Corinthians em ruptura com claques após violência de adeptos contra a equipa

Instalações do clube foram invadidas e palco de agressões. Ministro do Desporto diz que não há relação com o Mundial.

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Adeptos do Corinthians causaram problemas no próprio centro de treinos do clube brasileiro Yasuyoshi Chiba/AFP

Um início de campeonato estadual aquém das expectativas foi o suficiente para os adeptos do Corinthians esquecerem os troféus conquistados no passado recente – Taça dos Libertadores e Mundial de clubes em 2012 e Recopa Sul-Americana em 2013 – e partirem para a violência. Cerca de uma centena de elementos das claques organizadas do clube invadiu o centro de treinos do Corinthians no sábado, num episódio marcado por agressões, furtos e intimidação aos jogadores. O presidente do emblema paulista, Mário Gobbi, disse que “não há clima para diálogo” com os grupos de adeptos e confirmou a abertura de um inquérito policial.

Tudo começou com a goleada sofrida diante do rival Santos (1-5). Após esse resultado as claques do Corinthians invadiram o centro de treinos do clube – que será usado pelo Irão de Carlos Queiroz durante o Mundial 2014 – para questionar os jogadores. A equipa teve de barricar-se no balneário para evitar a entrada dos adeptos, que agrediram uma funcionária do centro de treinos, derrubaram um outro funcionário de 68 anos e roubaram três telemóveis. O portal Globoesporte conta que o peruano Paolo Guerrero, autor do golo que valeu a conquista do Mundial de clubes em 2012, preocupado com os seus pertences, tentou passar pelos adeptos mas foi esganado por um deles.

A Polícia Militar foi chamada mas não fez detenções. Os adeptos – entre os quais estaria um dos 12 que foram detidos no ano passado, na Bolívia, na sequência da morte de um adepto do San José – só saíram do local depois de conversarem com o treinador Mano Menezes.

Só que as coisas não melhoraram. A equipa não queria entrar em campo no domingo, frente ao Ponte Preta, mas o jogo acabou por realizar-se. “Segundo a Federação Paulista de Futebol e a TV Globo, não era possível fazer o adiamento do jogo já que diversos compromissos envolviam a questão”, podia ler-se num comunicado do Corinthians. O “Timão” voltou a perder (foi a terceira derrota consecutiva no campeonato paulista, o que faz deste o pior início no torneio desde 2004). Nas fotos divulgadas pelo Globoesporte é visível a tensão no balneário do Corinthians antes do início da partida.

Estes incidentes trouxeram de volta as preocupações com a violência no futebol brasileiro. Na última jornada do Brasileirão, o encontro entre Atlético Paranaense e Vasco da Gama esteve interrompido durante longos minutos devido aos confrontos nas bancadas que deixaram várias pessoas feridas. Mas o ministro brasileiro do Desporto, Aldo Rebelo, desvalorizou qualquer ligação ao Mundial: “O episódio não tem nenhuma relação com a Copa do Mundo. Foi algo dirigido contra um clube, sem qualquer ligação”.

As reacções públicas vão, contudo, em sentido contrário. “Isso é o retrato do nosso país, o país da impunidade e da corrupção. Não é uma coisa específica do futebol. Ninguém respeita mais ninguém. Parece terra sem lei. A verdade é que eu não saio mais de casa”, vincou o treinador do São Paulo, Muricy Ramalho, no domingo. “A sociedade está violenta. Tem que andar de carro blindado. Daqui a pouco é tanque de guerra”, acrescentou.

“Depois do que aconteceu, não há a menor intenção de diálogo [com as claques]”, garantiu o presidente do Corinthians. E Mário Gobbi pediu às autoridades para actuarem: “Não é o Corinthians que fiscaliza se [as claques] podem ou não podem actuar. Todas as imagens gravadas pelo circuito interno sobre o ocorrido serão entregues à Polícia Civil e ao Ministério Público para a identificação e punição dos culpados”.

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