Ou Conquistadores ou com quistos...

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Boas notícias: a Selecção Portuguesa de Futebol joga hoje em Manaus com 30 graus centígrados e 80% de humidade, num ambiente sufocante, de ar irrespirável que impede a oxigenação dos tecidos e do cérebro, isto é, o ideal para jogadores habituados ao asfixiante clima interno e aos miasmas desportivo-financeiros da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Só a vitória sobre os EUA interessa. Também por isso, os jogadores descansaram 24 horas depois de 2600 quilómetros e quatro horas de avião, saltando do clima ameno de Campinas para um inferno tropical com cinco horas de jet lag nas pernas suadas. O último treino antes da partida decisiva com os norte-americanos será em pântano com jacarés, para reviverem com saudade o futebol português de onde quase todos escaparam um dia.

O único pensamento dos que foram ao Brasil, e dos portugueses no mundo, é ganhar, ganhar, ganhar. Até porque pela primeira vez os presidentes, vices e directores decidiram ganhar o mesmo prémio dos jogadores em caso de vitória. Se estes não ganharem o que lhes compete, vai tudo acabar em cabeçadas à Pepe, à Cais do Sodré e agora à Campinas, revivendo-se tradições de outros Europeus e Mundiais, e sem árbitro alemão a meter-se.

Mais do que um Mata-Mata, exige-se um Esfola-Esfola.

A crise exige um esforço geral. Os números aí estão, esclarecedores, para desmentir que a exibição inaugural dos 4-0 contra a Alemanha tenha sido pouco produtiva. Estatísticas do jogo: em 90 minutos de (in)actividade, Portugal criou directamente milhares de cartoons nos jornais e na Internet só para zombar de Cristiano Ronaldo, mais centenas de milhares de artigos na imprensa, alguns deles de conversa de chacha, aliás um a mais ou a menos (como este) nem faz diferença. Outro empolgante recorde: em poucas horas, 50 milhões de comentários engraçadotes sobre a abada na Baía circularam no Facebook. Extraordinária produção industrial. Quem ficou desta vez em défice, não restam dúvidas, foi a Alemanha e a troika, que precisaram de um valente empurrão português para atingir objectivos considerados irrealistas.

Mais do que isso, no rescaldo do jogo e das lesões de Patrício, Coentrão e Hugo Almeida, a chanceler alemã ficou a conhecer o novo porta-voz do Governo para questões internacionais: o guarda-redes Beto. O Pepe só tem um jogo de suspensão? Pergunte ao Beto. Os subsídios de férias dos portugueses serão mesmo pagos na íntegra, deve o FMI entrar em campo? O Beto é que sabe.

A História regressa sempre quando a personagem é maior do que a sua própria biografia, como é o caso da selecção nacional.

Mundial de 1966, Inglaterra, 3.º lugar dos “magriços” e do Pantera Negra. Com Eusébio a mostrar como se joga à bola e se marcam golos e, já agora, é bom admitir, com um Morais a mostrar a Pelé, ainda na fase de grupos, com entrada curiosa por trás, como é que se volta ao pé-coxinho para o Brasil.

A “tragédia de Saltilho” (México 1986). Jogadores em chanatos e camisolas interiores de alças, também conhecidas como “fiambres”, dando conferências de imprensa sobre a greve, atrás de barbas e bigodes que só décadas depois regressam à estética dos campos.

Euro 2000, com Sérgio Conceição, sozinho, a enfiar 3-0 à Alemanha, dando o mote para a inesquecível meia-final contra a França em que Abel Xavier, Nuno Gomes e Paulo Bento deram com “tranquilidade” calduços no fiscal-de-linha que assinalou o penálti. Zidane a acertar na bola da vitória e Figo a falhar a perna de outro árbitro que lá andava.

Europeu de 2004, em Portugal, e com 2.º lugar para Portugal. Scolari “O burro sou eu?” na primeira aproximação aos negócios com a China, nação que forneceu bandeirinhas portuguesas com pagodes chineses dourados e dez anos depois foi paga em visas-gold dados de bandeira.

Ano de 2010, Mundial da África do Sul e do “perguntem ao Carlos Queirós!”, de Ronaldo. Portugal foi eliminado pela Espanha.

Depois, Europeu de 2012. Na meia-final, Portugal é de novo eliminado pela Espanha, mas nos penáltis. Diz-se ainda hoje que foi a única equipa em todo o torneio que deu réplica aos espanhóis, que nunca perderam em toda a competição. Espera-se, em Manaus, em 2014, que Portugal não seja equipa que consegue dar réplica aos espanhóis, não ganhando nem sequer empatando os dois primeiros jogos, vindo mais cedo para a Ibéria engolir gaspacho e pastéis de bacalhau.

A Selecção Portuguesa de Futebol nasceu oficialmente a 18 de Dezembro de 1921. Jogo contra a Espanha. Perdemos 3-1, já agora.

Amigos, é a vida.

A propósito, segundo um estudo do Centro de Estudos Sociais, ao fim de um ano de trabalho, com o novo Código do Trabalho de 2012, um trabalhador português perde em média cerca de 400 euros, a favor do seu empregador.

Ronaldo admite que não sabe quanto ganha e a Miss Bumbum não o larga.

Os americanos estão habituados a estas tácticas de surpresa, muito cuidado.     

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