Nem o próprio Nibali acreditava que podia ganhar o Giro outra vez

Segundo triunfo na Volta a Itália em bicicleta para o ciclista siciliano da Astana, que confessou ter-se sentido mais liberto quando pensava já não ter possibilidades de lutar pelo primeiro lugar na prova.

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Depois de 2013, Nibali volta a triunfar no Giro Luk BENIES/AFP

Houve vários momentos durante as três semanas da 99.ª edição da Volta a Itália em bicicleta em que Vincenzo Nibali manifestou descrença nas suas possibilidades e se mostrou agastado com as críticas de que ia sendo alvo à medida que as suas possibilidades de ficar com a “maglia rosa” iam diminuindo. “Por que é que insistem em ferir o meu orgulho? Não vêem que eu já estou em cacos?”, dizia o siciliano numa altura em que se especulava sobre o seu possível abandono. Nibali não só não abandonou, como protagonizou uma recuperação notável nos últimos dias de montanha nos Alpes para garantir o segundo triunfo da sua carreira no Giro, depois da vitória em 2013.

O último dia na estrada serviu para coroar o ciclista de Messina, que entrou para a derradeira etapa em cima de uma bicicleta pintada de cor-de-rosa para combinar com a camisola que iria levar até ao fim pela segunda vez na sua carreira. Com se esperava, a 21.ª etapa foi discutida ao sprint, com a vitória a ser atribuída ao alemão Niklas Arndt (Giant-Alpecin), depois da desclassificação do primeiro a cortar a meta em Turim, o italiano Giacomo Nizzolo (Trek), por sprint irregular.

Com este triunfo, Nibali, que sucede a Alberto Contador no palmarés da prova, voltou a mostrar que é um dos grandes nomes dos últimos tempos no que diz respeito a grandes provas por etapas, sendo um dos poucos da história, a par de Contador, Jacques Anquetil, Felice Gimondi, Bernard Hinault e Eddy Merckx, a vencer as três grandes voltas (Espanha, França e Itália), sendo que o Giro é a única que já venceu duas vezes. Mas, como o próprio disse após cortar a meta em Turim, foi quando tudo parecia perdido que se conseguiu libertar para recuperar os mais de quatro minutos que tinha de atraso à entrada para a 19.ª etapa — também ajudou a queda do holandês Steven Kruijswijk (Lotto) na 19.ª tirada.

“Foi um Giro muito duro e doloroso. Comecei a sentir-me mais liberto quando pensava que estava quase tudo perdido”, confessou no final o corredor da Astana, o grande favorito à partida, mas que foi perdendo esse estatuto ao longo dos dias, sofrendo fortes críticas na imprensa italiana pela sua má forma. Mas as suas exibições na montanha, sustentadas num forte apoio dos seus companheiros de equipa Tanel Kangert e Michele Scarponi, chegaram para derrubar o último obstáculo que se chamava Estebán Chavez (Orica). O colombiano perdeu a “rosa” no penúltimo dia e acabou por ficar a 52s de Nibali. Alejandro Valverde (Movistar) ficou no último lugar do pódio, 1m17s atrás do italiano da Astana.

Um dos piores dias de Nibali no Giro foi o do contra-relógio da 15.ª etapa, em que perdeu mais de dois minutos para o então líder Kruijswijk, pensando-se então que já não iria conseguir recuperar. Já depois da celebração final, Nibali confessou que estava com fortes problemas intestinais nesse dia. “Antes do contra-relógio, não me sentia nada bem, mas não disse nada porque não queria que os meus rivais soubessem. Tentei não pensar muito nisso, mas senti-me enfraquecido. Consegui recuperar no dia de descanso”, confessou o ciclista italiano.

André Cardoso (Cannondale), o único português em prova, confirmou nesta última etapa o 14.º lugar da geral (a 34m12s de Nibali), naquele que é o terceiro melhor resultado de um ciclista português no Giro, depois do quinto de José Azevedo em 2001 e do sétimo de Acácio da Silva em 1986.

O “Tubarão” do Bahrein?

Aos 31 anos, aquele a quem chamam o “Tubarão de Messina” volta a marcar presença entre as maiores figuras do pelotão internacional, depois de um 2015 para esquecer, ano em que foi desclassificado da Volta a Espanha por se ter apoiado num dos carros da equipa, para além de ter perdido o Tour para o britânico Chris Froome, ficando-se apenas pelo quarto lugar. E tudo aponta para que esteja de saída da Astana (equipa que representa desde 2013) no final do ano, mas o seu futuro imediato passa por ir à Volta a França para ser escudeiro do chefe-de-fila designado pela equipa, Fabio Aru, e tentar, em Agosto, o título olímpico de estrada no Rio de Janeiro.

Depois, será quase certo que vai estar de novo no Giro para defender o seu título na edição centenária da prova, mas, provavelmente, numa nova equipa, a Bahrein Cycling Team. O príncipe Nasser Al Khalifa quer ter uma equipa no WorldTour já em 2017 e conta com Nibali para ser a sua grande “estrela”.

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