O ténis deixou de ser a prioridade e Djokovic sofre as consequências

O sérvio falhou a meia-final de Roland Garros pela primeira vez desde 2010.

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Djokovic desalentado em Roland Garros LUSA/TATYANA ZENKOVICH

“Não encontrei os recursos mentais para recuperar no encontro”. “Nunca passei por isto na minha carreira”. São frases que, há um ano, dificilmente sairiam da boca de Novak Djokovic. Mas 12 meses após a conquista do título em Roland Garros, o mais desejado pelo sérvio que já havia triunfado nos outros três torneios do Grand Slam, este é outro Djokovic: o que procura reencontrar a ambição e o ténis que o levou a dominar o circuito profissional, sem fazer disso uma obsessão.

“O ténis deixou de ser a minha máxima prioridade. Tenho um filho, uma mulher, uma família e sinto-me muito feliz por ser pai. Jogo com a mesma paixão e continuarei a jogar a pensar em voltar a ser o número um, só que não é a minha máxima prioridade”, justificou há uns meses o campeão de 12 títulos do Grand Slam, com os quatro últimos conquistados consecutivamente, entre Wimbledon de 2015 e Roland Garros, em Junho de 2016. Depois, sentiu-se “vazio”. O solitário triunfo em Agosto, no Masters 1000 do Canadá, não o impediu de perder o primeiro lugar do ranking para Andy Murray que, sintomaticamente, o derrotou no último encontro oficial da época, na final da ATP Finals.

Djokovic sentiu a necessidade de mudar. A influência de Pepe Imaz, um antigo tenista agora adepto da filosofia de vida “paz e amor”, parecia crescer, mas o sérvio mantém-no por perto como amigo e guia espiritual. Entrou o ano com um título em Doha (Fevereiro), em cuja final venceu Murray. Mas após um Open da Austrália para esquecer (derrota na segunda ronda com Denis Istomin, 117.º do ranking), a primeira decisão desportiva foi a de terminar a relação com a equipa técnica, em especial com Marin Vajda, que o acompanhava desde os 19 anos – Boris Becker já tinha deixado de o aconselhar no final de 2016.

Foi sem treinador que Djokovic encetou a época de terra batida, realizada em crescendo: quartos-de-final em Monte Carlo, meias-finais em Madrid e final em Roma, mas sem troféus. E recorreu a Andre Agassi, ex-número um do ranking mundial, vencedor de oito torneios do Grand Slam (cinco dos quais depois de completar 29 anos) – sendo o último dos quatro majors a ser conquistado o de Roland Garros, em 1999 – e que também viveu uma carreira com altos e baixos e “compreende os períodos de transição de um jogador de ténis e de uma pessoa, as escolhas que se fazem e como elas nos afectam mais tarde”, justificou então. A tarefa de Agassi não é a de mudar o seu estilo de jogo, mas o estado de espírito e a forma como Djokovic aborda os encontros.

Mesmo ganhando as primeiras rondas em três sets (frente a Marcel Garanollers, João Sousa) Djokovic não conseguiu disfarçar nos courts de terra batida parisienses a irregularidade actual, que veio ao de cima diante de Diego Schwartzman (41.º). Djokovic venceu em cinco sets graças à melhor condição física, o mesmo acontecendo nos oitavos-de-final, diante de um Albert Ramos Vinolas (20.º), que só teve energias para o set inicial.

Só que diante de Dominic Thiem (7.º), o sérvio não conseguiu igualar a maior eficácia e desejo do austríaco. E saiu de Roland Garros vergado pelos parciais de 7-6 (7/5), 6-3 e 6-0. “É difícil de explicar o terceiro set, nada funcionou bem. Tudo se jogou no primeiro set. E o break no segundo foi também muito importante. Mas hoje ele foi o melhor no court”, reconheceu Djokovic, que recusou justificar a derrota com a ausência de Agassi, regressado aos EUA devido a compromissos anteriormente assumidos. “A sua influência sobre o meu jogo virá com o tempo. Ele não tem nada a ver com este terceiro set, não o metam nisto, é unicamente culpa minha”, frisou.

Djokovic admitiu ainda os problemas emocionais por que passou, após a vitória aqui, em 2016: “Foi uma grande emoção, uma realização total. Vivi nessa onda de entusiasmo até ao Open dos EUA, Aí, estava emocionalmente vazio e vi-me numa situação que nunca tinha vivido na minha carreira profissional.”

Djokovic despediu-se de Paris com a convicção de que vai voltar ao topo. Até lá, saber-se-á quem irá suceder-lhe no palmarés de Roland Garros.

Autor de 38 winners, Thiem vai repetir a presença nas meias-finais do ano passado, onde vai encontrar Rafael Nadal, que teve pouco trabalho para ganhar o seu encontro. A vencer 6-2, 2-0, o espanhol viu o compatriota Pablo Carreño Busta desistir, lesionado.

Na outra meia-final, Andy Murray, finalista no ano passado, vai defrontar Stan Wawrinka, campeão em 2015. O líder do ranking soube ultrapassar Kei Nishikori (9.º) após ganhar o estratégico tie-break do terceiro set, para fechar com os parciais de 2-6, 6-1, 7-6 (7/0) e 6-1. Wawrinka (3.º) confirmou o favoritismo diante de Marin Cilic (8.º) – a quem tinha ganho os sete duelos anteriores e todos os cinco disputados em terra batida – vencendo o croata, por 6-3, 6-3 e 6-1.

Nos quartos femininos, Simona Halep (4.ª) foi a mais forte no intenso duelo de duas horas com Elina Svitolina (6.ª), que serviu a 6-3, 5-1. Mas a romena, finalista em 2014, mostrou a sua força mental e virou o encontro, que ganhou, por 3-6, 7-6 (8/6) e 6-0.

Na meia-final, Halep vai encontrar Karolina Pliskova (2.ª), que dominou a francesa Caroline Garcia (27.ª), por 7-6 (7/3), 6-4.

 

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