Conte dominou a Itália, Allegri tenta reconquistar a Europa

A Juventus, adversária do FC Porto nos “oitavos” da Liga dos Campeões, ainda não conseguiu replicar nas provas europeias a supremacia que alcançou nas últimas cinco épocas a nível interno

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Reuters/MIGUEL VIDAL

Na história do futebol italiano, para além da Juventus, apenas o “Grande Torino” da década de 40, e o Inter, beneficiando do escândalo de viciação de resultados que abalou o futebol em Itália em 2006, conseguiram vencer cinco scudettos consecutivos. Com sete pontos de vantagem sobre a concorrência a 13 jornadas do final da Serie A, a Juventus está lançada para ser o primeiro hexacampeão italiano, mas a hegemonia que o adversário do FC Porto nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões recuperou internamente, ainda não foi replicada a nível europeu: há mais de duas décadas que a “vecchia signora” não conquista qualquer troféu nas provas da UEFA.

Para muitos, será já uma memória distante, mas há precisamente dez anos, a Juventus estava na Serie B italiana, a preparar uma deslocação a Modena. No epicentro do processo Calciopoli, escândalo que ditou a descida de divisão administrativa da Juventus e a perda dos títulos de 2004-05 e 2005-06, o rival dos portistas foi ao tapete e atingiu o ponto mais baixo da sua história. Todavia, contando já com Buffon, que vai jogar no Dragão, e Chiellini, que deverá formar a dupla de centrais com Benatia, em apenas um ano os “bianconeri” conseguiram reerguer-se e regressar à Serie A. Mas para a “vecchia signora”, voltar a dominar Itália não foi tão simples.

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Em 2007-08, de novo na elite italiana, a “Juve” liderada por Claudio Ranieri conseguiu um honroso terceiro lugar, mas o actual técnico do Leicester acabou despedido na temporada seguinte e a Juventus entrou numa espiral de maus resultados, que resultaram em dois confrangedores 7.ºs lugares (2009-10 e 2010-11). Porém, tudo se alterou a partir de 2011, com a chegada de Antonio Conte. Antigo jogador da Juventus, o técnico reforçou a equipa de forma cirúrgica (Pirlo, Vidal e Vucinic), potenciou a (boa) matéria-prima que já havia em Turim (Buffon, Chiellini, Bonucci, Marchisio e Matri) e, com o seu rigoroso 3x5x2, superou o AC Milan numa luta que durou até à penúltima jornada. Essa foi, porém, a excepção no domínio da Juventus em Itália desde 2011: Nas quatro épocas seguintes, a “Juve” foi sempre campeã com, pelo menos, nove pontos de vantagem.

O meritório trabalho de Conte não passou despercebido à federação italiana, que entregou ao antigo internacional transalpino o lugar de seleccionador. Para o lugar do seu antigo médio, a Juventus apostou em Massimiliano Allegri, que meia dúzia de meses antes tinha sido despedido do AC Milan. Com um currículo modesto como jogador, mas dois títulos como treinador dos milaneses, Allegri herdou uma equipa que, com Conte, nunca se tinha afirmado a nível internacional. Após ser eliminado pelo Bayern nos quartos-de-final da Liga dos Campeões de 2012-13, com derrotas por 0-2 nas duas mãos, na época seguinte a Juventus ficou-se pela fase de grupos e, após cair para Liga Europa, foi afastado pelo Benfica nas “meias” da Liga Europa. Com a Itália mais do que dominada, Allegri tinha como principal desafio reconquistar a Europa, algo que a “vecchia signora” já não consegue há mais de duas décadas.

Com um início de reinado em Turim tranquilo na Serie A – sete vitórias e um empate nas oito primeiras jornadas de 2013-14 -, Allegri começou por repetir os fracassos de Conte na UEFA e perdeu dois dos três primeiros jogos na Liga dos Campeões, mas um empate no Vicente Calderón, na última jornada da fase de grupos, garantiu a Allegri a qualificação. Seguiu-se um apuramento tranquilo frente ao Borussia Dortmund (2-1 e 3-0), um duelo muito disputado com o Mónaco de Jardim (1-0 e 0-0) e um inesperado triunfo no frente a frente com Cristiano Ronaldo: apesar dos dois golos do português, a Juventus afastou o Real (2-1 e 1-1) e apurou-se para a final. Porém, o rigor táctico da “Juve” de Allegri de nada valeu aos italianos três semanas mais tarde em Berlim, onde o Barcelona foi mais forte, vencendo por 3-1. A reconquista da Europa pela “vecchia signora” ficava-se pelo “quase”. Na época passada, novamente sem concorrência à altura na Serie A, Allegri voltou a mostrar competência (vitória em Manchester, frente ao City de Guardiola), mas nos “oitavos”, numa das melhores eliminatórias dos últimos anos na Liga dos Campeões, caiu em Munique no prolongamento, depois de um golo de Muller, nos descontos, ter impedido o apuramento italiano.

Este ano, após duas épocas onde soube aprimorar o trabalho deixado pelo seu antecessor, Allegri foi audaz e fez um upgrade na sua equipa. Após se manter fiel ao 3x5x2 de Conte, Allegri ajustou a equipa à sua imagem e hoje, no Dragão, a Juventus vai-se apresentar em 4x2x3x1. Os primeiros sinais, mostraram uma equipa (ainda) mais fiável. Conseguirá Nuno Espírito Santo travar a reafirmação europeia da “vecchia signora”?

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