Poiares Maduro fora da FIFA: "Sofri mais pressões do que na política"

Português afastado do Comité de Governação da FIFA, numa decisão que está a levantar polémica. "A FIFA não está preparada para um escrutínio independente", diz ao PÚBLICO.

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Rui Gaudencio

O português Miguel Poiares Maduro foi afastado da presidência do Comité de Governação da FIFA, depois de o Conselho do organismo ter decidido mudar a liderança deste órgão de escrutínio independente, confirmou o PÚBLICO. De saída estão também os responsáveis pelas duas secções do Comité de Ética, figuras centrais da investigação ao caso de corrupção na FIFA: o alemão Hans Joachim Eckert (secção de julgamento) e o suíço Cornel Borbely (instrução) serão substituídos pelo grego Vassilios Skouris e pela colombiana Maria Claudia Rojas, respetivamente. Eckert e Borbely já emitiram um comunicado, afirmando que a não recondução no cargo tem motivações políticas e põe “um fim nos esforços de reforma” do organismo, que poderá mesmo pôr o seu futuro em causa.

Em declarações ao PÚBLICO, Poiares Maduro, ex-ministro do Governo de Passos Coelho, é duro na crítica ao principal organismo do futebol mundial: "A FIFA não está preparada para ter instrumentos de escrutínio independente", diz. "Durante este processo, sofri pressões mais fortes durante este processo do que na política ou no Tribunal Europeu de Justiça", acrescenta ainda, anotando pela positiva a atitude que sentiu do presidente da FPF, Fernando Gomes: "Se todos fossem como ele o futebol podia ser muito melhor".  

A polémica estourou de novo na organização depois de a FIFA ter anunciado mudanças em vários comités, destacando-se as mudanças na liderança das duas secções do Comité de Ética. Hoje mesmo, para o lugar do português, foi anunciado o nome do indiano Justice Mukul Mudgal como candidato ao cargo. O ex-ministro português tinha entrado para o cargo apenas há cerca de um ano, aquando da eleição do suíço Gianni Infantino para a presidência do organismo. Uma nomeação que tinha sido apresentada no contexto de moralização da FIFA, atingida em cheio na sua credibilidade pelos escândalos que levaram ao afastamento de Joseph Blatter. 

Durante este ano, Poiares Maduro esteve envolvido na exclusão do vice-primeiro-ministro da Rússia para um dos organismos da FIFA, assim como de um candidato do Qatar, por suspeitas de envolvimento em casos de corrupção desportiva. Foi também responsável pela pressão sobre um responsável do futebol do Koweit, envolvido nos casos que estão a ser investigados nos Estados Unidos, acabando este por sair do organismo pelo seu próprio pé.

Aquando da sua nomeação, o ex-ministro disse que assumiria uma função não executiva, mas com o papel de "aconselhar e supervisionar, como uma espécie de conselho de supervisão de empresa, por exemplo verificando checks & balances mas também dando aconselhamento estratégico". Ao DN, dizia que "a prioridade é o reforço de transparência".

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