Etíope Almaz Ayana pulveriza máximo de 23 anos nos 10.000m

Anterior melhor marca mundial já durava há mais de 20 anos e pertencia à chinesa Wang Junxia. A portuguesa Salomé Rocha foi 26.ª na prova, em 37 atletas.

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Almaz Ayana venceu os 10.000m femininos e com recorde do mundo Dylan Martinez/Reuters
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A etíope ao lado do marcador com a sua marca nos 10.000m PEDRO UGARTE/AFP

O atletismo olímpico teve um arranque de sonho no Rio de Janeiro, com um recorde do mundo batido. De forma inesperada e apesar de uma final de 10.000m femininos matinal, Almaz Ayana, a etíope que vinha dando cartas nos dois últimos anos nos meetings da Liga Diamante e a época passada se sagrara campeã mundial dos 5000m, em Pequim, pulverizou a marca global da dupla légua por uma margem incrível, e ainda para mais ultrapassando um recorde que nunca alguém havia aproximado. O tempo futurista de 29m17,45s passa a ser o novo limite feminino dos 10.000m, uma prova cada vez mais desprezada na Europa e que teve nos portugueses Fernando Mamede um antigo recordista mundial e em Fernanda Ribeiro uma campeã olímpica.

O anterior máximo, para mais, fora estabelecido nos famigerados Jogos Nacionais da China de 1993 por Wang Junxia (famosos pelos muitos casos de doping que se descobriram mais tarde), com 29m31,78s, em Pequim, a 8 de Setembro, e nunca alguém se chegara sequer a 20 segundos de tal marca, dado que antes desta sexta-feira a segunda performance de sempre era da etíope Meselech Melkamu, com 29m53,80s, em 2009. Wang Junxia tinha uma aura de inatacável, mas perdeu uma única corrida de 10.000m na sua carreira, e isso aconteceu para Fernanda Ribeiro na final olímpica de Atlanta de 1996. Nesta sexta-feira, perdeu finalmente o seu recorde mundial e depois de Genzebe Dibaba o ano passado ter também arrebatado o máximo mundial dos 1500m às chinesa dos Jogos Nacionais de 1993, falta agora apenas o recorde dos 3.000m, que ainda detém a mesma Wang Junxia.

No Rio de Janeiro, a prova foi iniciada por 37 atletas, entre as quais Carla Salomé Rocha. A portuguesa foi-se defendendo na cauda do pelotão e na cauda acabou, pois tendo havido duas desistências a portuguesa finalizou em 26.º lugar, com 32m06,05s, a décimas apenas do seu melhor, estabelecido este ano com 32m05,82s.

Logo após a partida o ritmo foi rápido graças à campeã africana Alice Aprot, do Quénia, que passou ao primeiro quilómetro com 3m01,53s e no segundo troço de prova aumentou o ritmo (5m55,74s), de forma a que ficaram só oito na frente – as três etíopes, Ayana, Gelete Buka e Tirunesh Dibaba, as três quenianas, Aprot, Betsy Saina e Vivian Cheruiyot, a americana Molly Huddle e a turca Yasemin Can, a campeã europeia de origem queniana.

Rapidamente se começou a perceber que algo de grande poderia acontecer, e isso ficou certo com a passagem a metade da prova em 14m46,81s, ainda com Aprot no comando. Foi logo a seguir que Almaz Ayana se fartou de tanto esperar e com um esticão isolou-se. Durante muito tempo Vivian Cheruiyot seguiu a etíope relativamente perto, mas Ayana não tirou o pé do acelerador e rapidamente começou a passar aos vários pontos de referência com larga vantagem sobre os tempos do recorde de Wang Junxia. Aos 8km transitava em 23m25,37s, contra 23m59,9s da chinesa, aos 9km (26m22,88s contra 26m44,8s) o recorde era certo, salvo acidente. Mesmo tendo de ultrapassar dezenas de atletas atrasadas, em primeira e segunda dobragem, o que lhe fez perder tempo, Almaz Ayana entrava para a história como autora de um dos mais fabulosos recordes mundiais femininos, tirando 14 segundos ao feito “inultrapasável “ da chinesa. Aos 24 anos de idade, ainda tem muito para fazer pelo meio fundo mundial.

Atrás, Vivian Cheruiyot obtinha a medalha de prata, em cima da marca do anterior recorde, com 29m32,53s, Tirunesh Dibaba, campeã olímpica nesta distância em 2008 e 2012 levava o bronze, com o recorde pessoal de 29m42,56s, e na melhor corrida da história Approt baixava dos 30 minutos, com 29m53,51s, enquanto no sexto lugar Molly Hudle estabelecia um novo recorde americano, com 30m13,17s. Só visto!

Mais à tarde, a final masculina de 20km marcha disputou-se num circuito urbano com 1km de extensão e com sol descoberto e tempo francamente quente, além de húmido. O britânico Tom Bosworth, uma das revelações do ano na marcha, comandou 13km isolado, ainda reagiu quando foi apanhado, mas acabariam por ser os chineses a fugir para a vitória, com o medalha de bronze de há dois anos, Wang Zhen, a impor-se a Cai Zelin, com 1h19m14s contra 1h19m26s. Noutro duelo apertado, o australiano Dane Bird-Smith (1h19m37s) conseguiu relegar o brasileiro Caio Bonfim (1h19m42s, recorde nacional) para fora do pódio.

Dentro do esperado e num pelotão inicial de 74 unidades, João Vieira foi 31.º com 1h23m03s, o seu irmão gémeo Sérgio Vieira acabou em 53.º, com 1h27m39s.

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