André Silva, um avançado para (mais do que) consumo europeu

Na Liga Europa, o internacional português tem reclamado maior visibilidade na Série A, competição ?na qual o treinador do AC Milan tem recorrido a outros atacantes. Para já, igualou os números de Kaká.

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LUSA/CHRISTIAN BRUNA

Vincenzo Montella sabe bem em que águas nada um avançado. O actual treinador do AC Milan, com uma longa carreira de goleador em Itália, conhece com profundidade os meandros das áreas adversárias, as marcações férreas da Série A e o que é preciso para ultrapassá-las. A julgar pelas opções tomadas até à data, o técnico de 43 anos entende que André Silva ainda não está pronto para as exigências do campeonato italiano — ainda que o internacional português continue a reclamar, nas provas europeias, uma oportunidade no “onze” para consumo doméstico.

A questão está na ordem do dia em Itália. Se, nas primeiras semanas de André Silva em Milão, foi Montella a pedir confiança a todos os que franziram o sobrolho perante uma contratação de 38 milhões de euros, agora é parte da opinião pública e alguma imprensa desportiva a lançar o repto: “O que se segue para o avançado português?”. A pergunta tem razão de ser, à luz da gestão de recursos que o treinador tem feito no desenho do ataque rossonero.

Vamos a números. No campeonato, o 4x3x3 do AC Milan tem vivido quase em exclusivo do tridente Suso, Cutrone, Borini no sector mais adiantado. Até à data, o ex-goleador do FC Porto soma apenas 28 minutos na Série A, cumpridos na jornada inaugural, diante do Crotone, quando entrou aos 62’ para o lugar de Cutrone.Questionado sobre a ausência das primeiras escolhas do segundo reforço mais caro do clube neste mercado (só o defesa Bonucci custou mais, um total de 42 milhões de euros), Montella foi claro: “Ele terá espaço para se mostrar. Pelo que tenho lido, [André] Silva é um flop. Ele já jogou muito, tem muito talento e pode ainda crescer”, explicou.

A (saudável) dor de cabeça para o treinador é justamente o ritmo do crescimento do avançado. Sempre que foi chamado ao “onze” titular, correspondeu: três jogos, todos eles nas competições europeias, cinco golos. Os mais recentes chegaram anteontem, fora de portas, diante do Áustria Viena, na 1.ª jornada da fase de grupos da Liga Europa. Na capital austríaca, André Silva conseguiu nada menos do que um hat-trick (10’, 20’ e 56’), o segundo da carreira ao mais alto nível, depois de já se ter tornado no mais jovem jogador a alcançá-lo ao serviço da selecção de Portugal, diante das Ilhas Feroé, com 20 anos e 340 dias.

Esse foi, naturalmente, um dos marcos importantes numa carreira que continua em trajectória ascendente. Outro foi o facto de ter sucedido ao brasileiro Kaká, até à passada quinta-feira o último jogador do AC Milan a assinar três golos nas provas europeias (acontecera em 2006, diante do Anderlecht).

“André Silva está com fome de golo e tem muitos objectivos. Estes jogos são diferentes do futebol italiano e hoje [anteontem] ele foi capaz de explorar o ataque com qualidade. Esta exibição e estes golos vão dar-lhe confiança de que ele necessita”, resumiu Montella, traçando uma vez mais a diferença entre o contexto internacional e a competição interna.

Até agora, o técnico do actual 7.º classificado da Série A tem privilegiado jogadores com mais experiência de calcio — mesmo que no caso de Cutrone estejamos a falar dos escalões jovens. E é no sistema de 3x4x1x2, a alternativa para os embates na UEFA, que tem aceitado fazer mais concessões, contribuindo para o tal crescimento progressivo e sustentado de André Silva. Mas a exibição portentosa do português, aliada à confirmação da classe do turco Çalhanoglu (exímio a definir no último terço, mesmo sendo mais um 10 do que um segundo avançado), podem ajudar a baralhar as contas.

Nesta equação, porém, é necessário levar também em linha de conta o croata Kalinic, que fez dupla com André Silva diante do Áustria Viena, uma solução que alarga o leque de opções de qualidade do AC Milan, que recebe a Udinese no Estádio Giuseppe Meazza, amanhã, na 4.ª jornada da Série A.

Seja qual for a opção técnica, André Silva promete continuar a fazer a vida difícil a Vincenzo Montella, ou não fosse ele, actualmente, o melhor marcador da equipa. De resto, o AC Milan tem alguma tradição de goleadores estrangeiros que deixaram marca, de Marco Van Basten a Andriy Shevchenko, terminando, claro, no mais prolífico de todos: a lenda sueca Gunnar Nordahl.

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