Histórias do Tour: O sprinter que queria ser classicómano

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Dylan Groenewegen LUSA/YOAN VALAT

Aos sete anos, quando o avô, o conceituado fabricante de quadros Ko Zieleman, lhe ofereceu a primeira bicicleta, Dylan Groenewegen estava longe de imaginar que seria sprinter. Enquanto vagueava na sua máquina personalizada, colorida a roxo, branco e amarelo, o pequeno sonhava ser trepador. Ou melhor, clássicomano. Quando saía, de bicicleta ao ombro, para brincar diante do prédio dos pais, o mesmo onde Anne Frank começou a escrever o seu diário, era naquele troço empedrado, a lembrar os trilhos de pavé das clássicas do Norte, que melhor se sentia. "Adoro as clássicas", reconhece ainda hoje.

Destinado a ser ciclista - cresceu nos bastidores da loja de bicicletas da família, onde passava longas horas a trabalhar na sua bicicleta e a trocar ideias sobre treinos com o avô e o pai -, o rapaz de Amesterdão estava, no entanto, condenado a ser sprinter. Embora os seus inícios apontassem na direcção do seu sonho, houve um homem que lhe trocou as voltas.

Quando se cruzou com Nico Verhoeven, Groenewegen já era um dos mais promissores talentos holandeses. Depois de um início de adolescência difícil, marcado por problemas de crescimento, que superou com um dieta rígida e com um maior volume de treino do que os colegas – aliou a pista, o ciclocrosse e o BTT à estrada -, rapidamente ganhou fama nacional. Ainda no escalão de júnior e sub-23, deu nas vistas enquanto corredor da equipa de formação de Rijke-Shanks (2012-2014). Em 2015, com 22 anos, conquistou as suas duas primeiras vitórias (nas clássicas de Arnhem-Veenendaal e Bruxelas) como neo-profissional na Roompot-Oranje Peloton. E, no final dessa época, recebeu o convite do diretor da LottoNL-Jumbo para a maior formação nacional.

Fechado o contrato, Verhoeven chamou-o para uma conversa séria e incentivou-o a apostar exclusivamente nos sprints. Profissional e ambicioso, Groenewegen pôs de lado as aspirações pessoais e focou-se naquela que seria a sua nova trajectória no pelotão. E ganhou a aposta: só em 2016, na sua primeira temporada na LottoNL-Jumbo, somou 11 triunfos, o mais importante dos quais o título de campeão nacional, e estreou-se no Tour. Com apenas 23 anos, o ciclista de Amesterdão, que em miúdo tinha um poster do carismático Mario Cipollini na parede do quarto, foi para a prova rainha do ciclismo com um comboio próprio para o lançar nos sprints. E desiludiu(-se).

“Tornei-me mais forte desde a Volta a França do ano passado”, assegurou depois de dominar o Ster ZLM deste ano, em que ganhou duas etapas e a classificação por pontos, à frente dos colossos do sprint Marcel Kittel e André Greipel. Foi num excelente momento de forma e com o desejo de fazer melhor do que na estreia (o quarto lugar na quarta etapa foi o melhor que conseguiu), que se apresentou à partida para a 104.ª edição. Mas, logo no contra-relógio inaugural, caiu. O revés não o desmoralizou. Na 11.ª tirada, a vitória fugiu-lhe por muito pouco – aqueles murros vigorosos no guiador demonstraram que a frase “estamos a trabalhar para vencer uma etapa no Tour 2018” deixou de fazer sentido. “Temos de continuar a tentar. A minha confiança está inabalável, mas quero subir ao degrau mais alto”.  

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