Depois do cessar-fogo, as FARC viram-se para o futebol

Os ex-guerrilheiros colombianos querem criar um “braço futebolístico” e, eventualmente, chegar ao profissionalismo. Mas não será fácil.

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Os guerrilheiros das FARC a jogar futebol pouco antes de se assinar o cessar-fogo REUTERS /John Vizcaino

Durante mais de 50 anos FARC quis dizer “Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia” e foi uma guerrilha de inspiração marxista-leninista em luta armada contra o governo colombiano, financiando-se com raptos, extorsão e até recorreu ao narcotráfico. Depois do cessar-fogo que terminou com o conflito, as FARC passaram a ser um partido político que vai concorrer nas eleições de 2018 e a sigla ganhou um significado diferente, “Fuerza Alternatina Revolucionaria del Común”. Para além da política, a antiga guerrilha também quer ter um “braço futebolístico” com um objectivo a longo prazo de ter equipas profissionais de homens e mulheres.

Chegou a falar-se que as FARC queriam ter, de imediato, uma equipa na segunda divisão colombiana, que integraria ex-combatentes e gente que foi afectada pelo conflito, mas esse seria um passo demasiado grande para uma organização que viveu na clandestinidade durante décadas. “Estamos conscientes que uma coisa é jogar à bola, outra bem diferente é o futebol profissional”, dizia ao “El Mundo”, Edgar Cortés, um antigo dirigente do futebol colombiano que foi nomeado como coordenador do projecto desportivo do agora movimento político, que chegou a convidar René Higuita para ser candidato nas eleições do próximo ano, um convite que o antigo guarda-redes colombiano recusou.

O sonho do profissionalismo ainda é uma coisa distante, mas foi o organismo que tutela o futebol profissional do país, o Dimayor, a revelar que houve um pedido do movimento haver conversas entre as duas partes sobre o assunto. Para uma equipa das FARC entrar na segunda divisão colombiana, o movimento teria de gastar uma verba a rondar os dez milhões de dólares só para inscrever a equipa, sem contar com um estádio. Um dos líderes da antiga guerrilha, Félix António Muñoz, reconhece que o movimento “não tem dinheiro para isto”, mas que até tinham “um único estádio disponível” numa região da Colômbia de maior influência FARC, para os jogos em casa.

Nos 26 campos de desmobilização espalhados por todo o país, o futebol é um dos passatempos preferidos dos guerrilheiros que largaram as armas. O futebol é melhor que a guerra. Será bonito o dia em que tivermos uma equipa e espero que cheguemos lá, para que as pessoas nos vejam de outra maneira. Há gente que nos odeia e que olha para nós como se fossemos animais, mas somos pessoas. Uma equipa de futebol podia mudar isso”, diz também ao “El Mundo”, um antigo guerrilheiro identificado como Camilo.

O objectivo imediato, acrescenta Edgar Cortés, é o de usar estes campos como pontos de partida para a reinserção dos ex-combatentes usando o futebol como nova arma, com a criação de equipas a nível regional (e que também teriam outras modalidades). Cortés foi mesmo o enviado das FARC à Catalunha para ver como funciona La Masia, o famoso centro de treinos do Barcelona e que serviria de modelo. Só depois de consolidada o recrutamento e a formação é que as FARC podem começar a pensar no futebol profissional. “Não acredito que um rapaz largue a espingarda e esteja logo pronto para o desporto profissional”, diz o dirigente das FARC. “Somos entusiastas, mas também somos apenas adeptos. Ainda temos um longo caminho a percorrer:”

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