Nelson Évora: “Quero fazer saltos bons, gigantes, e, de caminho, cair nos 18 metros"

O saltador português conquistou, em Londres, a sua quarta medalha em Mundiais de atletismo e, ao PÚBLICO, diz que este foi um ano para se reencontrar.

Nelson Évora
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Nelson Évora LUSA/FRANCK ROBICHON
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Nelson Évora Reuters/FABRIZIO BENSCH
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Nelson Évora LUSA/DIEGO AZUBEL

Entre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro do Verão passado e os Mundiais de atletismo que estão a decorrer em Londres, tudo mudou na vida de Nelson Évora. Mudou de treinador, mudou de clube e mudou de base. Mas o que não mudou foi o bom hábito de conseguir grandes resultados em grandes competições e, em Londres, Évora conquistou a medalha de bronze na competição do triplo salto, a sua quarta em Mundiais, depois do ouro em Osaka 2007, da prata em Berlim 2009 e do bronze em Pequim 2015. Em entrevista ao PÚBLICO, Évora diz que continua a pensar nos “saltos gigantes” para lá dos 18 metros e que o trabalho com Iván Pedroso vai mostrar resultados mais significativos em breve. E como ficou a relação com João Ganço, o seu treinador de 25 anos? “É óptima”, garante. “Não podíamos estar de costas voltadas.

Na conferência de imprensa após a final, dizia que já não tinha muito tempo, mas que ainda tinha coisas para dar. O que é que ainda tem para dar?
O que eu tenho para dar é aquilo que eu sei fazer, o que são os meus sonhos, os objectivos da minha carreira… Quero fazer saltos bons, gigantes, e, de caminho, cair nos 18 metros. É verdade que os meus dois adversários, o Christian Taylor e o Will Claye, são mais jovens do que eu, e pela ordem natural das coisas eles têm mais tempo do que eu. Tendo a época que eu tive, e olhando para como foi este Mundial, acaba por ser uma época de Verão com muito poucas provas, mas com muitas boas perspectivas de bons saltos. Por isso, acabo com um sabor um pouco amargo em termos da procura desses grandes saltos, mas é um campeonato do mundo e o que interessa é ganhar as medalhas.

Essa falta de competição contribuiu para que o salto não fosse melhor do que podia ter sido…
Foi um salto controlado, dá para perceber isso… Sou uma pessoa muito efusiva quando faço bons saltos e eu saltei, olhei, ‘hmmm, não é mau’. Estava super-focado para os saltos que eu e o meu treinador sabíamos que eu podia fazer. Muitos, se calhar, vão analisar e dizer que foi pouco, mas a questão é que assegurei a minha finalíssima, os três saltos mais três, e nunca olhei para trás, olhei sempre para a frente. Se eu não melhorei é porque apostei tudo para que a final fosse um quadro bonito. Para mim, é sempre tudo ou nada.

Sempre a olhar para a frente, mas havia muita gente a aproximar-se do terceiro lugar…
Não estava preocupado com o sítio onde eles estavam a cair. Não tiveram a sorte de me ultrapassar, mas eu estava bastante tranquilo. Não era algo que me estivesse a incomodar. Se acontecesse alguma coisa, podia voltar a fazer um salto controlado para os passar, mas o objectivo era sempre o Clay e o Taylor. Já tinha ganho a posição. Foram três que fizeram 17,16m, um deles [Cristian Nápoles] por duas vezes, mas a realidade é que eu tinha melhor marca do ano que ele. Nas mesmas condições, não me ganhou, eu sei que fui melhor do que ele e é isso que interessa.

Tinha algum significado ser o mais velho dos 12 saltadores da final?
Não tem. Era o mais velho mas, se calhar era o atleta com menos mazelas de todos os que estavam lá. Isso é que é o mais importante.

Ouvir o Clay a pedir um aplauso para o Nelson Évora e dizer que aprendeu a saltar a ver o Nelson Évora na televisão, não o faz sentir velho?
Isso é espectacular. Para mim, é um sinal de respeito da parte dele e isso tocou-me também. Ele é um saltador espectacular, tem melhor marca do que eu, fez saltos ventosos acima dos 18 metros, é um atleta a quem só falta o ouro.

Este foi um ano de muitas mudanças, de clube, de treinador…
Mudou tudo. Já foi tudo dito, já foi tudo falado sobre esse assunto. Já virei a página. O ano em que um atleta muda de treinador é sempre um ano que não corre muito bem, mas um ouro na pista coberta e um bronze no campeonato do mundo acaba por ser um ano muito positivo desde que estou a trabalhar com o Iván Pedroso. E também para aquilo que ele me desafiou a fazer, reencontrar-me com o Nelson de antes, com confiança, com vontade de saltar… Conseguiu arranjar uma estratégia muito boa ao longo deste ano e tem valido, não apenas pelas medalhas que tenho ganho, mas por ser alguém que consegue levar um atleta a resolver os seus problemas para ir mais longe. Por isso, podem esperar para o ano um Nelson bastante mais forte.

Que estratégia foi essa do Iván Pedroso?
É uma longa história que dava um filme espectacular de metodologia, de procura, de mudar a forma de estar fora da pista. Ter essa ambição, encontrar a paixão e ele conseguiu dentro dos treinos encontrar esse Nelson. Depois, simplesmente disse, ‘é este o Nelson que eu quero, é este o Nelson que vai fazer aquilo que ele quer fazer’.

Está a saltar de forma diferente agora? Já disse que agora tinha mais velocidade na corrida…
Este foi um ano para reencontrar-me, para buscar coisas do passado, procurar as coisas ideais, a velocidade, os pontos de contacto, e uma técnica simétrica e bastante horizontal. Foi isso que foi a nossa luta. Todos os meus movimentos de preparação para o salto eram de horizontalidade e zero de verticalidade, embora o salto que me dá o bronze tenha sido o salto controlado e com alguma verticalidade.

Como é que está a relação com o professor João Ganço?
Está óptima. Nós resolvemos os nossos problemas. Foram 25 anos juntos, não podíamos estar de costas voltadas um para o outro. Ele esteve aqui, tivemos oportunidade para falar. Infelizmente, não passámos muito tempo juntos. Ele tinha a sua atleta aqui, o professor só pode estar satisfeito com o seu trabalho e, mais uma vez, demonstrou que é um excelente treinador. O que tenho a dizer é que está tudo bem.

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