Ederson é sinónimo de tranquilidade

Serenidade e frieza entre as principais qualidades do jovem guarda-redes do Benfica. Exibição frente ao Borussia confirmou atributos e estreia pela selecção pode estar próxima. Em Janeiro renovou até 2023

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Ederson não vem no dicionário, tranquilidade sim: estado de estabilidade moral ou psicológica; calma; paz; serenidade. Mas os dois são sinónimo, como o jovem brasileiro do Benfica fez questão de demonstrar na partida dos “encarnados” frente ao Borussia Dortmund, da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Os alemães atacaram de várias formas e feitios e a vantagem mínima não deixava os adeptos sossegados, mas o guarda-redes travou tudo, incluindo uma grande penalidade, evitando sobressaltos.

Se há exibições que valem pontos, aquela que Ederson rubricou na terça-feira à noite é um bom exemplo. O guardião confirmou todas as qualidades que lhe são apontadas e não podia ter escolhido um melhor momento: estava a ser observado por Cláudio Taffarel, treinador de guarda-redes da selecção brasileira, que em entrevista ao diário desportivo A Bola admitiu que Ederson “vai ter um futuro brilhante”. O momento da estreia com a camisola “canarinha” não estará muito distante.

O percurso de Ederson foi de evolução contínua: formado no São Paulo, chegou a Portugal para representar os juvenis do Benfica e em 2010-11 subiu aos juniores. Aos 18 anos rumou ao Ribeirão, do terceiro escalão do futebol nacional, e foi uma peça importante na manutenção do emblema do concelho de Vila Nova de Famalicão. Seguiram-se três temporadas no Rio Ave: no primeiro ano esteve na sombra de Oblak, tendo sido apenas utilizado nas taças, mas tanto em 2013-14, com Nuno Espírito Santo, como em 2014-15, com Pedro Martins, assumiu a titularidade na baliza vila-condense. O regresso à Luz aconteceu na época passada e a estreia pela equipa principal, no campeonato, foi precipitada por uma lesão de Júlio César: Ederson alinhou de início no derby em Alvalade, que terminou com triunfo “encarnado” e permitiu à equipa de Rui Vitória assumir a liderança da I Liga, que já não deixaria escapar. Desde então, o jovem brasileiro é o dono inquestionável da baliza.

“Não tirou a titularidade a um guarda-redes qualquer, o que só o valoriza. O Júlio César jogou muitos anos em Itália e na selecção brasileira”, recordou ao PÚBLICO o ex-guarda-redes internacional português Paulo Santos. “[Contra o Borussia] esteve bem entre os postes e a sair dos postes. Teve intervenções espectaculares. É um guarda-redes de nível internacional”, acrescentou.

A convivência com Júlio César foi importante para a evolução de Ederson, como o próprio jovem já admitiu. “Tenho a certeza absoluta que o Ederson acaba por beber do Júlio César, como de qualquer outro guarda-redes com quem tenha trabalhado. A copiar também se aprende. O posicionamento, abordagem, aspecto mental do jogo, tomada de decisão: a experiência dá-nos essa frieza e concentração e o Júlio César tem sido importantíssimo, assim como o Ederson tem sido importante para o desenvolvimento dos jovens guarda-redes do Benfica, que começam a vê-lo como um modelo”, apontou ao PÚBLICO o ex-guarda-redes e actualmente empresário futebol Sérgio Leite.

“Uma das qualidades que aprecio é a tranquilidade que tem em campo e transmite à equipa. Dá confiança aos companheiros”, disse Paulo Santos. Uma opinião corroborada por Sérgio Leite: “Assimilou várias técnicas e formas de abordagem. É um jogador frio, passa muita tranquilidade à equipa e joga bem em antecipação. É alto mas acaba por ser bastante rápido também. Tem jogo de pés e colocação à distância muito particular, começa a ser reconhecido internacionalmente por isso. Está a atravessar uma boa fase, o que aliado à idade e bom momento da equipa faz com que seja um dos principais activos do Benfica”. Os “encarnados” já acautelaram qualquer eventualidade, tendo no final de Janeiro renovado o contrato do guarda-redes até 2023, com a cláusula de rescisão a ser aumentada de 45 para 60 milhões de euros.

As exibições têm despertado a cobiça de alguns dos “tubarões” do futebol europeu. “Quando se é bom encaixa-se em qualquer lado”, sintetizou Paulo Santos. Mas Sérgio Leite acredita que o campeonato inglês seria o ideal para as qualidades de Ederson: “Pela exigência em termos de distribuição de jogo e colocação de bola em zonas específicas do terreno - nesse aspecto o Ederson está completamente à vontade. Pela envergadura que tem, é dominante no jogo aéreo e é rápido na baliza”, resumiu.

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