Racismo com casca

“Banana”, esclarece o primeiro dicionário consultado, é um “fruto estreito e alongado, de casca amarela não comestível e polpa esbranquiçada de sabor doce, produzido por uma planta originária das regiões tropicais”. Segue-se a frase: “Os macacos gostam muito de bananas.”

Durante o desafio de futebol Villarreal-Barcelona, um adepto atirou uma banana para o brasileiro Daniel Alves, numa atitude racista, não inédita, com a clara intenção de o insultar. O atleta apanhou-a, descascou-a e comeu-a. Foi elogiado por essas dentadas no racismo e logo surgiu nas redes sociais o movimento “somos todos macacos”, impulsionado pelo colega Neymar.

Segundo a Veja, não terá sido assim tão espontânea a génese desta investida contra o racismo. Em Março, depois de um adepto do Espanyol ter atirado também aquele “fruto bacáceo” visando os dois futebolistas, Neymar terá dito que, se tivesse visto a banana, a teria comido. A agência de publicidade Loducca, com que preparou entretanto parte da campanha #somostodosmacacos, aproveitou o gesto de “Dani” e lançou-a de imediato. Resultou.

Nelson Évora e Francis Obikwelu, por exemplo, denunciaram pouco depois o impedimento de entrarem em grupo numa discoteca de Lisboa por “serem demasiados pretos”, ter-lhes-á sido dito pelo porteiro. Branco, supõe-se..

“Banana” e “manguito” (“gesto obsceno realizado com a mão fechada e o braço dobrado”) são sinónimos. Noutros sentidos depreciativos, os dicionários registam “banana” como “homem que não tem vontade própria”, “molengão”, “da rês de chifres caídos”. Exemplo: “É um banana, fazem dele o que querem!”

E ainda “pateta”, “papalvo”, “pacóvio”, “palerma”, “cobarde”. Como os que atiram fruta para os relvados.

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