Federação com ambição para Open de Portugal

Presidente Miguel Franco de Sousa faz balanço do regresso da prova e fala do futuro

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Miguel Franco de Sousa fotografado por Filipe Guerra no Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor

No rescaldo do regresso do Open de Portugal ao calendário do European Tour, após sete anos de ausência, Miguel Franco de Sousa, presidente da Federação Portuguesa de Golfe (FPG), promotora do torneio juntamente com a PGA de Portugal e a NAU Hotels & Resorts, ainda respira fundo do esforço que foi preparar o torneio em apenas cinco meses, mas só tem motivos de regozijo e confiança no futuro, apesar de a edição de 2018 ainda não estar garantida. “Não podemos voltar a perdê-lo”, sublinha, acrescentando que, antes pelo contrário, o objectivo é torná-lo um full member do European Tour, com 1 milhão de euros de prize-money, o que permitiria transmissão em directo pelo mundo fora. Destaca ainda o facto de esta ter sido a primeira vez que um torneio deste circuito foi apoiado em simultâneo pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) e pelo próprio Turismo de Portugal (TP). O que, diz, faz todo sentido, porque se trata de um evento desportivo que alavanca uma indústria que é a do turismo. Em termos mediáticos, considera que nunca se deu tanta atenção a um torneio de golfe em Portugal.

GOLFTATTOO – Mesmo que o Open de Portugal não se disputasse desde 2010, esteve certamente em muitas edições anteriores. Mas como viveu a que se jogou na última semana no Morgado Golf Resort? 

MIGUEL FRANCO DE SOUSA – Sim, assisti a muitos Opens como espectador, a muitos como capitão das selecções nacionais, mas este aqui deu-me um gozo especial, por termos conseguido retomar o Open depois de sete anos de ausência. Era um dos nossos grandes objectivos, não só da actual direcção, muito recente ainda, mas já das anteriores, do tempo do presidente Manuel Agrellos. 

Considerávamos que era um evento estratégico para o país, fosse do ponto de vista desportivo, porque que nos dava um conjunto de contrapartidas de competição para os nossos profissionais, fosse na importância para a afirmação de Portugal como um destino de golfe. Há muito tempo que endividávamos esforços para poder retomá-lo – e conseguimos. 

E que balanço faz deste regresso? 

Excepcionalmente positivo. Sabemos que é um torneio de ranking dual, que contava tanto para o European Tour como para o Challenge Tour, com 500 mil euros de prémios; estamos perfeitamente conscientes da dimensão e do impacto deste Open comparativamente com, por exemplo, o Portugal Masters, mas é um balanço muito positivo. 

Acho que a nota mais positiva de todas foi o termos conseguido juntar todas as entidades ligadas ao turismo e ligadas ao desporto neste evento. Foi a primeira vez que um torneio do European Tour foi apoiado em simultâneo pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) e pelo próprio Turismo de Portugal (TP). 

Conseguimos envolver uma televisão pública, todos os meios de comunicação social, o sector privado. O facto de a FPG e a PGA de Portugal promoverem um evento desta natureza em conjunto com uma entidade privada, a NAU Hotels & Resorts, faz com que tenhamos aqui um elemento agregador à volta do Open, que não se consegue com outros promotores. 

O balanço é claramente positivo e também do ponto de vista desportivo: tivemos 11 jogadores portugueses, três passaram o cut. Obviamente que se poderia sempre esperar qualquer coisa mais dos nossos jogadores, até uma vitória, mas estamos satisfeitos com os resultados e com a forma como retomámos o Open.   

E acredito sinceramente que, pelo feedback que tivemos de todas as entidades, inclusivamente do ministro da Economia, este é um evento que terá todas as condições para continuar no calendário do European Tour. 

Eu julgava que o Open estava assegurado por um período de três anos… 

Só entre os promotores existe a garantia de que o torneio é para três anos. Já os acordos com TP, o IPDJ e os nossos patrocinadores, foram só para este ano. Agora temos obviamente de reunir todos os apoios para podermos garantir o torneio para o ano que vem. Mas tudo indica que teremos Open de Portugal novamente em 2018.

O mau tempo não terá ajudado no que diz respeito ao número de espectadores… 

Quinta e sexta-feira foi de facto mau, e isso obviamente reflectiu-se, porque nesses dias houve muito pouca gente. Sábado e domingo já foi muito bom, tivemos muita gente – e estamos a falar de um torneio que não tem os melhores jogadores do mundo, não tem sequer os melhores do European Tour. Temos  algumas limitações do ponto de vista do atractivo para o público, mas notou-se uma boa adesão, sobretudo por parte de estrangeiros. A adesão por parte do público português ainda continua a ser fraca, ainda não temos esta tradição de ir ver torneios de golfe ao vivo, mesmo os de grande dimensão. De qualquer maneira, quem esteve lá no domingo viu perfeitamente que havia ali bom público, boa moldura humana, as últimas partidas estavam muito bem compostas. Ainda não tenho os números finais, mas se chegámos ao cinco mil espectadores, foi bom. Vendemos cerca de 10 mil euros em bilhetes. 

E em termos mediáticos como correu? 

Esta semana tenho estado a ver o clipping do evento e creio que nunca se terá dado tanta projecção a um torneio do European Tour em Portugal. Obviamente que se considerarmos, por exemplo, a transmissão do Portugal Masters em directo, o alcance internacional deste é muito maior. Mas, para o Open de Portugal, conseguimos um conjunto de parcerias, com o GolfTattoo, RTP, SIC, Sol, jornal i e com outros meios de comunicação, quer generalistas, quer da especialidade, que permitiram uma grande projecção do evento, antes e durante. Agora estamos a aguardar os últimos programas que estão a sair, os highlights na Sport TV e também na RTP2. Nessa altura faremos uma avaliação completa do que foi o impacte e o retorno do investimento no Open de Portugal 2017. 

E qual o impacte mediático internacional? 

O Open de Portugal será transmitido em cerca de 160 países, vai a uma centenas largas de milhões de lares. O programa de highlights, de meia-hora a uma hora, já está a passar em países do mundo inteiro. Estamos aqui a falar de muitas centenas de horas de transmissão por dia em highlights. Não é em directo, porque o investimento foi inferior. Para ser em directo, temos de ter um prize-money mínimo de 1 milhão de euros.

Que feedback tiveram do campo? 

Daquilo que ouvi da maior parte dos jogadores com quem falei, gostaram muito. O campo, além de desafiante, estava em muito boas condições e mostrou capacidade de recuperação depois de ter chovido muito na quarta, quinta e até sexta-feira. O resultado do vencedor é significativamente baixo mas está dentro daquilo que é normal no European Tour. Enfim, é um palco que está à altura de uma prova do European Tour. 

A FPG escolheu o recém-sagrado campeão nacional, Tomás Melo Gouveia, para ser o único amador do torneio. Como viu a sua prestação? 

O Tomás Melo Gouveia é um rapaz que tinha tomado a decisão de que o golfe seria apenas um hobby na sua vida, mas entretanto, nas últimas semanas, ganhou o Campeonato Nacional Absoluto, depois uma prova do Circuito da FPG e agora fez um resultado no Open de Portugal que não envergonha ninguém, neste caso colocando-se inclusivamente em posição, com cinco birdies na segunda volta, de passar o cut. E assim, creio que neste momento já estará a pensar em pelo menos tentar uma carreira de jogador profissional. É um jogador com muita qualidade, um rapaz fantástico e cheio de talento, tendo por isso todas as condições – inclusivamente o apoio da família – para poder fazer um bom percurso como profissional.

Houve alguns episódios engraçados ou peculiares que tenha vivenciado neste Open de Portugal? 

As histórias mais curiosas talvez tenham sido o facto de o Angel Gallardo estar presente quando se assinalavam os 50 anos da sua vitória no Open de Portugal de 1967, na Penina, que fica ali mesmo ao lado do Morgado Golf Resort. E também a presença no torneio de dois casais irmãos, o Ricardo e o Tomás Melo Gouveia e o Ricardo e o Hugo Santos. 

O que é de salientar é a importância do restabelecimento do Open dos portugueses, do Open de Federação, visto que esta é a detentora do título e da belíssima taça. O European Tour tem frisado muito isso, lembrando as federações de que não podemos perder os Opens nacionais, o de Portugal, o de França, o da Alemanha, o da Espanha, que infelizmente se perdeu este ano. Isto porque são os Open das federações e estas conferem uma garantia de segurança que não lhes garantem outros promotores privados. 

Do que notei por parte dos dirigentes do European Tour que estiveram no Open, há uma vontade muito grande de retomar o Open nacional, e foi isso que também transmitimos, que a FPG dará com certeza uma maior estabilidade para uma futura consolidação deste torneio, com uma história de mais de meio século. Estes são o tipo de torneios que têm continuidade, em contraste com os de promotores privados, que vão aparecendo e desaparecendo. 

É nessa perspectiva que temos de trabalhar a partir de agora, junto das entidades, das instituições públicas, dos parceiros privados, lembrando que existem condições, que a FPG, A PGA e a NAU estão totalmente comprometidas para continuar o Open de Portugal – e tudo faremos para que isso seja uma realidade. Não podemos de maneira nenhuma voltar a perdê-lo, é muito importante que Portugal, as instituições do turismo e do desporto o apoiem, é importante que consigamos criar aqui uma boa plataforma de promoção das marcas que se associam ao evento, os nossos patrocinadores, um grupo de patrocinadores desta vez muito alargado, que viu e que teve a visão do restabelecimento do Open e da sua importância no panorama nacional. Estamos já a trabalhar para que no muito curto prazo possamos garantir já a edição de 2018. 

Não se fazem torneios sem patrocinadores, e neste Open de Portugal houve a NAU, que mete não só o campo, a não-receita do campo do golfe, mas também uma verba significativa; houve o Turismo de Portugal, que foi um financiador muito importante do evento; o IPDJ – e eu aqui frisava aqui mais uma vez esta nota de ter o Turismo e o Desporto a trabalhar em conjunto, isto nunca se viu antes, porque normalmente há uma tendência de afastamento entre o Turismo e o Desporto. Faz todo o sentido esta sinergia, porque este é um evento desportivo que alavanca uma indústria que é a do turismo. 

É importante também referir o Millenium BCP, um banco cuja associação ao Open não é inédita; a Peugeot, a Carlsberg, a SportTV, a Remax, os vinhos que se associaram, a Bacalhôa, a Nike, a Mundiarroz, a Nike, a Europcar e muitas outras que se associaram de uma forma mais ou menos forte, mas todas contribuindo para o sucesso do evento. 

Houve apenas cinco meses para preparar este Open. O que se pode esperar para 2018 em termos de upgrade  tendo em conta que terão muito mais tempo para prepará-lo?

De facto, foram cinco meses. Recordo-me que no dia 4 de Novembro foram as eleições na FPG, e creio que nessa mesma semana fui ao Algarve almoçar com o Mário Ferreira [CEO da NAU Hotels & Resorts], o José Correia [presidente da PGA de Portugal] e o Jorge Papa [director de golfe do Morgado Golf Resort]. Estávamos a trabalhar para um torneio do Challenge Tour, tínhamos o financiamento assegurado. 

Uns dias depois, a caminho, com o Mário Ferreira, de uma reunião com o TP, recebi uma chamada do Keith Waters [Chief Operating Officer do PGA European Tour] a perguntar por que não fazermos um torneio double badge. Eu referi-lhe que um torneio dual ranking não nos dava de maneira nenhuma tantos wild cards para os nossos jogadores como um torneio simplesmente do Challenge Tour, mas a verdade é que conseguimos, no decorrer dessa reunião, não só os wild cards necessários para podermos fazer o trabalho, como financiamento, por parte do European Tour, para ser um torneio dual ranking. É importante sublinhar que o European Tour fez uma contribuição financeira significativa para que este torneio fosse um dual ranking. 

E de facto montar um torneio destes foi uma tarefa bíblica, porque não é fácil fazê-lo em cinco meses. Não obstante não ser um torneio com a dimensão de um grande torneio, de dois ou quatro milhões de euros, houve muita coisa que teve de ser feita. Tínhamos um dual com prestígio, um programa bem impresso, bons bilhetes, boas credenciais, as condições eram todas muito razoáveis, o campo estava em perfeitas condições, tínhamos um players lounge que foi altamente elogiado por todos os jogadores, uma zona de hospitality e de patrocinadores muito boa, um bom campo, um hotel no campo, enfim, conseguimos em cinco meses fazer algo impensável. 

Aquilo que se pode esperar para 2018, e com tempo para trabalhar, considerando todas as indicações que tivemos ao longo da semana por parte de todos aqueles que se associaram na iniciativa, é que estamos em condições de reforçar este evento para 2018. 

O nosso grande objectivo é ter um torneio de um milhão de euros de prize-money, ser um torneio full do European Tour, um Open nacional que uma vez mais vai permitir benefícios desportivos e também televisão em directo para todo o mundo, para 400 milhões de lares, 160 países. Estes já são, enfim, números mais significativos para quem apoia, nomeadamente o campo ou o TP. Estamos já a trabalhar nesse sentido. 

Também gostaria de frisar que isto só foi possível porque tivemos as equipas da FPG, da PGA e da NAU totalmente empenhadas e comprometidas, fizemos aqui um torneio que teve um investimento na ordem dos 750 mil euros, incluindo prize-money. É sinal de que conseguimos fazer um torneio com muita qualidade e com um investimento muito reduzido, porque conseguimos reduzir custos em todas as áreas, desde os caddies bibs às impressões, ao material, às faixas de publicidade – em tudo conseguimos preços fantásticos, o que nos permitiu fazer um torneio destes com apenas 200 mil euros para a parte de staging.

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