Seria uma cereja escocesa no topo de um bolo já bastante recheado. Andy Murray, o n.º 1 do ténis mundial, teve uma proposta para jogar o Estoril Open 2017, mas o torneio de Barcelona corre-lhe bem (está nas meias-finais) e as negociações (e o vídeo que a organização fez para o convencer) ficaram sem efeito. Mas as más notícias não ficaram por aqui, pois nos dois últimos dias antes do seu arranque (começa neste sábado com o qualifying e termina a 7 de Maio), o único torneio ATP em Portugal perdeu os seus dois tenistas mais cotados. Primeiro foi o espanhol Albert Ramos-Viñolas (19.º) a desistir, seguindo-se o abandono do australiano Nick Kyrgios (n.º 16) motivado pela morte do avô.

Pelo segundo ano consecutivo, o Estoril Open perde a sua principal figura a um dia do seu início — em 2016 tinha tudo certo com Jo-Wilfried Tsonga, na altura n.º 7, mas o francês desistiu por motivos físicos — e, no terceiro ano da sua nova encarnação, volta a não ter um jogador do “top-10” no quadro principal.

Sem Kyrgios (finalista em 2015) e Ramos, será outro espanhol, Pablo Carreño Busta (n.º 20 e finalista em 2016), e o francês Richard Gasquet (n.º 22 e vencedor em 2015) a preencherem os dois lugares de topo num torneio que, ainda assim, mantém um quadro de bom nível e com muitos portugueses, mas sem o apelo de um jogador tão mediático e considerado um potencial vencedor de Grand Slam como Kyrgios, que até esteve em Portugal nos dois últimos anos.

Mesmo não sendo o mais cotado no torneio, o argentino Juan Martin del Potro assume-se como o cabeça-de-cartaz do Estoril Open e por quem a organização fez um considerável esforço financeiro após seis meses de negociações, como admitiu João Zilhão, director do torneio, em entrevista ao PÚBLICO. “É um jogador muito valioso, que tem muito carisma, o público adora-o, já ganhou um Grand Slam [US Open 2005] e já foi n.º 4”, afirmou Zilhão sobre o argentino n.º 33 do mundo e que será o quarto cabeça-de-série na terra batida do Clube de Ténis do Estoril.

O quadro desta terceira edição do novo Estoril Open prova a dificuldade que é para um torneio ATP 250 atrair os jogadores do topo do ranking, especialmente quando está encaixado entre torneios maiores — antes, tem o Masters 1000 de Monte Carlo e o ATP 500 de Barcelona, depois tem dois Masters 1000 consecutivos, Madrid e Roma, num mês que termina com Roland Garros.

Istambul tem os dois únicos “top-10” a competir na mesma semana do Estoril Open (Milos Raonic, 6.º, e Marian Cilic, 8.º), enquanto Munique tem Gael Monfils (17.º) e Robert Bautista Agut (18.º) como cabeças-de-cartaz. Depois de Carreño-Busta e Gasquet, o Estoril Open tem ainda o luxemburguês Giles Muller (28.º), Del Potro, João Sousa (37.º), o britânico Kyle Edmund (n.º 42) o francês Benoit Paire (49.º) ou o norte-americano Ryan Harrison (n.º 50). Outro nome forte do torneio vai estar no Estoril beneficiando de um wild card. O veterano espanhol David Ferrer já foi n.º 3 do mundo e finalista em Roland Garros em 2013, ano em que foi finalista do Portugal Open, perdendo na final do Jamor para o suíço Stan Wawrinka.

Os portugueses voltam a estar em força no quadro principal. São quatro, mas este número pode crescer até sete, dependendo do que fizerem no qualifying João Monteiro, Gonçalo Oliveira e João Domingues. A liderar a armada lusitana está aquele que é um dos rostos do torneio e o melhor tenista português de sempre. João Sousa vai tentar em 2017 inverter a tendência de sair logo ao primeiro jogo, depois de ter sido afastado por Rui Machado em 2015 e por Nicolas Almagro (que viria a vencer) em 2016. Para além de Sousa, volta a entrar no quadro principal Gastão Elias (108.º), Pedro Sousa (219.º) e Frederico Silva (434.º), os dois últimos beneficiando de wild cards. Mas o quadro principal só fica definitivamente fechado neste sábado à tarde.