O Atlético tem que deixar de ser Atlético para conseguir a remontada

Real Madrid defronta nesta quarta-feira os “colchoneros” com uma vantagem de 3-0 alcançada na primeira mão das “meias” da Liga dos Campeões.

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LUSA/CHEMA MOYA

Há duas semanas, poucos minutos depois de ver Cristiano Ronaldo ser, mais uma vez, impiedoso para a sua equipa, Diego Simeone não atirou a toalha ao chão. Ainda no balneário do Santiago Bernabéu, após a sua equipa perder por 0-3 contra o Real Madrid na primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões, o treinador argentino incentivou os seus jogadores a manterem a cabeça erguida: “Não acredito que seja impossível. Somos o Atlético, podemos ser capazes.” A mensagem de esperança de Simeone esbarra, no entanto, no bom-senso. Esta época, o Real nunca terminou um jogo sem marcar e, se fizer um golo no Vicente Calderón, o Atlético terá que fazer algo que não consegue há 932 dias: marcar cinco golos nas provas europeias.

A 143.ª partida europeia que o Vicente Calderón, um dos mais emblemáticos estádios europeus, vai receber nesta quarta-feira ficará para a história, por ser a última que o Atlético vai disputar na sua futura ex-casa - a partir da próxima temporada, os “colchoneros” vão jogar como anfitriões no Metropolitano, a nordeste da capital espanhola. No entanto, será contra a história que Simeone e companhia terão que lutar para conseguirem um lugar na final de 3 de Junho, em Cardiff.

Para além de nenhuma equipa ter conseguido até hoje recuperar de uma desvantagem superior a um golo nas meias-finais da Champions, o Atlético perdeu os últimos quatro jogos europeus frente ao Real, e, para conseguir a remontada, teria que deixar de ser o habitual Atlético de Simeone. “El cholo”, nome pelo qual é conhecido o técnico argentino, construiu uma equipa à imagem do que era como jogador, mas o “cholismo” - futebol guerreiro, às vezes demasiado fechado -, dificilmente será a receita indicada para que Simeone consiga a colossal proeza de qualificar o Atlético pela terceira vez para a final da Liga dos Campeões em quatro temporadas.

Os méritos do pragmático e eficaz “cholismo” são incontestados, mas a matemática joga contra uma possível remontada histórica da equipa de Simeone: o Atlético venceu 11 jogos nesta época por 1-0; tem uma média inferior a dois golos por jogo na Liga espanhola; nas duas últimas épocas, em 24 jogos, apenas por uma vez venceu por uma diferença superior a dois golos nas provas europeias: 4-0 ao Astana, em Novembro de 2015. O cenário torna-se ainda mais complicado para os “colchoneros” se se olhar para o currículo do rival. Nos últimos 85 jogos oficiais, o Real apenas por uma vez não marcou: na meia-final da Champions da época passada contra o City, em Manchester, numa partida em que Cristiano Ronaldo não jogou, devido a lesão.

Apesar de ter a história contra si, Simeone repetiu na terça-feira, perante os jornalistas, as palavras optimistas utilizadas no balneário após o jogo da primeira mão: “Acreditamos nas nossas armas. Não vamos mudar. Tenho confiança nos meus jogadores e não tenho dúvidas que vão fazer um bom jogo.”

Do outro lado, apesar da confortável almofada de três golos, Zidane garantiu que o Real não vai “descansar” e procurou jogar com a história da forma mais conveniente para os madridistas. Por um lado, o francês alertou que as finais ganhas contra o Atlético “são passado”, mas foi às origens do clube para assumir as ambições do Real: “A história é algo que não nos deve amedrontar. Pelo contrário, ajuda-nos a preparar para as grandes coisas. Sabemos o quão grande este clube é. Amanhã [quarta-feira] é uma oportunidade para voltar a demonstrá-lo.”

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