode pertencer à administração de um clube, mas eticamente é reprovável e, o bom senso, aconselha a não o fazer. Um presidente de câmara pode ter a sua preferência de clube de futebol, mas abster-se de participar em órgãos sociais do seu clube preferido, até, por respeito aos muitos cidadãos da sua cidade que se revêem noutro clube de futebol.

Mas há um argumento que me chamou à atenção. As páginas tantas, o presidente de câmara afirmou passo a citar: “espero que o PSD-Gaia continue a permitir ao presidente ir à missa sem ser acusado de beneficiar religiões ou ir ao futebol sem estes ataques puramente fanáticos.”

É completamente descabido misturar religião com futebol. Uma coisa é o futebol outra é Deus. É uma comparação desastrada que não lembra ao diabo.

É preciso mudar os modos de fazer política e deixar para trás a sub-política. Esta forma de actuar contra quem consideram perigosos para os seus desígnios: funcionários que não concordam com determinadas posições, cidadãos que expõem o seu ponto de vista nos jornais e denunciam situações anómalas, oposição que cumpre o seu dever, etc.. É lamentável!

Qualquer dia vai chegar o momento, que não se pode falar de nada e encaminhamo-nos para a acabar com a liberdade de expressão. Há um crescente número de indivíduos tão enamorados de si mesmos que dão por adquirido tudo que fazem, dizem e opinem é bom e está certo. Há indivíduos que o poder deslumbra-os e torna-os autistas, encerrados no seu mundo e conscientemente alheados da realidade.

Um presidente de uma câmara seja do PS ou do PSD, tem a obrigação de representar todos os cidadãos dessa cidade, um presidente que é adepto do Porto, deve respeitar todos os adeptos de outros clubes (Benfica, Sporting, Boavista, entre outros), residentes na sua cidade. Só tem que fazer uma coisa, não aceitar qualquer cargo no seu clube de futebol. Ponto final!

A política não pode ser sinónimo de egoísmo, cinismo, engano e despropósito.

Augusto Branco, poeta e escritor brasileiro diz a propósito: "as pessoas gostam do ideal de liberdade de expressão até o momento em que começam a ouvir aquilo que elas não gostariam que dissessem a respeito delas."

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