Sem décima, sem liderança e sem sombra de Soares

Corona voltou à acção com a chave do comando do campeonato, mas o FC Porto consentiu a recuperação ao V. Setúbal e desperdiçou o tropeção do Benfica.

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LUSA/JOSÉ COELHO

O FC Porto vai ter que superar o choque de ter permitido que o Vitória de Setúbal voltasse neste domingo a empatá-lo na luta pelo título (1-1), impedindo, contra toda a lógica e expectativas — e no momento mais inoportuno para os “dragões” —, que a equipa de Nuno Espírito Santo saltasse para a liderança do campeonato ao fim de 24 jornadas sob o jugo dos rivais.

O choque e as respectivas ondas atingiram em cheio, e com uma força que ainda terá que ser aferida, um candidato que se posicionava de forma autoritária antes do determinante clássico da Luz, na próxima jornada, valendo-se de uma sequência inatacável de resultados que neste domingo poderia ter atingido a marca de dez vitórias consecutivas na Liga.

Um sentimento devastador, especialmente depois do tropeção do Benfica, em Paços de Ferreira, que intimava o “dragão” a ganhar a frente da corrida, sem hesitações de qualquer espécie, deixando uma estranha sensação de vazio.

O adversário inspirava cuidados (já tinha empatado na primeira volta), mas também confiança, pois declarava-se disposto a discutir o jogo, discurso que afastava um cenário excessivamente encriptado e sempre problemático, como se viu na véspera na “Capital do Móvel”.

Sem Maxi Pereira e André André, Nuno Espírito Santo optou por uma solução que não deixava margem para dúvidas quanto às intenções portistas. O regresso de Corona (a completar 50 partidas na Liga) recuperava o desenho amarrotado pelo jogo do Bessa.

O mexicano voltava, contudo, menos exuberante, mas suficientemente inspirado para irromper da sombra no momento certo, quando o Dragão começava a dar mostras de poder entrar em desespero: subitamente, a classe derramada pelo remate do extremo (45+1’) parecia a panaceia para todos os problemas.

A resiliência setubalense, que ia sobrevivendo a todas as detonações sentidas nas imediações da baliza de Bruno Varela, tinha quebrado mesmo em cima do apito para o intervalo, anunciando uma segunda metade de gala do FC Porto, ideia sustentada por lances como aquele em que o poste e Vasco Fernandes tinham operado pequenos milagres.

Porém, a primeira parte tinha igualmente provado que André Silva e Soares estavam com dificuldades para expressar todas as suas capacidades, o que não impediu os portistas de manter o garrote na tentativa de aniquilar o V. Setúbal com um segundo golpe. Um opositor teimoso que deixara também evidente que arriscaria todas as fichas nas oportunidades que fossem surgindo.

Na verdade, nem sequer foi necessário esperar muito tempo para que João Carvalho, com uma finalização subtil já dentro da área (56’), conseguisse o impensável para os mais de 40 mil portistas presentes no Dragão. Os setubalenses aproveitavam uma das raras ocasiões e mergulhavam o Dragão num mar de dúvidas.

Até final, já sem força para repetir a graça, os sadinos resistiram estoicamente perante um “dragão” incrédulo, mas irredutível, com Brahimi, Otávio, Jota, Soares, André Silva e, por fim, até Depoitre, num ataque programado, mas cada vez mais dependente de um golpe de asa, de um ressalto ou de um momento de inspiração divina.

O FC Porto acusava, por fim, o tal desgaste, acumulado na viagem a Turim, para tentar a entrada nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Os sete minutos de compensação concedidos só na segunda parte devolviam a esperança de poder ainda chegar ao objectivo, mas a frustração venceria todos os esforços. O FC Porto falhava num só jogo a liderança, a 10.ª vitória seguida e o recorde perseguido por Soares, que pela primeira vez não assinou um golo em jogos do campeonato desde que fixou residência no Porto.     

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