Não se pede inocência, apenas decência

Depois de Blatter, da Rússia, de Lance Armstrong, chegámos aos jogos combinados no ténis. Em ano de Jogos Olímpicos, é fundamental restaurar a confiança

Pensamos em desporto e pensamos em resistência, coragem, resiliência, superação, desafio. Confiança será a palavra que atravessa todas elas, uma síntese que faz eco tanto em quem faz desporto como em quem vibra com ele. Durante séculos, confiámos que, ao contrário dos pecados da vida política e económica, o desporto tinha uma aura e uma prática éticas. Não se pede nem inocência nem pureza. Mesmo nos Jogos Olímpicos originais, há quase três mil anos na Grécia Antiga, os prémios eram simples ramos de oliveira, mas a competição era usada como palco para fazer política e negócios. Mas pede-se que se proteja o desporto dos piores vícios. Tivemos os horrores de Sepp Blatter, presidente da FIFA durante 17 anos, que aos 79 insistia em continuar apesar do extenso rol de acusações de corrupção. Tivemos o escândalo da Rússia, banida pela Associação Internacional de Federações de Atletismo por ter um problema generalizado de doping. Tivemos o choque de Lance Armstrong, que ganhou sete vezes a Volta a França para se descobrir no fim que estivera sempre dopado. Só quando viu o seu filho defendê-lo junto dos amigos é que confessou e saiu. Armstrong é um de entre milhares. Há casos de doping no wrestling, no esqui, no halterofilismo, no voleibol de praia, no boxe, no tiro, na natação, no críquete, no futebol, no voleibol, no pólo aquático, nas artes marciais, no hóquei. No Brasil, Paquistão, Suécia, EUA, Espanha ou Cazaquistão. A União Ciclística Internacional, com sede na Suíça, tem expulso atletas. Mas o próprio órgão foi acusado de ter recebido um suborno de milhões. Agora, 16 tenistas do top 50 mundial, incluindo vencedores do Grand Slam, são acusados de terem recebido dinheiro para participarem em jogos com resultados combinados. O tenista sérvio Novak Djokovic, número um mundial, disse que em 2007 foi aliciado para perder. Não há fumo sem fogo. Disse também que combinar resultados é “um crime no desporto”. É possível mudar. As regras e as vigilâncias têm de ser levadas a sério. Os alertas não podem ser ignorados. As instituições não podem fechar os olhos. Não se pede inocência. Apenas decência.

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