Dragão enfrentou o gladiador mas despertou tarde

Equipa portuguesa empatou 1-1 na primeira mão do play-off da Liga dos Campeões e precisa de ganhar em Itália (ou de empatar a dois golos ou mais).

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Miguel Riopa/AFP

O FC Porto não foi além de uma igualdade frustrante e até cruel perante a toda-poderosa Roma, que ganhou vantagem no play-off da Liga dos Campeões com um autogolo de Felipe e aguentou até ao fim, com menos um jogador, um empate (1-1) que a deixa em vantagem para a segunda mão da eliminatória.

Nuno Espírito Santo convocou o espírito dos campeões, apelou à união e à força da nação azul e branca na tentativa de calar a Roma e, com isso, tornar a chama do “dragão” insuportável até para os mais temíveis gladiadores. Porém, os deuses não estavam com o treinador portista, que jogou um trunfo de alto risco, surpreendendo com a aposta em Adrián López no “onze”, criando uma manobra de diversão que esteve longe de surtir o efeito desejado. Uma jogada que, aparentemente, teve o dom perverso de aumentar, pelo menos aparentemente, uma ansiedade que o espanhol demorou a superar.  

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Do lado oposto, Luciano Spalletti mostrava o jogo que escondera com o bluff do tempo útil de jogo e da necessidade de os seus jogadores terem que fazer mais qualquer coisa durante os períodos em que não tinham bola. Dzeko entrou de início e foi a referência ofensiva que amarrou a defesa portista, contribuindo e muito para meia-hora de desassossego.

Com maior liberdade e mobilidade, Salah e Perotti inventavam espaços e surgiam nas zonas de remate com uma facilidade assustadora, o que parecia arruinar a estratégia de jogo portista. Na verdade, o FC Porto demorava uma eternidade a estabilizar e não encontrava as soluções para acelerar o jogo vertical na procura de André Silva, que na primeira vez em que se soltou revelou algum egoísmo.

Com Danilo claramente a não chegar para as encomendas, o FC Porto aparecia invariavelmente tarde na disputa dos lances, comprometendo a fase de construção. A Roma soube aproveitar toda esta ansiedade para se impor, controlar as operações e marcar.

Com pouco menos de um quarto de hora de jogo, já Casillas deixava o Dragão perto de um ataque cardíaco, ficando a gatinhar atrás de uma bola que era sua mas deixou escapar para os pés de Dzeko. Valeu Alex Telles a tirar em cima da linha de golo.

Porém, a Roma não enjeitaria nova oferta, beneficiando de um autogolo de Felipe, na sequência de um canto. Ao contrário do que o treinador portista tinha antecipado, o “dragão” era nesta altura incapaz de infligir dor aos italianos.

Apesar de tudo, o FC Porto não se dava por vencido, injectando através da irreverência de Otávio as primeiras doses de veneno paralisante. Finalmente, o “dragão” parecia capaz de despertar para um jogo de nível Champions, pressionando cada vez mais a Roma, com André Silva a bater-se galhardamente, causando mossa, que acabaria por resultar na expulsão de Vermaelen.

O FC Porto pedia penálti, mas o menino bonito do ataque azul e branco tinha sido atingido ainda antes de invadir a área. Do livre nada resultou, mas a Roma viu-se na contingência de alterar a estratégia, adaptando-se rapidamente à nova conjectura. Um cenário que abria o apetite de “dragão”, que em vantagem numérica nunca mais parou de carregar.

Até ao intervalo, Herrera ainda reclamou uma grande penalidade, mas o mexicano acabou por cair na sequência de um agarrão mútuo. O árbitro errou, porém, ao ignorar uma mão de Emerson na pequena área.

Entretanto, Spalletti sacrificara Perotti e preparava-se para a tal noite quente, enquanto Nuno Espírito Santo abandonava a táctica que levara Portugal ao título europeu para passar a dominar com um espírito que já não se via no Dragão há muito tempo, pelo menos em matéria de jogos europeus, onde conhecera apenas a derrota nos quatro últimos confrontos.

A segunda parte seria, por isso, diabólica. O FC Porto ia directo à ferida, não para magoar mas para fazer sangue. E fez, num remate de Adrián, a surgir isolado após uma tabela com André Silva. Estava feito o empate, com os romanos incrédulos, a protestarem junto do árbitro assistente e do juiz de baliza. De uma breve conferência acabou por sair a decisão de anular o golo do espanhol.

O FC Porto não tinha tempo a perder e transformou-se num monstro pronto para cilindrar os italianos, pressionando altíssimo, com um coração enorme e ao mesmo tempo uma lucidez que não permitia que a Roma sequer respirasse.

Tanto que a ficha acabaria por cair, num penálti que André Silva não falhou. Desta vez os protestos dos transalpinos não demoveram o árbitro holandês, que voltou a acertar na decisão, já que Emerson desviou a bola com o braço.

Até final, já com Corona em campo, Felipe e Otávio não conseguiram desfazer a igualdade, com a Roma a dar tudo para levar um ponto, acabando a noite depois de uma rixa entre jogadores, com um livre muito perigoso que podia ter elevado a injustiça para patamares insuportáveis.

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