Pizzi, um líder discreto

Seleccionador do Chile teve um percurso atribulado até à afirmação como treinador.

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LUSA/YURI KOCHETKOV

A carreira como avançado colocou-o no topo do futebol mundial. Vestiu a camisola de clubes prestigiados — Barcelona, Valência ou FC Porto —, foi internacional espanhol, apesar de ter nascido na cidade argentina de Santa Fé, e participou no Euro 96 e Mundial 98. Porém, como treinador, o percurso de Juan Antonio Pizzi tem sido turbulento. Após um início difícil na Argentina e no Peru, o seleccionador do adversário de Portugal nas meias-finais da Taça das Confederações chegou a interromper a carreira, mas nos momentos mais conturbados, “Macanudo”, alcunha dos tempos de Barcelona, tem feito do Chile um porto seguro.

Víctor Loyola teve uma carreira peculiar. Jogou sempre no Chile e, apesar de ser guarda-redes, chegou a ser utilizado como ponta-de-lança — marcou cinco golos. Com uma personalidade forte, Loyola cruzou-se com Pizzi no Santiago Morning, um clube da capital chilena. A equipa era modesta e Loyola era o habitual titular, mas a chegada de Pizzi trouxe mudanças na baliza do Santiago Morning para o Torneio Clausura de 2009. A opção provocou um choque entre treinador e jogador, mas definiu o perfil do técnico. “Não tem medo de nada. Decide sem pensar nas explicações que tem que dar. É por isso que os jogadores o respeitam. Não chega rápido aos futebolistas, mas acaba por ganhar o seu carinho. Foi o que aconteceu comigo. É o lado bom dele: dá oportunidade a todos sem olhar para nomes”, revelou Loyola à imprensa chilena antes do início da Taça das Confederações.

Mas Pizzi, que prima pela discrição e mede sempre de forma meticulosa as palavras que usa com a imprensa, começou pela porta pequena. Em 2005, aceitou repartir com Guillermo del Solar o comando do Colón, mas a liderança bicéfala do clube argentino durou pouco mais de um mês e extinguiu-se após três derrotas. A experiência deixou marcas e Pizzi pareceu perder o Norte. Tentou ser empresário e dirigente, mas em Abril de 2006 aceitou treinar o Universidad de San Martín. Seis meses depois, deixou o pequeno clube peruano sob um coro de críticas por se apresentar nas conferências de imprensa de calções e chinelos.

O segundo fracasso fez aumentar a frustração. Desiludido, o hispano-argentino concorreu à presidência do Rosario Central. Perdeu. Desacreditado, Pizzi parecia condenado ao insucesso, até que o seu caminho se cruzou com o de Jorge Quinteros. Antigo futebolista, este empresário acreditou no potencial de Pizzi e, fazendo-se valer dos seus contactos no Chile, arranjou colocação para o técnico no Santiago Morning. Foi o ponto de viragem para Pizzi. Os bons resultados começaram a surgir, os pretendentes também. Seguiram-se U. Católica, Rosario Central, San Lorenzo e Valência, mas o regresso, 20 anos depois, ao Mestalla, não foi feliz e Pizzi acabou despedido para dar o lugar a Nuno Espírito Santo.

Após novo contratempo na carreira, Pizzi encontrou refúgio no México (Club León), mas seria novamente o Chile o seu porto seguro. A 29 de Janeiro de 2016, aceitou o enorme desafio de assumir o comando da selecção chilena e, para já, “Macanudo” tem estado à altura do legado dos dois antecessores: Marcelo Bielsa e Jorge Sampaoli.    

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