Chris Froome entra para o Olimpo do ciclismo

O ciclista britânico juntou a vitória na Vuelta ao triunfo que já tinha alcançado no Tour, tornando-se no terceiro corredor na história a conseguir tal feito, depois de Anquetil e Hinault.

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Chris Froome Reuters/SUSANA VERA

Chris Froome já tinha garantido o seu lugar na história do Tour, a mais importante corrida de ciclismo por etapas do mundo. Vencedor da Volta à França por quatro ocasiões, o britânico só tinha à sua frente na lista de vencedores daquela prova quatro lendas: Jacques Anquetil, Eddie Merckx, Bernard Hinault e Miguel Indurain. Mas Froome tinha consciência que precisava de algo mais para provar que é um dos melhores de sempre em cima da bicicleta. Com o triunfo deste domingo, na Vuelta, o britânico assegurou também um lugar na história do ciclismo e a entrada no Olimpo da modalidade.

Desde 2008 que ninguém ganhava duas das três grandes voltas (Giro, Tour e Vuelta). O último a consegui-lo tinha sido o espanhol Alberto Contador (Giro e Vuelta), que neste domingo disse adeus à competição. Ontem, 39 anos depois e pela segunda vez no século XXI, Froome repetiu a façanha, conquistando, desta vez, o Tour e a Vuelta.

O feito só tinha sido conseguido por dois homens: os franceses Jacques Anquetil (1963) e Bernard Hinault (1978). Chris Froome torna-se no terceiro ciclista a alcançá-lo, mas o primeiro desde que a Vuelta se passou a disputar no final do Verão e não na Primavera.

A conquista da prova espanhola permite ainda ao corredor de 32 anos ver a sua carreira ganhar outra dimensão, já que as suas glórias deixam de estar unicamente centradas no Tour.

“Tenho estado a lutar por esta vitória há seis anos e em três fiquei no segundo lugar. Por isso, é fabuloso chegar ao primeiro lugar pela primeira vez”, explicou Froome depois de consumado o seu triunfo na geral a que juntou ainda o da classificação combinada e da tabela por pontos.

O vencedor da Vuelta revelou-se praticamente infalível ao longo da corrida espanhola e durante as 21 etapas cometeu apenas um erro, quando caiu por duas ocasiões. No resto revelou-se inalcançável e chegou ao final com a diferença máxima que conseguiu para o segundo classificado ao longo de toda a corrida.

O facto de ter conquistado a camisola vermelha, símbolo de líder da prova, logo ao terceiro dia e de se ver obrigado a defendê-la durante 18 etapas não o afectou, revelando mais uma vez a forma fria como encara a competição. Prova disto mesmo é o facto de em toda a sua carreira, nas grandes voltas, Froome só deixou fugir a camisola de líder numa só ocasião, no último Tour, na etapa de Peyragudes. Foi o italiano Fabio Aru a conseguir a proeza mas, dois dias depois, recuperou-a para não mais a largar.

A pensar no Giro

No currículo de Froome fica agora a faltar o Giro. E o chefe da equipa Sky disset ter “a mente aberta” quanto à possibilidade de participar na Volta a Itália, a única das três grandes voltas que não venceu. “Ainda não sei [quanto a participar no Giro, em 2018]. Tenho a mente aberta a essa possibilidade e vou pensar, mas alguma vez terei de tentar”, concluiu.

O recordista de “dobradinhas” continua, contudo, a ser o belga Eddy Merckx, que venceu cinco vezes o Tour, outras cinco o Giro e ainda uma vez a Vuelta.

O registo mais frequente é a dupla Giro-Tour, que aconteceu por 12 vezes, face a três de cada uma das outras combinações, sendo que nenhum ciclista arrebatou as três provas no mesmo ano.

Mas por que razão ainda ninguém conseguiu vencer, no mesmo ano Giro-Tour-Vuelta? São várias as explicações para que, até ao momento, nenhum ciclista tenha conseguido esse feito. Fisicamente, é um esforço brutal. Completar as três grandes Voltas deste ano, por exemplo, teria significado percorrer um total de 10.427kms. Isto é mais do que ir de Lisboa a Pequim.

Por outro lado, é indispensável que um ciclista consiga um bom e adequado tempo de recuperação entre cada uma das grandes competições. Só que o intervalo entre as três corridas é, sensivelmente, de um mês, o que não é muito para o que é exigido a cada atleta, especialmente se o objectivo é vencer a prova. Froome não fala nisso, mas não precisou disso para entrar no Olimpo da modalidade. jmatias@publico.pt

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