O videoárbitro não acabou com as discussões

O primeiro teste da tecnologia em grandes competições de selecções mostrou que o sistema precisa de ser aperfeiçoado.

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Mirolad Mazic a ver repetições da cotovelada de Jara a Werner EPA/GEORGI LICOVSKI

A Alemanha já ganhava por 1-0, o Chile fazia tudo o que podia para nivelar o resultado quando, já com a segunda parte bem adiantada (63’), uma disputa de bola na linha lateral entre Gonzalo Jara e Timo Werner acaba com o avançado alemão do RB Leipzig no chão a queixar-se de uma agressão. O incidente não é logo detectado pelo árbitro Milorad Mazic, mas o sérvio recebe uma comunicação do videoárbitro (VAR) e vai rever o lance. As repetições mostram uma cotovelada de Jara a Werner que mereceria vermelho directo, mas, como a decisão final era dele, Mazic optou por mostrar um amarelo ao chileno. E os críticos da utilização do VAR ganharam mais um argumento.

A Taça das Confederações, que terminou no domingo com mais um título para a Alemanha, foi a primeira grande exibição da nova tecnologia num torneio de selecções. E se houve casos em que se decidiu correctamente com a intervenção do VAR, como o golo bem anulado a Pepe no Portugal-México da fase de grupos (estava fora-de-jogo) ou o golo anulado a Vargas no Chile-Camarões, houve outras situações em que não foram anuladas decisões erradas. A agressão de Jara na final foi uma delas, mas, também, um penálti que ficou por marcar num lance de José Fonte sobre Francisco Silva na área portuguesa no Portugal-Chile — se houve alguma aviso do VAR, o árbitro de campo ignorou.

A decisão de Mazic na final até acaba por ser fora do campo de aplicação do VAR, que não deve ser utilizado para esclarecer lances de cartão amarelo. Ou seja, isto indicia que o VAR entendeu que a agressão de Jara era merecedora de cartão vermelho, mas o árbitro de campo teve uma opinião diferente após ele próprio rever o lance num monitor junto à linha lateral. Para além de algumas decisões erradas, este primeiro ensaio do VAR mostrou que as interrupções de jogo podem prolongar-se por vários minutos, indiciando que há ainda alguns problemas na comunicação entre os árbitros de campo e os que estão em frente aos monitores.

“O que raio se está a passar com o VAR? É uma confusão. Há um protocolo definido, mas os árbitros não estão a cumpri-lo”, exclamava Mark Halsey, antigo árbitro inglês, no Twitter. Quem também não se mostra convencido é Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, considerando que esta tecnologia, que vai ser utilizada na Liga portuguesa a partir de 2017-18, precisa de mais testes. “Não a rejeitamos, mas a UEFA não tem planos de implementar o videoárbitro. Precisa de muitos testes para me convencer”, refere o esloveno.

Antes da final, para a qual o português Artur Soares Dias era um dos três VAR nomeados, Gianni Infantino, presidente da FIFA, considerou que o uso da tecnologia na Rússia foi um sucesso. “Sem o VAR, teríamos tido um torneio diferente e teria sido menos justo. Esses grandes erros não vão voltar a acontecer. A decisão será sempre do árbitro e vai sempre haver discussões, mas os grandes erros vão ser corrigidos”, referiu o líder da FIFA, acrescentando que não há motivos para se retirar o uso da tecnologia no Mundial de 2018.

Num balanço parcial, apenas no que diz respeito aos jogos da fase de grupos, Massimo Busacca, chefe do Comité de Arbitragem da FIFA, referiu que o VAR foi utilizado 35 vezes em 12 jogos, e, destas, seis foram decisões que “mudaram o curso do jogo”. O antigo árbitro suíço admite que há coisas a melhorar, mas está seguro da utilidade do VAR: “Se usado correctamente, pode diminuir os erros. Não eliminar totalmente. Reduzir.”     

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