V. Setúbal, a equipa que mais pontos tirou ao Benfica

Sadinos empataram na Luz e, no Bonfim, derrotaram o campeão. “Mérito é dos jogadores”, diz o treinador José Couceiro, reconhecendo que a sorte também é um factor “decisivo”

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Momento de um dos jogos entre o V. Setúbal e o Benfica LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Foram seis as equipas que conseguiram tirar pontos ao Benfica no campeonato (Vitória de Setúbal, FC Porto, Marítimo, Boavista e Paços de Ferreira) mas apenas duas delas ficaram invictas nos dois confrontos directos com os “encarnados”. O “clássico” com o FC Porto saldou-se por dois empates a 1-1, mas os “dragões” não foram o adversário que mais dificuldades criou à equipa de Rui Vitória – esse título cabe ao Vitória de Setúbal, que foi empatar à Luz, na segunda jornada (1-1, após ter estado em vantagem no marcador) e venceu no Bonfim, no final de Janeiro, graças a um golo de Zé Manuel.

O triunfo no Bonfim, na segunda volta (1-0), foi o primeiro da carreira de Couceiro sobre os “encarnados”. E juntou-se a um empate obtido em pleno Estádio da Luz (1-1), logo na segunda jornada do campeonato. “E estivemos a ganhar, eles depois empataram de penálti”, notou o técnico de 54 anos. O bom desempenho nas duas partidas contra o Benfica resume-se a três factores “decisivos”, sublinhou, em conversa com o PÚBLICO, o treinador do V. Setúbal, José Couceiro: “O primeiro é a qualidade dos jogadores – são eles que jogam e têm mérito. Depois há a estratégia adoptada, que é ou não cumprida pelos jogadores. E há um terceiro aspecto, tão fundamental quanto os outros dois, que é ter a sorte do jogo nos momentos cruciais”. Aí reside a diferença entre “a bola bater no poste e ir para o lado de fora e não para o lado de dentro”.

“Apesar de jogarmos no mesmo campeonato, há uma desproporção de meios. Não adianta dizer que se pensou como anular isto ou aquilo. Pensamos numa estratégia, que é limitar o espaço interior ao Benfica. Mas por fora o Benfica também é muito forte. Optamos sempre por retirar capacidade aos pontos mais fortes da equipa adversária, independentemente de qual for. Mas estas equipas praticamente não têm pontos fracos, têm pontos menos fortes”, apontou José Couceiro.

A preparação para os desafios contra o Benfica foi igual à dos outros. “Não tivemos nenhum cuidado extra ou diferente dos outros jogos. Os jogadores estão motivados, porque o adversário ajuda a essa motivação. Todos os jogadores têm acesso a informação do adversário, sob aspecto colectivo, defensivo e ofensivo. Transições, sistemas tácticos, livres directos e indirectos, pontapés de canto e lançamentos laterais. Quanto mais informação tiverem, melhor. Mas fazemos isso para todos os adversários”, explicou o treinador.

As circunstâncias da partida também podem ter influência, acrescentou Couceiro: “Se o adversário estiver muito confiante, como está ultimamente o Benfica, torna-se tudo mais complicado. Ao longo da época as equipas vão tendo estados anímicos diferentes. Quando jogámos em Setúbal, o Benfica vinha de uma derrota [na meia-final da Taça da Liga]. Para uma equipa ‘grande’, perder significa querer jogar o mais rapidamente possível para apagar esse resultado. Estávamos à espera de um Benfica que nos fosse amassar, sufocar”. Com isso em mente, recordou o técnico, os sadinos tentaram “jogar o mais alto possível”. “Acabámos por fazer o golo. Isso foi estratégico, mas o maior mérito é dos jogadores. São eles que interpretam o que lhes é pedido, e se não forem eles... isto não é um jogo de computador. Os treinadores não ganham se os jogadores não tiverem qualidade”, sublinhou.

“Tentámos sempre que a defesa não baixasse muito. Jogámos com bloco médio, para estarmos mais próximos da baliza do Benfica. Mas é muito difícil, pela intensidade que o Benfica imprime ao jogo. As coisas acabaram por correr bem. A sorte do jogou correu-nos de feição. Esse é o aliciante do futebol, há muitos factores aleatórios que não conseguimos controlar. Tentamos minimizar, controlar ao máximo. Felizmente caiu para o nosso lado, mas o normal é não cair para o nosso lado”, reconheceu José Couceiro.

Para além dos aspectos tácticos, há cuidados que o técnico pede aos seus jogadores: “Têm de perceber que não é um momento individual, é colectivo. E só colectivamente podemos ter a possibilidade de ter sucesso. Os jogadores estão motivados, é completamente diferente entrar no Estádio da Luz, com 56 ou 57 mil adeptos nas bancadas. No jogo da segunda jornada houve dois jogadores [Bruno Varela e João Amaral] que se estrearam na I Liga. E existe a pressão: o ambiente do Estádio da Luz, para quem não está habituado, intimida.”

Mas essa não foi uma estreia nos duelos com o Benfica: na pré-temporada as duas equipas já se tinham defrontado na Algarve Cup (0-0) e os sadinos também tinham defrontado a equipa B dos “encarnados” (triunfo por 4-1). “Defrontar o Benfica no início da época foi um risco muito grande. Aceitei fazer o jogo mas pensei que pudéssemos ter um resultado negativo. O V. Setúbal tinha acabado a época anterior a decidir a permanência no último jogo, portanto era importante ganharmos confiança nos jogos particulares. Mas as coisas acabaram por correr bem”, resumiu o técnico, apontando, em jeito de brincadeira, que nem o Benfica de Castelo Branco, na Taça de Portugal, conseguiu vencer a sua equipa.

A temporada que está prestes a terminar foi histórica para o emblema sadino, que não perdeu nenhum dos quatro duelos com os dois primeiros classificados (um triunfo e um empate com o Benfica, dois empates com o FC Porto). “O que aconteceu ao Vitória de Setúbal é especial. Salvo erro, é a primeira vez que não perde com os dois primeiros. É um ano de excepção. Estes resultados transmitem confiança ao grupo. Se conseguem fazer bons resultados com equipas desta dimensão, acreditam que conseguem continuar a obter bons resultados. E ajudou a conseguirmos antecipadamente o principal objectivo da temporada, que era a manutenção na I Liga”, concluiu José Couceiro.

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