O desempate entre Portugal e Polónia vale as meias-finais do Europeu

Polacos têm uma das defesas menos batidas do Euro 2016 e apostam no contra-ataque para surpreender a selecção nacional. Esta será a terceira partida em fases finais de grandes torneios entre as duas selecções e irá desempatar a estatística

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O último treino da selecção portuguesa antes do jogo contra a Polónia Francisco Leong/AFP

O mítico Zbigniew Boniek estava na fase final da sua carreira quando, há 30 anos, Portugal e Polónia se defrontaram pela primeira vez numa grande competição. Disputava-se a segunda partida da fase de grupos do Mundial de 1986, no México, e o actual presidente da federação polaca liderou a sua equipa para um triunfo (1-0) que anunciou o princípio do fim da selecção nacional no torneio. A vingança surgiria 12 anos depois (2002), também numa fase de grupos de um Mundial, agora disputado na Coreia e no Japão. A equipa portuguesa goleou por 4-0. Esta noite, as duas equipas vão procurar desempatar este histórico, pela primeira vez num Europeu e num jogo a eliminar.

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A selecção nacional saiu do Grupo F, em França, com o estatuto manchado, mas recuperou alguma credibilidade após afastar a Croácia nos oitavos-de-final. Terá agora uma excelente oportunidade para reafirmar a sua candidatura ao título, de forma mais convincente, e calar os cépticos. Mas o caminho para as meias-finais tem espinhos, que neste caso são polacos e ambicionam continuar a fazer história no Euro - pela primeira vez ultrapassaram a primeira fase da competição (a terceira onde participam) e de forma segura.

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Com dois triunfos, ambos por 1-0, frente à Irlanda do Norte e Ucrânia, e um empate com a poderosa Alemanha, a zero, a equipa polaca apurou-se no Grupo C, com os mesmos pontos dos germânicos. Teve mais dificuldades, nos oitavos-de-final, para superar a Suíça, conseguindo seguir em frente, na decisão por grandes penalidades, após um empate a uma bola no final do prolongamento. No balanço, em quatro partidas, apontou apenas três golos para alcançar os quartos-de-final, mas sofreu só um. Já Portugal marcou cinco e sofreu quatro.

Com uma defesa de betão, muito lutadora, a Polónia é uma das selecções que menos golos sofreu no torneio, a par da Itália e só atrás da Alemanha, a única equipa que ainda mantém as redes invioladas. Um desafio para o ataque português e para Cristiano Ronaldo em particular. Mas, como dizia esta quarta-feira o ex-internacional polaco e antigo jogador do Sporting (1992-1995) Andrzej Juskowiak, no Media Center, de Marselha, “se Ronaldo estiver num bom dia não há defesa que resista, nem estratégia que o trave. Mas penso que nesta altura da época não está tão rápido como esteve no Real Madrid ao longo do ano.”

Num excelente português, o agora comentador desportivo mostrou grande conhecimento da realidade do futebol nacional, tanto ao nível de clubes como de selecções: “Vejo por vezes a Liga portuguesa e surpreendeu-me muito a evolução de Renato Sanches. Gosto também do William de Carvalho, que é uma grande figura no meio campo, e de Nani no ataque. Está em boa forma, é rápido e pode criar-nos amanhã muitos problemas. Talvez até mais do que Ronaldo.”

Juskowiak está convencido que a selecção portuguesa, pelas suas características, irá acabar por assumir o encontro em Marselha e que a Polónia ficará na expectativa, mas antecipa uma partida que poderá ser semelhante aquela que a selecção nacional protagonizou com a Croácia, pelo menos nos primeiros minutos. “No início acho que ninguém vai arriscar dar espaços ao adversário. Nós sentimo-nos bem a jogar recuados e a jogar em contra-ataque. Portugal tem jogadores com grande capacidade técnica para segurar a bola e irá assumir a partida.”

Sem abrir o jogo em relação à equipa que irá apresentar no Estádio Vélodrome, em Marselha - onde Portugal disputou a meia-final com a França, no Europeu de 1984, sendo eliminado, por 3-2, após uma partida épica -, Fernando Santos não deverá promover muitas novidades em relação ao encontro com a Croácia.

Na defesa, poderá permanecer, à frente do guarda-redes Rui Patrício, o mesmo quarteto da partida de Lens: Cédric, Pepe, José Fonte e Raphaël Guerreiro (que deverá recuperar de problemas físicos que o afectaram nos últimos dias). No meio campo, a aposta voltará, previsivelmente, a recair no tridente do Sporting, composto por William Carvalho, João Mário e Adrien. A única dúvida está relacionada com o quarto jogador que completará este sector. João Moutinho é o principal candidato, mas Fernando Santos poderá voltar a apostar em André Gomes, com Renato Sanches a ser outra possibilidade, apesar do seleccionador nunca ter dado ao jogador do Bayern Munique a titularidade em França. No ataque vão manter-se os “móveis” Cristiano Ronaldo e Nani.

A caminho de entrar no olimpo do futebol polaco como um dos seleccionadores mais bem-sucedidos de sempre, o sereno e discreto Adam Nawalka garante não estar minimamente surpreendido com a carreira da equipa neste Euro. “Temos vindo a evoluir e a jogar sempre melhor. Chegámos em boa forma a este torneio”, sintetizou esta quarta-feira, na antecipação dos quartos-de-final. E assegura que a Polónia estudou bem o adversário.

“Portugal tem boa reputação tanto ao nível da qualidade individual dos seus jogadores, mas também como equipa. Gosta de jogar ao ataque, mas já provou que sabe defender bem e ensaiar contra-ataques venenosos. Nós vamos prosseguir com o plano que delineámos para este jogo.”

 

 

 

 

 

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