Trinta anos depois, o Brasil continua a discutir o título de campeão de futebol

O campeonato terminou em 1987, mas a discussão do título só agora está a chegar ao fim. Supremo decidiu contra o Flamengo.

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O Flamengo recorreu à justiça brasileira para ver reconhecido o título, mas voltou a perder o caso Reuters/PILAR OLIVARES

O Supremo Tribunal Federal brasileiro recusou esta terça-feira o recurso interposto pelo Flamengo para que lhe fosse reconhecido o estatuto de campeão brasileiro de futebol de 1987, um título que está em discussão há 30 anos. Os juízes decidiram, por três votos contra um, que o clube de Recife é o único vencedor dessa edição do Brasileirão, depois de décadas em que se debateu a partilha do título entre as equipas do Flamengo e do Sport Recife.

A origem da discussão remonta a 1987, quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) declarou que não tinha verbas para realizar o campeonato nacional. Face a esse cenário, os clubes brasileiros decidiram organizar a própria competição nacional. Deu-se então a criação do Clube dos 13. Na lista de equipas estavam Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama, Botafogo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional de Portalegre, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Bahia. À competição chamou-se Copa União.

Inicialmente, a organização desta competição foi apoiada pela Confederação Brasileira de Futebol, mas os clubes que ficaram de fora viriam a recorrer à CBF, que acabaria por organizar o campeonato oficial. Foi então que as duas organizações, o Clube dos 13 e a CBF, se reuniram e definiram que o campeonato iria ser disputado em dois módulos: o Verde (Clube dos 13) e o Amarelo (equipas a jogar pela CBF). O módulo verde foi vencido pelo Flamengo e o amarelo pelo Sport Recife e o último foi declarado campeão pela Confederação Brasileira de Futebol.

A CBF tentou então que os dois clubes decidissem o título de campeões jogando um contra o outro, mas o Flamengo recusou.

Em 1999, lembra o jornal brasileiro Globo, a justiça federal de Pernambuco reconheceu o Sport Recife como o único campeão de 1987. O Flamengo voltou a exigir reconhecimento pelo título e a discussão regressou em força em 2007, com a atribuição do troféu do Brasileiro (a Taça das Bolinhas). É que com o título de 1987 — e uma vez que o Flamengo foi campeão em 1980, 1982, 1983 e 1992 — a equipa tornar-se-ia a primeira pentacampeã brasileira.

A Confederação Brasileira de Futebol acabaria por reconhecer o título ao Flamengo como campeão em 2011, a par com o título do Sport Recife, mas três anos depois o Supremo Tribunal de Justiça anulou a decisão. No ano passado, o Flamengo voltou a recorrer. O veredicto foi conhecido esta terça-feira e reitera a decisão anterior de atribuir o título do campeonato exclusivamente a equipa vencedora do módulo amarelo, o Sport Recife. 

Quando tomou conhecimento da decisão, o clube pernambucano partilhou uma imagem da Taça das Bolinhas e reclamou para si a vitória do campeonato. 

O clube rubro-negro não demorou a responder e partilhou uma fotografia da equipa, em 1987, com a legenda “Campeão Brasileiro de 1987”.

“O Flamengo vai esperar a publicação da decisão para avaliar se cabe novo recurso. Nossa posição segue firme, uma vez que ganhámos o título no campo. A posição do Flamengo não muda, foi o legítimo campeão, ninguém pode tirar a alegria do torcedor de ser o campeão brasileiro de 87”, vincou o vice-presidente jurídico do clube, Flávio Willeman.

Os cariocas vão agora aguardar a publicação do recurso extraordinário. “Ainda há outro recurso extraordinário pendente de julgamento”, lembra Willeman. “Claro que os argumentos são muito parecidos, mas o Flamengo vai aguardar a publicação para dar os próximos passos jurídicos. A torcida do Flamengo, que comemorou o título de 87, vai continuar comemorando”, cita o jornal desportivo brasileiro Lance.

Horas depois, o clube voltou a comentar a decisão judicial, desta vez recorrendo à partilha de uma imagem que reúne “87 verdades e uma mentira”, onde se lêem factos e curiosidades sobre aquela que é uma das principais equipas do Rio de Janeiro.

Entre os destaques, o clube sublinha o número de adeptos — o maior no Brasil — e os títulos já conquistados: 50 mil medalhas e 5 mil taças em várias modalidades. A lista termina com uma adaptação de uma máxima argumentativa. “Contra factos há argumentos”, ironiza o clube.

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