No PSV e no AZ Alkmaar, os videojogos fazem parte do treino

Jogadores das camadas jovens de dois clubes holandeses de futebol participam em experiência científica com jogos virtuais. E os primeiros resultados positivos já apareceram.

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fabio augusto

Além dos habituais treinos físicos praticados regularmente pelos futebolistas, os jogadores das camadas jovens do PSV, da primeira divisão da Holanda, são também submetidos a treinos de capacidade cognitiva para desenvolverem a mente e, como consequência, melhorar o seu futebol. E isso pode passar, num ambiente virtual, por desempenhar simples tarefas como fazer desaparecer balões ou extra-terrestres. Esta é uma prática que o clube tem vindo a desenvolver nos últimos anos, como deu a conhecer este domingo o The New York Times (NYT). O diário americano refere também um estudo, realizado no ano passado e com as conclusões publicadas há um mês, em que tanto o PSV como o AZ Alkmaar participaram para descobrir se a performance cognitiva dos seus jogadores sofriam alterações após o recurso a jogos de vídeo. 

Um dos cientistas de desporto do PSV, Jurrit Sanders, citado pelo NYT, refuta a ideia de que estes testes são apenas “jogos” e defende que é um campo ainda em aberto: “Sabemos muito sobre treino táctico, treino técnico, treino físico. Não sabemos muito sobre isto”.

O programa do PSV ainda está numa fase inicial, e de forma a desenvolver ainda mais a sua pesquisa, o clube holandês foi um dos que decidiu participar num estudo conduzido pela Universidade de Amesterdão, no ano passado. O financiamento à experiência foi fornecido no âmbito do programa da União Europeia de apoio à investigação, Horizonte 2020, e permitiu aos pesquisadores, chefiados pelo professor Geert Savelsbergh, criar o programa IntelliGym, que pode ser adaptado a várias modalidades, e não só ao futebol.

O estudo dividiu-se em duas formas e incidiu sobre quatros escalões do PSV e do AZ Alkmaar. Jogadores dos sub-14, sub-15, sub-16 e sub-17 foram divididos em dois grupos: metade treinou com recurso a vídeos de jogos reais para estudar situações típicas de jogo; a outra metade foi submetida ao programa IntelliGym, uma ferramenta online que faz uso da tecnologia para desenvolver as capacidades cognitivas. Ao longo de um período de 10 semanas, os participantes tiveram que fazer duas sessões de meia hora por semana. Para os resultados serem os mais exactos, todos tiveram que ver testadas as suas capacidades futebolísticas antes e depois do estudo. Os dados foram então avaliados através de um inovador sistema de notação desenvolvido pela Universidade de Amesterdão.

As conclusões foram esclarecedoras: os que foram submetidos ao IntelliGym melhoraram as suas capacidades com bola, sem bola e sem situações de transição, a um ritmo superior aos atletas que limitaram o seu treino intelectual ao visionamento dos vídeos.

O director executivo da IntelliGym, Danny Dankner, confessa que o programa inicialmente era dirigido aos pilotos de aviação. “Mas apercebi-me de que esta plataforma poderia ser usada em muitas outras coisas. Aparentemente há muitas semelhanças nas habilidades que são exigidas a futebolistas e a pilotos”, afirmou Dankner, citado pelo NYT.

Treinar com a cabeça para jogar com os pés

O IntelliGym assemelha-se a um jogo de arcada, mas como é que funciona? No caso do futebol, o jogador comanda uma frota de naves para derrotar um esquadrão inimigo. Mas as várias situações que vão acontecendo ao longo dos jogos é que podem ajudar os atletas a melhorarem determinadas capacidades no futebol, como a antecipação, memória, habilidade de dividir atenção e percepção espacial, disse Dankner.

“Uma frota pode tornar-se invisível, ou nuvens podem aparecer e esconder certas naves, ou ao jogador pode ser pedido para jogar pelo outro lado”, explicou Dankner. Com a ajuda da aplicação, os jogadores podem guardar o seu percurso ao longo dos vários treinos que vão fazendo.

Dankner, numa entrevista ao portal Horizon, revista de pesquisa e inovação da União Europeia, expõe uma situação em concreto de um jogo de futebol: “Imaginem um jogador a correr com a bola no campo, e existem outros jogadores, que podem ou não ser da sua equipa, que estão a correr atrás dele. (…) Depois de olhar rapidamente, precisas de processar no teu cérebro onde estão os outros jogadores e as suas trajectórias, mesmo se na altura não estiveres a vê-los”. Dankner chama a isto “visão panorâmica” e afirma que é uma capacidade que pode ser “treinada e adquirida”.

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Uma imagem do simulador com que os jovens jogadores treinam. The Football IntelliGym

Apesar de na visão de Jurrit Sanders os resultados do estudo conduzido pela Universidade de Amesterdão não serem conclusivos, o NYT, citando o fisiologista do PSV Luc van Agt, escreve que o bi-campeão holandês tem em curso uma “Fase Piloto 2”.

No AZ Alkmaar, o entusiasmo com a experiência é bem maior. Em declarações ao mesmo jornal, Marijn Beuker, chefe de performance e desenvolvimento do clube, que descreve o emblema como "a Apple do futebol", justifica que o combate entre as equipas com menos recursos financeiros e os “tubarões” milionários passa por aqui: “Não somos um clube que consegue comprar os melhores talentos, por isso temos que desenvolver os nossos, e para fazer isso tentamos ver que aspectos dos atletas é que podem ser melhorados”. De resto, a aposta do AZ Alkmaar, refere o NYT, tem valido já contactos com o Real Madrid e o Bayer Leverkusen.

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