Determinar o centro do jogo

Executar o plano de jogo tal como ele é idealizado é o oásis de qualquer treinador. Mas por muito ousadas e visionárias que sejam as ideias de Pep Guardiola, dificilmente conseguiria impor a sua filosofia se não tivesse intérpretes à altura. Para desmontar a organização defensiva do Benfica, o catalão insistiu numa abordagem já mecanizada no Bayern e que é difícil de contrariar: a permanente variação do centro do jogo. E a estratégia resultou porque os pés e a cabeça dos alemães estão, a maioria das vezes, em sintonia.

Thiago Alcántara em vez de Xabi Alonso, como pivot defensivo, foi a alteração de maior impacto promovida por Guardiola. Com o Bayern disposto num 4x2x3x1 – em que Thiago e Arturo Vidal iam alternando na saída de bola –, o pressing alto começou por toldar os movimentos do Benfica e as rápidas mudanças de flanco, com passes a toda a largura do relvado, fizeram estragos logo no arranque da partida. Douglas Costa desmarcou Ribéry, Lewandowski arrastou um dos centrais e ofereceu o cruzamento fácil a Bernat. A qualidade do espanhol e o sentido de oportunidade de Vidal fizeram o golo inaugural.

Esse haveria de ser um dos tónicos do futebol ofensivo germânico. A mobilidade de Lewandowski e de Müller era muitas vezes explorada para desposicionar a linha defensiva do Benfica, abrindo alas para a ruptura no espaço de Vidal, quase sempre em zonas centrais.

Nos primeiros 15 minutos, o Bayern absorveu o adversário, graças a um bloco muito subido e a uma gestão exímia da posse de bola, que impedia Renato Sanches – também muito preocupado em marcar Vidal – de pegar no jogo. Os alemães conseguiam ter quase sempre cinco homens atrás da linha da bola nas raras ocasiões em que o Benfica estava em posse e, nos movimentos ofensivos, chegavam a descarregar seis unidades na área portuguesa.

Incapazes de construírem a partir de trás, os “encarnados” recorreram então ao jogo directo, aos lançamentos longos à procura do poder aéreo de Mitroglou e das segundas bolas que pudessem ser aproveitadas por Jonas e Gaitán. E começaram a sacudir a pressão bávara, que se tornou menos visível à medida que o desgaste físico se foi acentuando.

O 4x4x2 do Benfica, de resto, contou sempre com o excelente sentido posicional de Fejsa e com as ajudas permanentes de Pizzi, que viu a sua dimensão ofensiva ser sacrificada à custa dos equilíbrios que era forçado a garantir no apoio a André Almeida, permanentemente posto à prova pela imprevisibilidade do drible de Franck Ribéry.

No segundo tempo, Rui Vitória pediu uma pressão mais intensa em zonas adiantadas do terreno para condicionar a saída de bola do Bayern, quase sempre conduzida com mestria por Thiago Alcántara, e o Benfica acabou por nivelar um pouco mais as operações. Numa das recuperações perto da área contrária, Jonas dispôs da melhor ocasião para marcar, na cara de Neuer, e voltaria a estar perto do golo, por duas vezes, num lance de insistência de André Almeida.

Começaram, então, os ajustes pensados a partir do banco. Depois de reforçar o eixo da defesa com a imponência física de Javi Martínez, especialmente útil nos lances aéreos, Guardiola trocou Douglas Costa (um dos mais irreverentes) pela velocidade e maior verticalidade de Coman, mas os seus cruzamentos mortais nunca chegaram a sair da cartola. Do lado contrário, Rui Vitória refrescou o ataque com Jiménez e, mais tarde, deu profundidade ao jogo ofensivo com Salvio, deslocando o polivalente Pizzi para o miolo.

O Bayern esteve, então, muito perto do 2-0, mas seria um castigo demasiado pesado para um Benfica que soube manter-se vivo depois de ter sido atingido com um golpe desferido a frio.

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