Felizes como símbolos, desiludidos como atletas

Os dois nadadores sírios que estão na equipa de refugiados do COI mantêm a mensagem de esperança mas admitem que acusaram a pressão mediática.

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Yusra Mardini é talvez a atleta mais conhecida deste pequeno grupo de atletas olímpicos apátridas Dominic Ebenbichler/Reuters
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Yursa fugiu com a irmã da Síria em 2015 e vive em Berlim. REUTERS/Stefan Wermuth
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Rami Anis fugiu com a família para a Turquia porque estava em idade de cumprir o serviço militar. REUTERS/David Gray
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Anis e Yusra nadaram ambos os 100m mariposa e os 100m livres. REUTERS/David Gray
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A entrada no Maracanã da Equipa Olímpica de Refugiados, na cerimónia de abertura dos Jogos. REUTERS/Kai Pfaffenbach

A equipa de refugiados é uma das histórias destes Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O mundo reconhece estes dez atletas que desfilaram no Maracanã com a bandeira do Comité Olímpico Internacional como símbolos, não como atletas de primeira grandeza. Eles estão cá, são conhecidos, e também gostavam de ser conhecidos pelas suas proezas atléticas, como os próprios admitem. E gostavam de ter tido mais tempo para se prepararem. E, claro, querem voltar, mas ainda não sabem com que bandeira.

“Foi uma boa experiência competir com campeões, mas houve muita pressão dos media. Fizemos o nosso melhor, mas não nadei o meu melhor. Não foi assim tão mau, vamos ter quatro anos para treinar e espero voltar”, explicou em inglês perfeito a jovem nadadora Yusra Mardini, talvez a mais conhecida deste pequeno grupo de atletas olímpicos apátridas. A jovem fugiu da Síria em 2015 e foi ela, com a irmã Sarah, que saltaram para a água e ajudaram a levar um bote com 20 pessoas a bordo, quando o motor falhou, até à costa da ilha de Lesbos, no Mediterrânico. As duas irmãs escolheram a Alemanha como país de acolhimento e vivem em Berlim, onde Yusra, que já representara a Síria a nível internacional, cumpriu a sua preparação para os Jogos.

Rami Anis também já tinha representado o seu país de origem, mas, em 2011, fugiu com a família para a Turquia porque estava em idade de cumprir o serviço militar. Depois, foi para a Bélgica e encontrou forma de continuar a ser nadador e chegou aos jogos também na equipa de refugiados. A sua treinadora, Carine Verbauen, não estava nada satisfeita com o que o sírio de 25 anos fez no Rio. “Só tivemos cinco meses. Aproveitámos bem, trabalhámos no duro. Mas os Jogos são uma coisa esmagadora para quem não está mentalmente preparado. O que eu já o vi fazer, ele não fez”, lamentou a treinadora de Anis.

Nenhum dois dois passou eliminatórias ou bateu recordes pessoais no Rio – Anis e Yusra nadaram ambos os 100m mariposa e os 100m livres. E no caso de voltarem aos Jogos, será com que bandeira? Yusra não renega o país onde nasceu, mas vai dizendo que está muito agradecida ao país que a acolheu e satisfeita com a situação actual. “Agora estamos a representar o mundo. Não esqueço a Alemanha e estou feliz com a minha situação”, diz a jovem. O plano de Rami Anis parece bem mais definido: “Represento 60 milhões de refugiados, mas também represento o meu povo. Se a guerra acabar, regresso.”

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