Por que é que Portugal salta tão bem?

Portugal conquistou seis medalhas nos Europeus de trampolim deste ano. Nos Jogos, onde a exigência ainda é maior, o objectivo é fazer uma aproximação ao pódio. Na ginástica artística vai competir uma das revelações da comitiva nacional.

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Ana Rente de volta a uns Jogos Olímpicos BRIAN SNYDER/Reuters

Trampolim, duplo mini trampolim e tumbling são as especialidades da ginástica de trampolins. Portugal tem especial tradição no duplo-mini. É mais fácil de iniciar e de progredir do que o trampolim. Mas é este que acaba por ser a especialidade mais procurada no nosso país, e no mundo inteiro.

Em 2000 o trampolim tornou-se modalidade olímpica. Portugal só não participou nesse ano. Mas estreou-se em 2004 e a partir daí nunca mais deixou fugir as duas vagas que são atribuídas pela Federação Internacional de Ginástica nos Jogos Olímpicos a todos os países. 

Se houvesse lugar para mais, não seriam apenas dois participantes lusos entre os 16 que vão estar nos Jogos do Rio de Janeiro. Para além de Ana Rente e Diogo Abreu, também poderia ir Diogo Ganchinho. Mas o 4.º lugar de Abreu no Test Event superou o 5.º de Ganchinho e foi o ginasta do Sporting Clube de Portugal que garantiu a vaga masculina.

Aos 21 anos, Abreu estrear-se-á como atleta olímpico nos trampolins, uma especialidade de “muito perfeccionismo”, como descreve. “Temos que fazer acrobacias de elevada dificuldade no ar, muitas piruetas, muitos mortais e isso requer muitas horas de treino a repetir sempre a mesma coisa e inteligência espacial e técnica”, explica Abreu.

Nas anteriores edições olímpicas (2008 e 2012, Pequim e Londres, respectivamente) Portugal conseguiu ter sempre dois ginastas, que é o máximo permitido. Ana Rente e Diogo Ganchinho tornaram-se os primeiros ginastas a ter duas participações olímpicas consecutivas, ao competirem nestes dois Jogos.

Ambos afirmam que foi uma experiência inesquecível. Ganchinho consegue “fazer o paralelismo com a primeira participação no campeonato do mundo”, com nove anos, em que ficou deslumbrado com tudo o que via. O ginasta, na sua primeira participação, alcançou um 11.º lugar, em 16 participantes. Em Londres, quatro anos depois, ficou classificado em 15.º.

Já Ana Rente afirma que “era muito nova” na sua primeira representação olímpica em Pequim (2008) e estava a cumprir o sonho, por isso ficou “maravilhada com tudo o que estava a acontecer” e deixou “as emoções tomarem conta” de si. Ficou em 16.º. No entanto, em 2012, já não se sentia “verde”. “Tentei encarar como sendo um competição, não fiquei surpreendida com as milhares de pessoas a gritar e as coisas correram melhor.” Conquistou o 11.º posto.

Nuno Merino foi o primeiro ginasta português olímpico nos trampolins, em 2004, em Atenas, e o único a competir nesses Jogos. O ginasta conseguiu escrever o seu nome na história da modalidade. Não só foi o primeiro a representar Portugal, como conseguiu passar à final e ficar em 6.º lugar, deixando para trás 10 adversários.

O seleccionador nacional, Carlos Matias, concorda que, quer Ana Rente, quer Diogo Abreu poderão chegar à final. Mas lança um desafio maior: ficarem no "top-5". “O Diogo Abreu é um ginasta que está ao nível dos melhores do mundo”, diz. Na categoria feminina temos Ana, que “é uma ginasta de topo mundial”. Quando se fala num "top-5" quer dizer que “as medalhas andam ali à espreita e tudo pode acontecer”, afirma o seleccionador.

A receita para o sucesso

A partir do momento em que a modalidade se tornou olímpica começou a haver mais praticantes, com mais qualidade e com mais dedicação aos trampolins.

Por outro lado, em Portugal sempre se procurou evoluir com o conhecimento dos outros países através do contacto internacional. “Fomos vendo como é que os outros faziam e tentando aplicar em treino”, afirma Carlos Nobre, treinador de Ana Rente e Ganchinho no Lisboa Ginásio Clube.

 “É um trabalho muito grande dos clubes”, e os resultados dos ginastas são prova disso, diz José Carlos Manaças, coordenador das modalidades olímpicas da Federação. “Há talento dos ginastas e competência dos técnicos.”

José Carlos Manaças garante que em Portugal há excelentes ginastas e que tem havido longevidade desportiva, que é um factor muito positivo para os trampolins, uma vez que isso permite que outros olhem para a Ana e o Diogo e os vejam como heróis. “São referências. Quem não gosta de treinar com os melhores do mundo? Eles são os melhores do mundo.”

Ginástica artística com a revelação

Na ginástica artística, Portugal viu esfumar-se a possibilidade de repetir-se a presença de uma dupla. Em Londres 2012, Manuel Campos e Zoi Lima disputaram a competição individual masculina e feminina, respectivamente, mas no Rio de Janeiro será Filipa Martins a única representante nacional.

Gustavo Simões também estava apurado, mas sofreu uma fractura no pé esquerdo há poucas semanas e teve de renunciar. A portuense Filipa Martins é descrita pelo Comité Olímpico de Portugal como “uma das revelações do ciclo olímpico Rio 2016”, tendo em 2014 feito história ao tornar-se na primeira ginasta portuguesa a apurar-se para a final de all-around de um Campeonato do Mundo de ginástica artística.

Os ginastas que estão nos “programas de preparação olímpica têm um apoio do comité olímpico”, revela José Carlos Manaças. O que recebem do comité olímpico é uma bolsa para a sua preparação. A federação recebe uma verba mensal para a preparação desses ginastas, organizando estágios e idas a campeonatos internacionais e para pagar custos com a equipa técnica que trabalha com os ginastas, na preparação física, psicológica e nutrição.

Ganchinho concorda que este apoio “é tão importante como o treino no trampolim”. Mas lamenta, ainda, “que o mais difícil na modalidade são mesmo os apoios privados”.

O treinador de Ana, Carlos Nobre, acredita que se ela “fosse chinesa e treinasse oito ou nove horas por dia, era campeã olímpica”, devido às suas características. A China, assim como o Canadá e a Rússia são os “tubarões” da modalidade. E Portugal não consegue concorrer com eles porque treinam muitas horas por dia, não vão à escola, estão num centro de alto rendimento e são profissionais.

Mesmo assim, os resultados vão aparecendo. E é por isto que Carlos Matias vê a ginástica de trampolins como uma “modalidade para gente valorosa, com muita bravura”. E recorda que Ana “terminou o seu curso de medicina neste processo de alto rendimento, “que não é nada fácil”. Texto editado por Jorge Miguel Matias

Atletas

Ana Rente (3.ª participação) trampolins

Diogo Abreu (estreante) trampolins

Filipa Martins (estreante) ginástica artística

 

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