“O meu nome é Frederico Morais e vão ouvir falar muito de mim”

Jovem de Cascais perdeu a final frente ao brasileiro Filipe Toledo, na África do Sul, mas fez história no surf português no circuito mundial com um inédito segundo lugar.

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Frederico Morais DR
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No final dos anos de 1990, chegou à redacção da revista SurfPortugal um envelope com uma fotografia de uma criança franzina, acompanhada com uma pequena mensagem: “Olá. Meu nome é Frederico Morais, tenho sete anos e ainda vão ouvir falar muito de mim.” Assim foi. Passaram 18 anos e o nome deste jovem tornou-se numa referência do surf nacional e internacional. Esta quinta-feira fez história ao ser o primeiro português a classificar-se para uma final do circuito mundial e logo no ano de estreia na divisão de elite mundial. Não venceu, mas o feito levou-o a subir ao 12.º lugar do ranking, cada vez mais perto de garantir a manutenção entre os grandes.

"Esta foi a minha primeira final de sempre no 'world tour', até porque é o meu primeiro ano. É fantástico. Estou a sentir muitas coisas, estou sem palavras. Poder surfar contra o John John [Florence], o Mick [Fanning], o Adriano [de Souza], o Filipe [Toledo] ou o [Gabriel] Medina, foi uma grande semana", disse 'Kikas', como é conhecido entre os fãs, na cerimónia do pódio do Corona Open J-Bay, na África do Sul, sexta prova do circuito.

Para alcançar esta final inédita, Morais, sobrinho de Tomaz Morais, ex-seleccionador de râguebi, ultrapassou, nos quartos-de-final, John John Florence, actual detentor do título mundial; derrotando o brasileiro Gabriel Medina (9.º no ranking), nas meias-finais. Mas acabou por não ultrapassar o também brasileiro Filipe Toledo (7.º), registando um total de 17.73 contra os 18.00 alcançados pelo seu adversário.

"É sempre um grande desafio e tens sempre de elevar o teu surf quando defrontas estes rapazes. São os melhores surfistas do mundo, são espectaculares, são campeões mundiais e, se quiseres derrotá-los, não podes hesitar, tens de estar preparado para tudo e elevar-te”, sintetizou.

Morais qualificou-se para o campeonato de elite (Championship Tour: CT), depois de ter chegado ao terceiro lugar do ranking da World Qualifying Series. Ainda em termos internacionais, saiu definitivamente do anonimato em 2013, ao afastar Kelly Slater do CT de Peniche, a mesma prova onde, no ano passado, atingiu os quartos-de-final, após eliminar os campeões mundiais Mick Fanning, Joel Parkinson e Adriano de Souza. Em termos nacionais, “Kikas” destacou-se nas camadas jovens, tendo sido bicampeão nacional de sub-12, pentacampeão de sub-14 e bicampeão de sub-16, antes de conquistar três campeonatos de sub-21. Venceu ainda o circuito nacional em 2013 e 2015.

Este segundo lugar na World Surf League (WSL) dá a Portugal o melhor resultado de sempre, depois das meias-finais alcançadas por Vasco Ribeiro (2015) e Tiago Pires (2008, 2009 e 2011), o mais bem-sucedido surfista português de sempre, que passou sete anos entre a elite mundial. Tiago “Saca” Pires é precisamente um dos grandes ídolos de Morais e já por várias vezes apontou este jovem de Cascais como um dos seus sucessores. O seu legado parece estar assegurado.

É esta a expectativa de Francisco Spínola, representante de Portugal na WSL. “É um resultado extraordinário ao alcance de muito poucos. O Frederico mostrou definitivamente que pertence a este circuito. Não apenas por ter eliminado múltiplos campeões mundiais e ter conseguido um inédito segundo lugar, mas pelas pontuações que fez ao longo do evento, tendo conseguido um combinado de 19,77, que foi o segundo mais alto de todo o evento”, explicou, em declarações à Agência Lusa.

Frederico Morais, que é actualmente o segundo melhor estreante do ano no circuito mundial, atrás do australiano Connor O'Leary (10.º), que eliminou na terceira ronda na África do Sul, regressa agora à competição na etapa taitiana, entre 11 e 22 de Agosto, em Teahupo’o. Está ainda prevista a sua presença no Cascais Billabong Pro, do circuito de qualificação, entre 26 de Setembro e 5 de Outubro, antes do MEO Rip Curl Pro Portugal, em Peniche, entre 20 e 31 de Outubro.

“Se as expectativas já eram altas para as provas portuguesas da WSL de Cascais e Peniche, mais altas estão agora e é natural que o público compareça em massa para apoiar este incrível atleta”, antecipou Spínola.

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