Em Malta nunca há jogos fora

É possível jogar num estádio na condição de visitado e, uma semana depois, jogar no mesmo recinto mas como visitante

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Carl Recine/Reuters

Haver clubes de uma cidade a partilhar um estádio não é propriamente uma novidade no futebol mundial, mas ter todos os emblemas de um campeonato a disputarem as suas partidas numa mão-cheia de recintos, ou nem isso, já é mais invulgar. É isso que acontece na Liga de Malta, onde as 28 partidas das primeiras quatro jornadas do campeonato foram realizadas em apenas três estádios. Com os jogos concentrados nos fins-de-semana, é comum haver sessões duplas num mesmo recinto.

O factor casa não se coloca no campeonato maltês. Por exemplo: o líder Gzira United vem de um triunfo sobre o Hibernians por 3-2, na condição de visitado, no Estádio Nacional. Na próxima jornada joga perante o St Andrews, desta vez como visitante, mas novamente no Estádio Nacional. O recinto inaugurado em 1981, onde habitualmente joga a selecção maltesa, recebeu oito dos 28 jogos já realizados no campeonato 2017-18. O Estádio Centenário foi palco de dez, tal como o Estádio Victor Tedesco.

Por ser possível jogar num estádio na condição de visitado e, uma semana depois, jogar no mesmo recinto mas na condição de visitante, não pode dizer-se que as equipas alguma vez sintam que estão a jogar fora de casa. Um estudo conduzido por Richard Pollard, publicado em Março de 2006 no Journal of Sports Sciences, concluiu que o futebol maltês está entre os campeonatos europeus com mais baixa percentagem de triunfos caseiros. E percebe-se porquê. Com 52,28% de vitórias da equipa anfitriã num universo de 630 partidas, Malta ficou apenas à frente de São Marino (50,55%) e Andorra (48,87%) – outros dois campeonatos que, por constrangimentos geográficos, têm estádios partilhados.

A convivência dos clubes e dos respectivos adeptos num número limitado de estádios obriga a federação maltesa de futebol a um trabalho redobrado na calendarização das jornadas. Todas as semanas o organismo federativo anuncia no seu site que sectores das bancadas são destinados a cada grupo de adeptos.

É um facto que não há notícias de desacatos, o que significa que talvez o trabalho esteja a ser bem feito. Mas isso também denuncia outro aspecto do futebol maltês: as baixas assistências. Na temporada passada os 182 jogos do campeonato atraíram apenas 91.541 espectadores, uma média na ordem dos 500 por partida. A federação anunciou para esta época uma redução dos preços dos bilhetes, para um mínimo de quatro euros. E com a possibilidade de assistir a uma sessão dupla.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

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