Controlar sem vontade de acelerar

Não foi aos 42’ que o apuramento do FC Porto ruiu, ainda que a capacidade de reacção da equipa tenha ficado seriamente comprometida nesse momento. Já tinha ficado em causa há três semanas, no Estádio do Dragão. Sem necessidade de correr riscos, a Juventus deu uma lição de controlo sem incutir grande intensidade ao jogo e fez somente o suficiente para confirmar a supremacia que se adivinhava.

A afirmação da ideia de jogo de Massimiliano Allegri sobre a de Nuno Espírito Santo começou na forma como a “Juve” soube sacudir a pressão alta do FC Porto, tão habitual e asfixiante em contexto doméstico. A intenção dos “dragões” de condicionar a saída de bola do adversário caiu por terra antes dos 10 minutos, quando perceberam a facilidade com que o rival saía a jogar de forma apoiada. A partir daí, a equipa organizou-se, sem bola, atrás da linha do meio-campo à espreita de uma oportunidade para o contragolpe.

Com os laterais demasiado encolhidos, nomeadamente Maxi Pereira, o FC Porto raramente conseguiu ser objectivo e suficientemente vertical na abordagem às transições ofensivas rápidas. E as cautelas de Nuno Espírito Santo tinham razão de ser: a mobilidade de Cuadrado e, sobretudo, de Dybala aconselhavam prudência na forma como a equipa se desdobrava.

Nos primeiros 45 minutos, porém, a Juventus fez valer essencialmente a dimensão do seu jogo aéreo, com Cuadrado e Alex Sandro a procurarem a cabeça de Higuaín e Mandzukic, que causaram calafrios a Casillas num par de ocasiões. A habitual fiabilidade da dupla Felipe/Marcano era posta à prova e as dificuldades cresciam.

O 4x2x3x1 de Allegri notabiliza-se essencialmente pela mobilidade do quarteto mais adiantado e as permanentes incursões de Cuadrado e Mandzukic em zonas interiores, conjugadas com a facilidade com que Dybala e Higuaín baixam para receber e combinar mais livres de marcação, têm o condão de ir desmontando, pouco a pouco, a estratégia defensiva dos rivais. Tudo isto alicerçado, naturalmente, na elevadíssima qualidade individual dos intérpretes.

Um dos mais talentosos, dono quase cativo de uma das vagas no duplo pivot italiano, ficou desta vez de fora. Pjanic, o arquitecto do jogo ofensivo da “Juve”, foi preterido em favor de Marchisio, uma solução que configurava mais transporte e menos geometria no momento da criação. Mas a verdade é que o líder da Série A, confortável na gestão do resultado, nem precisou do melhor Marchisio.

A vida já estava complicada para o FC Porto quando a expulsão de Maxi Pereira tornou uma recuperação improvável numa missão impossível. Forçado a reconfigurar o sistema (4x3x3 com André Silva descaído sobre a direita) na segunda parte, Nuno Espírito Santo reequilibrou a defesa com Boly (Layún passou para a direita e Marcano desenrascou na esquerda) abdicando de André Silva e a equipa passou a dispor-se num 4x4x1 que se transformava num 4x3x2 em organização ofensiva, com Brahimi a aproximar-se de Soares. Aos 70’, nova mudança de pele, com Diogo Jota (a fechar à direita para conter Alex Sandro) a render o argelino e Otávio a tomar o lugar de Óliver.

Por esta altura, Allegri já tinha protegido Cuadrado do segundo amarelo e tornado Pjaca no principal agitador, com arrancadas sucessivas pela esquerda que Layún tinha dificuldade em contrariar. A “Juve” conseguia jogar dentro do bloco do FC Porto, mas sempre vigiada de perto e, mesmo com seis unidades perto da área contrária, não foi capaz de asfixiar um rival tão desgastado quanto organizado a defender.

Nesse sentido, o que os “dragões” extraem de mais positivo da eliminatória não são tanto os calafrios causados a Buffon por Soares e Diogo Jota, mas a capacidade de se adaptar a um contexto adverso. E de manter na consistência defensiva, apesar dos abanões, a pedra de toque do seu futebol.     

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