Histórias do Tour: O futuro de Landa tarda em chegar

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Mikel Landa Reuters/BENOIT TESSIER

Em Maio de 2015, o El País apelidou-o de “homem do futuro”. Era ele a solução para o vazio. Depois de décadas de grandes campeões, o ciclismo espanhol afligiu-se. Num ápice, uma das nações por excelência do ciclismo mundial viu-se desprovida de talentos que assegurassem a sucessão dos veteranos Alberto Contador, Alejandro Valverde ou Joaquim Rodríguez. E aí apareceu o basco, com o seu quinto lugar na Volta a França do futuro de 2010, ganha por Nairo Quintana. Era Mikel Landa o esperado. Mas o futuro tem tardado para o ciclista da Sky que, aos 27 anos, continua a ser uma promessa sucessivamente adiada.

Nascido em Murgia (Álava), aos pés do gigante montanhoso Gorbea, começou a pedalar para encontrar-se com os amigos que viviam noutras povoações. Depois de experimentar o futebol (é adepto fanático do Alavés) e a pelota basca, voltou-se para o ciclismo. E seguiu o percurso reservado aos mais destacados ciclistas bascos: em 2010, abraçou o profissionalismo na Orbea, antes de assinar pela "laranja mecânica" que coloria o sonho de todos os corredores locais. Na Euskaltel, exibiu detalhes distintivos de trepador, como a vitória em Lagunas de Neila na Volta a Burgos (2011). Quando a única equipa basca da primeira divisão desapareceu, o então estudante de arquitectura foi dos primeiros a assinar um novo contrato. E até se deu ao luxo de recusar uma oferta da Movistar para rumar ao Cazaquistão.

Mesmo na Astana os resultados tardaram em chegar. Aos 25 anos, após cinco temporadas como profissional, do seu currículo constavam apenas dois triunfos (o outro era uma etapa no Giro de Trentino de 2014). É certo que, onde quer que fosse, Landa não passava despercebido, pela facilidade com que pedalava/arrancava nas montanhas. “Mas faltava-lhe regularidade”, explicou Giuseppe Martinelli, o seu director desportivo ao El País. Em 2015, tudo mudou. Após um início de temporada tardio, motivado por doença, o basco explodiu: ganhou uma etapa no País Basco, foi segundo no Giro de Trentino. “Amadureceu. Está mais profissional. Faz o que tem de fazer. Antes treinava mais por intuição, por sensações. Agora não se desvia da planificação do seu treinador”.

O melhor ainda estava para vir. No Giro, ganhou duas etapas e foi terceiro, apenas e só porque Martinelli o mandou parar para rebocar Fabio Aru. “O Landa podia ter vencido aquele Giro na etapa do Mortirolo. Naquele dia, podia ter acabado com o Contador, mas mandei-o esperar pelo Aru. Não sabia o quão forte ele era. Depois, na etapa de Finestre, também o parei quando ia ganhar a etapa. Já não era possível tirar a rosa ao Contador. O único que conseguiria era acabar em segundo, à frente do Aru, e, estando nós em Itália, não o poderia permitir”.

Os dois episódios marcaram profundamente o basco. “Como desportista, gosto de ganhar e, quando me mandam parar para trabalhar para outro, é evidente que não gosto. Doeu-me”. No pódio de Milão, jurou que nunca mais voltaria a obedecer a ordem semelhante de um director. Meses depois, na Vuelta, cumpriu o juramento à risca: ignorou as indicações que lhe soavam no auricular (outra vez para esperar por Aru) e pedalou para a vitória na 11.ª etapa. A continuidade na Astana era insustentável e a Sky sabia-o. Acenou-lhe com a promessa de ser líder da equipa no Giro e o sim do corredor foi imediato.

Dois anos depois, no entanto, Landa ainda não provou ter estofo (e qualidade) para ser chefe de fila – uma etapa na Volta ao País Basco e na geral de Trentino (2016) são pouco. No seu primeiro Giro (2016) como líder da Sky, abandonou após o dia de descanso, alegando estar com uma gastroentrite. No segundo, ao qual chegou como co-líder e sem entrar nas listas de favoritos, caiu e tornou-se um caçador de etapas (venceu a 19.ª e a classificação da montanha). Com um contrato com a Movistar à espreita, Landa tem-se multiplicado em gestos e declarações que manifestam o seu descontentamento por ter de trabalhar para Chris Froome. Talvez incentivado pelo expressivo movimento gerado no Twitter para o libertar (#freeMikelLanda), que já deu, inclusive, origem a um rap, o polémico espanhol foi peremptório nas suas declarações no dia de descanso: “Não volto ao Tour como segundo”.

 

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