Os escoceses invadiram o Jamor para festejarem uma vitória com 50 anos

Há 50 anos, os Celtic de Glasgow fizeram história ao conquistar o primeiro título europeu de uma equipa do Reino Unido. Esta quinta-feira, regressaram ao Jamor para o recordar.

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O título deste artigo podia ser “hail, hail! the celts were here” (numa tradução muito livre: “Salve! Salve! Os celtas estiveram cá”). A sugestão chega de Denny Campbell, um adepto do Celtic Football Club de Glasgow, que encontrámos numa esplanada de um irish pub, no Cais do Sodré, em Lisboa, a aproveitar o sol que brilhou na capital portuguesa nesta quinta-feira. O grito não podia ser mais verdadeiro, não estivesse Lisboa, e arredores, invadida por uma mancha verde de adeptos do clube escocês. Quantos são? “Milhares e milhares”, respondem Denny e mais sete amigos, todos eles equipados a rigor com o equipamento do clube. Gritam para uma mesa ao fundo, onde mais adeptos matam a sede com cerveja irlandesa.

O dia é de festa. O clube escocês cujo emblema envergam fazia história há 50 anos. A 25 de Maio de 1967 os Celtic tornaram-se o primeiro clube do Reino Unido a conquistar Taça dos Clubes Campeões Europeus (actual Liga dos Campeões). E fizeram-no no Estádio do Jamor, onde derrotaram o Inter de Milão por 2-1, com golos de Gemmell e Chalmers. Assim nasciam os que – cinco décadas depois – são recordados como os Lisbon Lions (Os Leões de Lisboa). Até à data, mantêm-se como o único clube escocês a ter chegado à final daquela prova.

O número não é conhecido, mas são certamente centenas os adeptos que encontrámos no Estádio do Jamor. É já no final das celebrações que conhecemos Gerry e Dorothy Mckendrick. O casal está pela primeira vez em Portugal. O 50.º aniversário da vitória escocesa coincide com o 60.º aniversário de Gerry. “Decidi que este ano tinha mesmo de celebrar”, explica, enquanto desce o parque do Jamor, em busca de sombra. À data do jogo tinha dez anos, mas recorda-se de o ver, em directo.

“Na altura era muito novo e a mãe não me deixava vir a Portugal nem sequer tínhamos dinheiro para o bilhete de avião”, continua. Este ano, não conseguiu resistir à celebração em Portugal, no relvado onde se imortalizou o clube. Uma espécie de “prenda de aniversário atrasada”, confessa bem-disposto. Desde 1967 até então já viu o jogo “pelo menos umas 20 vezes”, confessa entre sorrisos. A emoção é a mesma, garante, enquanto ao lado, Dorothy confirma com um aceno.

“Foi uma conquista muito importante”, sustenta. “Nenhuma equipa do Reino Unido tinha vencido a Taça dos Clubes Campeões Europeus”, insiste Gerry, sublinhando a dimensão do feito do clube da sua terra natal. Além disso, acrescenta, os 11 jogadores que defenderam as cores do Celtic a 25 de Maio de 1967 eram todos naturais de Glasgow. “Dois dos jogadores eram da minha escola”, vinca, vaidoso. Uma particularidade que hoje em dia é extremamente difícil de encontrar, destaca.

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O casal Mckendrick Leonor Matos

“Actualmente, as equipas nem sequer têm 11 jogadores do mesmo país nem sequer de um só continente”, nota, sublinhando que no Celtic os jogadores eram todos de classe média e que o clube sempre teve uma preocupação muito humanitária, próxima de acções de solidariedade Hoje, mantém-se um adepto atento e nem o facto de actualmente viver em Dublin, na Irlanda, faz com que deixe de acompanhar a equipa.

Sem esconder a emoção que sentiu, Gerry repete que é um dia especial. “Foi um dia de emoções. Estou muito orgulhoso. Chorei um bocadinho dentro do estádio nas celebrações do 50.º aniversário do jogo histórico. Sempre tive o sonho de vir ao Estádio do Jamor”, admite. Na lista, fica a visita ao estádio do Benfica. “Eusébio!”, repete entre sorrisos.

E é também por solidariedade que veste a camisola do 50.º aniversário que traz. “A camisola custou 25 euros, dos quais 20 irão para instituições de caridade”, sublinha. A solidariedade não se ficou pelas camisolas. O clube e adeptos multiplicaram-se com iniciativas para recolher fundos para ajudar instituições.

Foram necessários 14 dias para 30 ciclistas cumprirem os cerca de 2000 quilómetros que separam  Glasgow de Lisboa. A viagem colheu frutos: 46 mil euros, para sermos específicos, conta o clube no seu site oficial. Ao propósito de assinalar os 50 anos da vitória do Celtic na Liga dos Campeões sobrepôs-se um propósito maior: o de ajudar. Esse é a base da criação do clube de Glasgow, hoje com uma história de 128 anos.

“O Celtic é uma forma de estar na vida e essa forma de estar passa por ajudar os outros”, explica Kevin McCafferty, um dos escoceses que está a passar uma semana de férias em Portugal. Kevin tem 50 anos. Nasceu no ano em que o Celtic venceu o título. Quem lhe incutiu o gosto pelo futebol foi o pai. “Vai passando de geração em geração”, diz. Sentado ao seu lado, Jim, o irmão mais velho, concorda. Tinha sete anos quando viu o jogo e ainda hoje se lembra da derrota da equipa italiana.

Neste grupo, as idades rondam os 50/60 anos. O número de anos suficientes para já terem visto o jogo “centenas de vezes”, garantem. Ir a Lisboa era, por isso, praticamente uma “imposição”. “É conhecer um lugar sagrado”, sublinha Jim McCafferty. A festa, que em Glasgow foi assinalada com um concerto de Rod Stewart, cantor britânico de ascendência escocesa que pode ser encontrado – dizem os adeptos – muitas vezes nas bancadas do estádio do Celtic. Já em Lisboa, os festejos seguiram para a rua cor-de-rosa, que ficou assim, por uma noite, pintada de verde.

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