Selecção numa prova de vida sem Cristiano

Portugal está a postos para o ensaio geral da estreia no Europeu. E para provar que não é em vão que aponta ao título, Fernando Santos insiste que nada será deixado ao acaso.

Foto
Fernando Santos em Oeiras, antes da partida para o Porto Patrícia de Melo Moreira/AFP

Para além do convite endereçado à selecção da Noruega – uma espécie de cobaia/clone do 4x4x2 dos islandeses que aguardam a equipa nacional a 14 de Junho , Portugal convocou também o deus dos trovões, que se prepara para enfrentar no seu próprio elemento, num voo directo ao mitológico reino do dragão. Ainda em Lisboa, a salvo do céu faiscante que se abateu sobre o Porto na manhã de ontem, Fernando Santos mostrou-se imperturbável e garantiu que já foi tempo de sentir arrepios em momentos como aquele em que Portugal vai mergulhar no próximo mês.

PÚBLICO -
Aumentar

A estreia numa fase final de um Europeu ao serviço de Portugal não podia, nesta medida, decorrer de forma mais informal, com a liberdade concedida aos jogadores a poder confundir-se com uma saudável responsabilização dos 23 convocados. Tanto no plano logístico quanto na retórica que domina o discurso colectivo, numa incursão ao título de campeão do velho continente. 

O trilho escolhido não traduz, ainda assim, a ideia de caminho totalmente desimpedido rumo à final, como o seleccionador faz questão de reclamar. “Quem pensa que nos espera um grupo fácil está enganado”, garante Fernando Santos, deixando pistas mais do que suficientes sobre as razões que presidiram a esta escolha como forma de testar a capacidade da selecção frente a uma Noruega que até fracassou, a dois tempos, na luta pela qualificação: primeiro ao ver-se superada por Itália e Croácia, no Grupo H, e depois ao revelar-se impotente para contrariar a Hungria, perdendo os dois duelos privados com o saudoso futebol magiar, que agora se redimensiona no horizonte de Portugal.

Para evitar surpresas desagradáveis frente à Islândia, Portugal conta com a lógica da implacabilidade nórdica, incapaz de distinguir entre o amigável ou o “a doer”. O modelo, salvaguardando as devidas diferenças, serve na perfeição para esta abordagem. Ciente do cenário meticulosamente preparado, Fernando Santos prepara-se para avançar com uma linha de bravos, imunes ao sentimento de orfandade a que estarão votados até ao regresso de Cristiano, no que será uma prova de vida e um acto de fé.

“Andamos sempre à volta do Cristiano”, admite o treinador na esperança de iludir a questão, voltando-se para o jogo no Estádio do Dragão e para o que espera poder extrair deste primeiro de três compromissos pré-Europeu. “Estamos preparados para todas as eventualidades e não foi por acaso que escolhemos a Noruega para um particular”, sustenta, apoiando-se no “estilo de jogo semelhante ao da Islândia”, que quer ver reflectido na seriedade e compromisso absolutos que exige de todos neste momento.

“Para mim não há jogos particulares ou oficiais: há jogos”, declara, antecipando uma espécie de tribunal marcial que não deixará impune a mínima transgressão. “Teremos um país inteiro a ver-nos e ninguém vai facilitar ou deixar de meter o pé”, adverte, só não apontando os nomes que alinhará de início por mera questão de ética para com os jogadores, a quem ainda não havia confirmado o “onze” que, desde logo, promete apresentar um figurino menos ortodoxo, com as duplas inéditas nos eixos da defesa (Carvalho/Fonte) e do ataque (Éder/Quaresma).

Uma revelação que fica reservada para mais tarde, mas que não colide com a garantia deixada pelo seleccionador: a de que todos desempenharão um papel fundamental no encontro com a Noruega, ao qual só faltarão mesmo Ronaldo, Pepe, Bruno Alves e Nani.

Sugerir correcção
Comentar