Ana Cabecinha entrou a sofrer e acabou a sorrir

O sexto lugar é a melhor classificação de sempre da marcha portuguesa nos Jogos Olímpicos. As outras duas marchadoras portuguesas em competição também realizaram boas marcas individuais

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Damir Sagolj/Reuters

A prova de Ana Cabecinha nos 20km marcha podia bem ter acabado antes de começar. “Acordei com umas dores nas costas horríveis, foi muito difícil aquecer e tive de pedir ao fisioterapeuta que me retirasse a dor”, dizia a marchadora. Mas falhar a linha de partida nunca foi uma opção. Ana Cabecinha partiu, a dor diminuiu em andamento e já tinha voltado quando terminou a prova dos 20km marcha. Tinha voltado mas isso não era um problema. Ana Cabecinha tinha acabado de ficar em sexto nos 20km marcha, a sua melhor prova em três participações nos Jogos, e o melhor resultado olímpico da marcha portuguesa entre homens e mulheres.

Depois do oitavo lugar em Pequim 2008 e do nono de Londres 2012, Ana Cabecinha voltou, assim, a ter uma posição de destaque, ela que entrava nesta prova com a 10.ª melhor marca mundial do ano e a 11.ª com melhor recorde pessoal entre as 75 inscritas. A marchadora acabou com o tempo de 1h29m23s, a 48 segundos da vencedora, a chinesa Hong Liu (1h28m35s), que juntou o título olímpico ao título mundial obtido em 2015. A recordista mundial conquistou o ouro numa decisão ao sprint (tanto quanto as regras da marcha o permitem) quase em cima da meta, batendo nos últimos metros a mexicana Maria Guadalupe Gonzalez. Alguns segundos depois chegou outra chinesa, Xiuzhi Lu, que ficou com o bronze.

Ana Cabecinha andou quase sempre no grupo da frente. Houve um momento em que perdeu o contacto, mas ainda conseguiu voltar, antes de ficar para trás, em definitivo, depois dos 16km. Enquanto andou com as primeiras, admite a portuguesa, chegou a pensar em medalhas. “Cheguei lá quase. Quando me colei ao grupo, aí pensei que era possível andar na frente e lutar por elas. Mas não deu. Quando chegámos, o grupo partiu completamente e tentei gerir para tentar o melhor lugar possível. Fiz melhor que Pequim. Objectivo cumprido”, reforçou a marchadora, que não vai desistir de chegar a um pódio de uma grande competição, ela que foi quarta nos Mundiais de 2015: “Espero que o meu dia chegue. Já vou merecendo uma medalha, mas continuo atrás delas.”

Não foi só Ana Cabecinha que melhorou o seu desempenho olímpico. Também Inês Henriques fez melhor no Rio do que já tinha feito em Atenas (25.ª) e Londres (15.ª). A marchadora de Rio Maior foi 12.ª, com 1h31m28s, a 2m29s da vencedora. Também ela andou com as da frente, mas acabou por descolar bem mais cedo que Ana Cabecinha. “Estava bem. Quando elas aumentaram o ritmo por volta dos 10km, vi que já ia em esforço e tentei resguardar-me para depois conquistar alguns lugares. Depois contraí-me muito e já não consegui mais. Falhei o meu objectivo, que era o top 10, por dois lugares, mas este foi o meu melhor lugar nos Jogos”, disse no final a marchadora.

Inês Henriques vai agora fazer uma pausa competitiva para cumprir outros objectivos. “Não sei se vou estar noutros Jogos Olímpicos. Agora quero ser mãe e, a partir daqui, é conforme o corpo responder. Vai ser ano a ano. Tem respondido bem. Abandonar? Ainda não! Quero ser a primeira mulher em Portugal a fazer 50km. Não vou ficar por aqui”, revelou a atleta de 36 anos.

A novata do grupo era Daniela Cardoso, que, aos 24 anos, cumpriu a sua estreia olímpica com um 37.º lugar, com o tempo de 1h36m13s. Não foi a estreia ideal, mas também não foi uma frustração para a atleta nascida em Cascais, que já aponta para Tóquio 2020. “Estava na 54.ª posição na start list, e terminar neste lugar penso que foi bastante bom. O grande objectivo da minha época era estar presente nos Jogos Olímpicos. Já é uma grande vitória ter chegado aqui. Apesar de ter tido uma época com grande evolução foi muito difícil.”

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