Clubes alemães ficarão incólumes ao mau comportamento dos adeptos

Federação deixou cair medidas como o encerramento de sectores nos estádios ou multas aos clubes.

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Os desacatos durante o Hansa Rostock-Hertha Berlim Reuters/HANNIBAL HANSCHKE

Bayern Munique e Bayer Leverkusen dão hoje o pontapé de saída da Bundesliga 2017-18 debaixo de um slogan de pacificação do futebol germânico. Ou de uma tentativa de pacificação, para sermos mais rigorosos. Isto porque a federação alemã (DFB) decidiu ontem rever a sua política de punições para casos de violência nos estádios, dando prioridade ao diálogo com representantes de clubes e adeptos. Um plano que assegurará também que a principal Liga do país se manterá no topo da hierarquia europeia no que à média de espectadores diz respeito.

A discussão sobre o mau comportamento de alguns grupos radicais de adeptos voltou a irromper depois do Hansa Rostock-Hertha Berlim da passada segunda-feira. Nesse encontro da 1.ª eliminatória da Taça da Alemanha, as claques dos dois clubes envolveram-se numa troca de insultos e de arremesso de tochas, numa espiral de violência que incluiu a queima de bandeiras e de algumas cadeiras do Ostseestadion. Os tumultos obrigaram mesmo à interrupção da partida por duas vezes, tendo pairado no ar o risco de cancelamento.

Em condições normais, Hansa Rostock e Hertha Berlim arriscariam uma multa pesada e o encerramento de uma das bancadas dos seus recintos por um período determinado, mas a política da DFB parece ter mudado. A ideia-chave passa a ser a sensibilização, em vez da punição colectiva. “Tem de haver uma renúncia à violência. Precisamos de construir uma base de confiança, resolver mal-entendidos e, juntos, definirmos linhas de conduta e limites”, defende Reinhard Grindel, presidente do organismo.

É uma volta de 180 graus no guião que a DFB tem seguido até agora e basta tomarmos como exemplo as consequências das agressões de alguns apoiantes do Borussia Dortmund aos do RB Leipzig (arremesso de pedras e latas), em Fevereiro passado, para percebermos que houve uma alteração de rumo. Na altura, Grindel determinou que se fechasse por um jogo a bancada sul do Signal Iduna Park, com capacidade para 25 mil espectadores, e que se aplicasse ao Borussia uma multa de 100 mil euros.

Média? 42 mil espectadores

“Vamos abster-nos, até prova em contrário, de impor sanções que tenham impacto directo nos adeptos cujo envolvimento nas violações das regras não tenha ficado provado”, explica agora o presidente da DFB, dando corpo a uma ideia defendida pela direcção do Dortmund justamente depois do incidente com o RB Leipzig. De resto, com esta posição, Reinhard Grindel acredita estar a defender também o negócio, preservando uma das imagens de marca do futebol alemão: os estádios cheios. Uma atmosfera que elogia e que considera ser “a inveja do mundo inteiro”.

É essa média de 42 mil espectadores por jogo na Bundesliga que a federação quer preservar (ou aumentar), descartando a interdição de sectores do estádio ou o cenário de jogos à porta fechada. “Durante este período, não queremos impedir o acesso às bancadas, não queremos jogos-fantasma”, insiste.

Esta posição merece o apoio expresso da entidade que organiza a Bundesliga, a DFL, prometendo a sua direcção, composta por Reinhard Rauball e Christian Seifert, um “envolvimento activo” na resolução do problema. Um primeiro passo no sentido da abertura ao diálogo foi já dado, com os representantes dos adeptos ditos tradicionais — por oposição aos grupos mais radicais — a aceitar o repto. “Agradecemos o empenho de algumas associações. Queremos percorrer em conjunto um caminho que leve à transparência e à tomada de medidas justas para promover uma atmosfera positiva nos estádios”, completa Grindel, empenhado em identificar os prevaricadores e deixar a justiça civil funcionar.     

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