Catorze anos, catorze treinadores

De Jesualdo Ferreira a Abel Ferreira, as escolhas, os tiros certeiros e os fiascos de António Salvador.

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Alexandre Ribeiro/NFactos

Jesualdo Ferreira foi a primeira escolha – na muche – de António Salvador enquanto líder do Sp. Braga, que em 14 anos construiu a fama de ter dedo para os treinadores, paralelamente com uma média assinalável quando toca a fazer rolar cabeças, à razão de um timoneiro por ano.

A guia de marcha dada ao espanhol Fernando Castro Santos (uma escolha do antecessor) revelou uma das facetas mais marcantes do presidente bracarense, uma fama desmentida pelo ciclo de Jesualdo, que durou quatro épocas consecutivas e teve direito a “encore” em 2013-14.

Galardoado com o Dragão de Ouro em 2015, Salvador arriscou um arranque em tons de vermelho, atendendo ao passado de Jesualdo Ferreira (chegou ao Minho oriundo da Luz). Seguiu-se Carlos Carvalhal, um nome da casa, ainda que com vestígios de uma ligação ao FC Porto, nos tempos de jogador. Carvalhal foi a aposta depois de um quinto e dois quartos lugares dos bracarenses, classificações que assumiram ainda maior relevância depois da 14.ª posição, quase a resvalar para o impensável abismo, herdada em 2003.

Mas a pressão exercida sobre Carvalhal, penalizado pelo facto de ser de Braga, haveria de ditar a primeira “chicotada” amigável e, simultaneamente, a primeira aposta com uma forte dose de risco que Salvador tentaria mais duas vezes sem êxito.

Com oito vitórias em 14 jogos, Rogério Gonçalves sucumbiu à ambição do líder, que logo assumiu a simpatia pela escola de treinadores forjados no Dragão. Jorge Costa passava de lugar-tenente de Rogério Gonçalves a primeiro capitão de uma era que culminaria com o Sp. Braga a provar o doce sabor da glória… apesar de também Jorge Costa não ter concluído a missão.

António Salvador estava mais ousado na estratégia e entregava o comando técnico do clube a Manuel Machado, homem com forte vínculo ao rival V. Guimarães, ainda que tivesse chegado à “pedreira” directamente de Coimbra. O professor, com seis vitórias em 24 partidas, não fez, contudo, escola na cidade dos arcebispos, cedendo o lugar ao “catedrático” Jesus.

A conquista da Taça Intertoto, para além do quinto lugar (a corrigir o desvio do ano anterior), levou Jorge Jesus para a Luz e trouxe a grande revelação que foi Domingos Paciência, vice-campeão à primeira tentativa e finalista vencido da Liga Europa, troféu perdido para o FC Porto, em Dublin. A estreia na Liga dos Campeões, conseguida após duelo épico com o Sevilha, alimentou o sonho de Salvador: o título de campeão nacional que continua a perseguir.

A sucessão de Domingos criava, naturalmente, um vazio difícil de preencher, mas que o pragmatismo de Leonardo Jardim satisfez com distinção. O Sp. Braga voltava ao pódio da Liga, à frente do Sporting, e abria a porta da época seguinte a José Peseiro. Peseiro acabaria por sair no final da campanha, apesar do quarto lugar que já não saciava o presidente. E, pela primeira vez, Salvador repetia uma escolha anterior, apelando ao saber acumulado de Jesualdo Ferreira, que entretanto passara por FC Porto, Málaga, Panathinaikos e Sporting.

Mas a paixão extinguiu-se e António Salvador voltou a lançar os dados, projectando Jorge Paixão para um estrelato efémero, já que a ideia ruiu juntamente com as duas vitórias em 12 jogos e a consequente queda para o nono lugar, o pior do consulado de Salvador, se descontarmos o ano de estreia.

Uma humilhação sem precedentes de que os "guerreiros" recuperaram em dois tempos, com dois quartos lugares, pela mão de Sérgio Conceição e Paulo Fonseca, nomes com algum peso no panorama futebolístico. Salvador chegava, assim, aos dias de hoje, investindo de novo em Peseiro, numa espécie de mea culpa pela forma como se processara a saída do treinador quatro anos antes.

O desfecho é conhecido e a tentativa de voltar a escolher um nome em ascensão, um técnico à imagem do Sp. Braga, com uma ambição e um discurso que não deixassem margem para dúvidas, revelou-se mais uma vez um fiasco, com o registo de oito vitórias em 21 encontros de Jorge Simão a ditar a sexta chicotada e a entrada de Abel Ferreira em cena, o 14.º responsável técnico da colecção privada de António Salvador.

 

 

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