A pior final da Taça dos Campeões Europeus

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O Estrela Vermelha ganhou a Taça dos Campeões Europeus em 1991 DR

Há 25 anos o Estrela Vermelha foi o penúltimo vencedor da então denominada Taça da Europa dos Clubes Campeões, na fórmula iniciada em 1955 com um golo português de João Martins aos 14 minutos, no Sporting-Partizan de Belgrado. O jogo de Bari, em 1991, deixou muito pouco para contar. A revista italiana Guerin Sportivo chamou-lhe a final dos fantasmas e não foi meiga: se existisse um título para a pior de todas, o primeiro lugar ia para o Marselha-Estrela Vermelha.

Na época seguinte começava um novo ciclo. A UEFA introduziu uma fase de grupos para preparar a Champions League em 1992, que iria reforçar o poder dos países mais fortes, mas viabilizava também a participação de clubes sem pedigree como Viktoria Plzen, Zilina ou Bursaspor, contra a vontade das elites do futebol europeu. 

A despedida da gloriosa Taça dos Campeões merecia melhor espectáculo, mesmo no inesperado cenário de Bari, num dos elefantes brancos construídos para o Mundial de 1990. O jogo pouco ou nada teve de interessante para justificar a ida até ao sul de Itália, ao Estádio San Nicola, hoje simplesmente palco de jogos da Série B. A equipa jugoslava tinha  jogadores de qualidade, capazes de muito mais do que aquilo que mostraram num jogo decidido pelos penáltis e pelo pontapé errado do francês Amoros.

Os principais clubes italianos já estavam de olho em alguns deles e partiram para a caça. Jugovic começou na Sampdoria, esteve na Juventus e acabou no Inter; Mihaijlovic, que até há poucas semanas era o treinador do Milan, fez as malas para Roma, passando depois pela Sampdoria, Lazio e Inter. Darko Pancev acrescentou ao seu cartão de visita o segundo lugar na corrida à bota de ouro em 1991, mas foi Savicevic o que melhor se adaptou ao futebol italiano, representando o Milan durante seis épocas. Já nesse tempo os jugoslavos eram muito apreciados e chegaram a ser cerca de 2.500 aqueles que foram à procura de clube no estrangeiro.

Já em vésperas da guerra civil, o desmembramento da República Federativa Jugoslava fez com que jogadores que representaram a mesma selecção se tornassem  adversários uns dos outros: os que eram jugoslavos passaram a ser croatas, sérvios, bósnios, eslovenos ou macedónios. E nalguns casos, mesmo em relações de família, mais do que adversários tornaram-se inimigos.

Quando ganhou a Taça dos Campeões, o Estrela Vermelha era o grande clube de referência dos jugoslavos não apenas no futebol, mas também noutras secções, chegando a praticar à volta de 25 modalidades. Foi fundado por estudantes em 1945 e um deles chamava-se Branko Stankovic, um duro que em 1975 chegou a treinar sem sucesso o FC Porto, numa época de grande oposição aos técnicos vindos de fora.

O actual clube de Hugo Vieira, que Ricardo Sá Pinto também conheceu como treinador, foi sempre uma grande escola de jogadores. Outro campeão europeu de 1991, Robert Prosinecki, que jogou no Real Madrid e no Barcelona, já tinha sido notado ao vencer o prémio para o melhor jogador jovem do ano anterior e acabou por ir para Madrid, libertado pela FIFA contra a vontade da federação de futebol jugoslava. Anos depois, regressou a Belgrado e cumpriu um sonho: treinar o Estrela Vermelha.

 

 

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