Em equipa que ganha, o presidente não sai

São sete os presidentes de clubes do primeiro escalão que já ultrapassaram uma década no exercício da função. Pinto da Costa, Carlos Pereira ?e Rodrigo Nunes comandam o pelotão.

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Pinto da Costa, presidente do FC Porto fvl fernando veludo n/factos
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Carlos Pereira, presidente do Marítimo RG Rui Gaudencio - Publico
Rodrigo Nunes, à esquerda, o presidente do Feirense
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Rodrigo Nunes, à esquerda, o presidente do Feirense
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António Salvador, à direita, presidente do Sp. Braga ALEXANDRE RIBEIRO
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Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica Miguel Manso

Parece claro que a longevidade de um líder desportivo está intimamente relacionada com os seus sucessos competitivos, à escala de cada clube. Este dado é particularmente relevante quando se fala do futebol português, no qual são já sete os presidentes na I Liga que ultrapassaram a barreira dos dez anos. Há ainda os casos mais extremos, como o de Carlos Pereira, que acabou de comemorar duas décadas à frente dos destinos do Marítimo, tornando-se no segundo dirigente há mais tempo em funções, ininterruptamente, no escalão principal. Acima deste marco, só o inalcançável Pinto da Costa, que cumpriu, a 23 de Abril, 35 anos aos comandos do FC Porto. Um recorde mundial.

A limitação de mandatos dos responsáveis do futebol entrou na agenda nos últimos meses. Em Abril, a UEFA aprovou uma reforma nos seus estatutos, que incluiu uma limitação dos mandatos do seu presidente e dos membros do comité executivo até um máximo de três períodos de quatro anos. Tudo em nome da transparência e credibilidade da entidade que gere o futebol europeu, envolvida em escândalos de corrupção nos últimos anos. Os mesmíssimos motivos que já haviam levado a FIFA a tomar uma medida idêntica, em Fevereiro do ano passado.

Ao nível do dirigismo de clubes esta realidade parece distante, ainda que o assunto já tenha vindo à baila em Portugal. No distante ano de 2003, o então ministro adjunto do primeiro-ministro, José Luís Arnaut, insurgiu-se contra os “dinossauros” do futebol, sugerindo uma discussão sobre a limitação de mandatos. Palavras ditas a quente, no rescaldo de incidentes violentos em estádios, após declarações mais bélicas de alguns responsáveis de clubes.

O tema acabou por ficar na gaveta. E é uma questão que não é levantada pelos sócios dos emblemas nacionais, pelo menos quando falamos nas competições profissionais. Quando um líder agrada, o que normalmente é sinónimo de triunfos (mesmo que alguns sejam demasiado pesados para o futuro do clube), os sócios aplaudem e reconduzem o “mago” na cadeira presidencial.

Os gigantescos sucessos desportivos do FC Porto da era Pinto da Costa falam por si. Mas também o ressurgimento do Benfica nos anos de Luís Filipe Vieira ajudou a tornar este empresário no presidente “encarnado” com maior duração: 14 anos. Tantos como os de António Salvador à frente do Sp. Braga, que coincidem com as melhores performances da história do clube minhoto, tendo alcançado mesmo uma final da Liga Europa, que acabou por perder para os “dragões”, em 2010-11.

Entre os presidentes dos três maiores clubes portugueses, Bruno de Carvalho é, de longe, o caçula. Eleito pela primeira vez em Março de 2013, após ter sido derrotado dois anos antes, numas eleições bastante conturbadas, soma apenas quatro anos aos comandos do Sporting. Reeleito em 2017 para mais um mandato, poderá tornar-se no quarto presidente que mais tempo liderou o “leão”, superado apenas por Joaquim Guerreiro de Oliveira (1932-42), Brás Medeiros (1959-61 e 1965-73) e João Rocha (1973-86). Isto, se cumprir este segundo mandato até ao fim.

A luta pela permanência

O terceiro lugar do pódio dos “dinossauros” clubísticos pertence a Rodrigo Nunes, líder do modesto Feirense. Tomou posse, pela primeira vez, em 2001 (há 16 anos), batendo todos os recordes de longevidade no emblema de Santa Maria da Feira, fundado em 1918, e no qual nunca nenhum presidente tinha sido eleito para dois mandatos consecutivos. Com ele, o Feirense regressou ao primeiro escalão do futebol nacional, na época 2011-12, depois de uma ausência de 22 anos. Uma passagem efémera, tendo a equipa regressado ao convívio com os “grandes” na última temporada, para garantir então a permanência.

E a “medalha de bronze” da antiguidade de Rodrigo Nunes só não está nas mãos de Vítor Magalhães, presidente do Moreirense, porque este dirigente interrompeu um ciclo de oito anos à frente do clube de Moreira de Cónegos para experimentar a liderança do vizinho, mas mais poderoso, Vitória de Guimarães (clube de que também é sócio, neste caso há 50 anos), antes de regressar à casa-mãe. Uma história recheada de peripécias.

Eleito presidente do Moreirense pela primeira vez em 1996, este empresário multifacetado, ligado ao sector têxtil, imobiliário e restauração, com fábricas em Portugal, Tunísia, Moçambique e Brasil, conduziu os destinos do emblema até 2004, fazendo história com a inédita subida da equipa ao primeiro escalão nacional, na temporada 2002-03. As suas façanhas na cidade dos Cónegos levaram-no a sonhar mais alto, acabando por ser eleito para a cadeira presidencial do vizinho Vitória, na qual permaneceu entre 2004 e 2007.

O sonho até começou bem, com uma qualificação para as provas europeias na época de estreia, mas terminou em pesadelo com uma inusitada e traumatizante despromoção ao segundo escalão no final da temporada de 2005-06. Uma situação impensável para os aguerridos sócios vimaranenses, na divisão principal desde 1958, o que tornava este emblema o quarto com mais presenças no escalão principal, logo atrás dos “grandes”.

Foi sem grande surpresa que a aventura de Vítor Magalhães em Guimarães ficou encerrada, em Março de 2007. Um ano depois, o empresário, actualmente com 65 anos, recuperava o poder no Moreirense, para um novo ciclo de sucesso, que dura há nove anos, somando um total de 17 épocas à frente do clube. Com ele a equipa regressou à I Liga na temporada 2012-13 (acabando por não permanecer), voltando na época 2014-15. Mas o melhor capítulo desta profícua associação chegou já a 29 de Janeiro deste ano, quando o Moreirense conquistou a Taça da Liga, o maior troféu do seu historial.

Se Vítor Magalhães não dá sinais de encerrar o seu ciclo no Moreirense, Fernando Rocha já tentou sair da direcção do Portimonense, mas acabou por ser convencido a regressar, por falta de interessados na sua sucessão. Começou a liderar o clube algarvio em Outubro de 2006 e, em Novembro de 2010, alegou motivos pessoais para não se recandidatar. Até Julho do ano seguinte não surgiu qualquer lista para concorrer às eleições e Rocha assumiu de novo as rédeas do emblema de Portimão. Excluindo o período de vazio directivo, leva 11 anos à frente do clube, que regressou esta temporada à I Liga.     

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