Empate deixa Benfica com flanco da liderança aberto

Carapaça pacense resistiu a uma “águia” sem ideias e fez vir à tona todas as dúvidas que se levantaram desde a derrota de Setúbal. FC Porto pode isolar-se na frente da Liga.

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LUSA/ESTELA SILVA

O Benfica fraquejou e fê-lo na pior altura, exactamente quando estava proibido de oferecer o flanco a um FC Porto que anda há nove jornadas a agigantar-se. O nulo em Paços de Ferreira, na 26.ª jornada, abre não só a via da liderança aos portistas — privilégio que o campeão detém há precisamente meio ano —, mas também uma ferida profunda na auto-estima dos “encarnados”, cuja extensão será verdadeiramente testada no grande clássico da próxima jornada. Isto, claro, caso o FC Porto cumpra e some a décima vitória seguida na recepção de hoje ao V. Setúbal, como tem vindo a ameaçar.

Curiosamente, tinha sido frente aos sadinos que o Benfica tinha fracassado pela última vez no campeonato, averbando uma derrota que provou que a equipa não é imune a quebras ou derrapagens perigosas. Desde então, com sete vitórias consecutivas, o Benfica garantia a liderança, mas denotava já sinais de poder ceder, aumentando a desconfiança, por vezes disfarçada em momentos de inspiração individual. Mas os receios eram fundados e acabaram por ser confirmados em Paços de Ferreira, onde faltou às “águias” capacidade para se reinventarem e colocarem alguma alma num jogo decisivo.

Na verdade, o Benfica não estava preparado para desmontar o autêntico muro que encontrou, onde esbarraram as suas melhores intenções. Os “encarnados” passaram grande parte da noite a desgastar-se na tarefa de contornar obstáculos, para depois idealizarem algo parecido com desequilíbrios e capacidade de penetração. Apesar da histeria colectiva criada em torno do quinto amarelo de Pizzi, a questão da gestão de cartões não afectou as dinâmicas a esse nível, mas Pizzi não brilhou, emergindo pontualmente para assinar os desdobramentos que convidavam Salvio a romper e a inventar espaços onde parecia improvável a sua existência.

Ainda assim, o argentino esteve na primeira grande ocasião do jogo, mas não foi suficientemente expedito para atacar o cruzamento de Jonas — nesse lance, Salvio acabou, ele próprio, por embater com estrondo no poste. Um choque que poderia ter sido atenuado pela bomba de Eliseu, enviada com o intuito de verificar a dureza do ferro esquerdo da baliza de Rafael Defendi, no último lance de real perigo da primeira parte.

Um período em que o Paços de Ferreira optou por submeter-se à vontade do adversário, denotando uma ambição ao nível do lugar que a equipa ocupa na classificação.

Apesar de tudo, Welthon ainda tentou dar à ignição, primeiro com um cruzamento a que Ivo Rodrigues não tinha possibilidade de chegar e depois ao permitir que a experiência de Luisão resolvesse um problema de consequências imprevisíveis.

A estratégia pacense começava a produzir efeitos ao nível do sistema nervoso central do Benfica, que passou a duvidar das suas próprias capacidades para contrariar a resistência e um certo masoquismo dos “castores”, talhados para sofrer, sem grandes alternativas para montar uma rede que desse outro sentido. E foi essa dúvida que começou a minar a supremacia benfiquista e a levar o Paços de Ferreira a pensar que poderia fazer algo mais para além de defender.

A segunda parte sublinhou a presença de alguns jogadores, como Diego Medeiros, que lembraram a importância de Ederson, a evitar o descalabro total. O Benfica esgotava-se num círculo vicioso, insistindo num jogo exterior que não abalava minimamente a convicção pacense e lhe retirava quaisquer hipóteses de mudar o destino.     

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