Com ou sem Quaresma, o Europeu começa hoje para Portugal

O avançado é a grande dúvida para o jogo de estreia com a Islândia, em Saint-Étienne, numa partida em que a selecção nacional joga em “casa”.

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A utilização de Quaresma no jogo de abertura da selecção é ainda uma incógnita FRANCISCO LEONG/AFP

Há quatro anos, Fernando Santos estreou-se numa fase final de um Europeu, organizado conjuntamente pela Polónia e Ucrânia, ao leme da Grécia. Na antecipação do encontro de abertura, frente aos polacos (1-1), o técnico avisou que não havia limites para a ambição da sua equipa no torneio. Acabou por cair nos quartos-de-final perante a Alemanha. Agora, aos comandos de Portugal, aponta, sem rodeios, o título como objectivo. Nesta terça-feira (20h), com a estreante Islândia, em Saint-Étienne, a selecção nacional procurará demonstrar que tem andamento para o sonho do seu treinador.

À partida, um Europeu disputado em França constitui uma enorme vantagem para a equipa portuguesa. Este é ainda o país do mundo com maior número emigrantes nacionais que, de acordo com números de 2011, estavam estimados em perto de 600 mil. Estão espalhados um pouco por todo o país e vão fazer a selecção sentir-se literalmente em casa. Estão a invadir Saint-Étienne, chegados de várias regiões do país e até de outras paragens europeias. O Estádio Geoffroy Guichard, com 41.500 lugares, será acanhado para os receber a todos e a grande maioria irá acotovelar-se para assistir ao encontro na fan zone instalada na cidade.

Os adeptos islandeses também por aqui andam, mas em número bem mais reduzido. No total, serão sete mil que vieram a França assistir ao feito histórico da sua selecção. São cerca de 2,1% do total da população do país (330 mil), segundo revelou ao PÚBLICO um dos 20 jornalistas islandeses que estão a acompanhar os “Strákarnir okkar” - ou “Nossos Rapazes”, na tradução em português -, como são carinhosamente apelidados no seu país.

Face a tamanha desproporção de números e perante os desconcertantes confrontos entre ingleses e russos, por um lado, e alemães e ucranianos, por outro, o repórter islandês arriscou timidamente uma pergunta, com um sorriso envergonhado: “Os adeptos portugueses costumam ser violentos?” A resposta negativa (ainda que com uma ressalva para a excepção clubística nacional) deixou-o mais descansado. “É que nós somos um povo muito pacífico e estamos a viver um sonho”, explicou.

Algo que o seleccionador islandês, Heimir Hallgrímsson (que faz dupla com o veterano sueco Lars Lagerbäck) confirmou pouco depois, na antevisão da partida desta noite: “Para a nossa população, estão aqui muitos adeptos islandeses e uma coisa posso garantir: tenho a certeza de que se vão portar lindamente.”

A questão Quaresma

Um estádio cheio e milhões a assistir pela televisão exige um bom espectáculo de futebol e para tal são necessários artistas. No caso de Portugal, um deles tem sido Ricardo Quaresma, que espalhou magia nos últimos jogos de preparação para o Euro. Mas ainda não é certo que o avançado dos turcos do Besiktas esteja no “onze” inicial ou venha sequer a jogar. E esta é a principal incerteza na selecção nacional para o encontro com a Islândia.

A braços com uma mialgia (uma dor muscular localizada, que pode potenciar uma lesão mais grave), o "mustang" tem feito terapia localizada para tentar recuperar a tempo do jogo. Fernando Santos anunciou nesta segunda-feira que ele irá estar nos 23 convocados para a partida, mas não garantiu a sua utilização. Tendo em conta a duração do torneio, o avançado poderá ser poupado para evitar males maiores posteriormente, frente a adversários de maior currículo.

Por outro lado, Quaresma seria uma peça fundamental na estratégia inicial que Fernando Santos montou para esta noite. O lisboeta foi utilizado como titular nas partidas de preparação com a Noruega (3-0) e Estónia (7-0), os adversários com um estilo de jogo mais idêntico à Islândia (mas já não entrou de início com a Inglaterra). Duas experiências bem sucedidas, em que apontou três golos e assistiu outros dos seus companheiros.

No particular com a Estónia, a dupla que fez com Cristiano Ronaldo na frente de ataque foi particularmente profícua. Algo que poderá ser reproduzido em Saint-Étienne. Mas, caso o jogador fique mesmo de fora para evitar qualquer risco de lesão mais complicada, será Nani a ocupar o seu lugar. O que já acontecia, de resto, antes desta explosão de qualidade de Quaresma desde que a selecção entrou em estágio.

Fernando Santos não desfez esta ou qualquer outra dúvida em relação ao “onze” de estreia no Euro, na conferência de imprensa, no estádio do Saint-Étienne, justificando que nem ele ainda tem como garantida a equipa que irá subir ao relvado: “Sei mais ou menos o ‘11’, mas ainda falta um treino, embora as dúvidas sejam já muito reduzidas”.

O seleccionador admitiu que o grupo está impaciente para entrar em acção, especialmente depois de terem estado a assistir às partidas das outras equipas no torneio. Mas, neste capítulo, ninguém baterá a Islândia em matéria de ansiedade. “Poderá haver quem vá pedir comprimidos para dormir esta noite”, admitiu Gylfi Sigurdsson, a maior estrela islandesa e um dos mais experientes da equipa em termos de alta competição.

“Este é o maior momento da história do futebol na Islândia”, sublinhou Heimir Hallgrímsson, procurando, ao mesmo tempo, acalmar as emoções dos seus compatriotas: “Os adeptos esperaram muito tempo por isto, mas não esqueçam que é apenas um jogo de futebol.”

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