A natação portuguesa não quer esperar mais 28 anos

Alexis Santos conquistou um lugar na história ao ser o segundo português a marcar presença numa meia-final da natação nos Jogos Olímpicos. E espera que tenha sido o primeiro passo para a modalidade começar a ter mais resultados.

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Alexis Santos teve um desempenho meritório nos Jogos do Rio de Janeiro DR

Escreveu-se uma página histórica da natação e do desporto português nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, com a presença de Alexis Santos na meia-final dos 200m estilos a encerrar uma espera que durava há 28 anos. A última vez que um nadador português tinha estado entre os 16 melhores acontecera em 1988, nos Jogos de Seul, onde Alexandre Yokochi foi nono classificado nos 200m bruços.

“Sei que é um marco importante para a natação portuguesa. Demos um passo em frente. Nos próximos Jogos queremos fazer mais duas ou três [meias-finais] e se calhar uma final. Esse é o objectivo, que a natação portuguesa cresça com este resultado”, sublinhou Alexis Santos, em conversa com o PÚBLICO. Os olhos do nadador do Sporting – que ao 12.º posto nos 200m estilos juntou ainda o 14.º lugar nos 400m estilos, com recorde nacional – estão postos no registo de Yokochi que lhe falta bater: este continua a ser o único português a ter marcado presença numa final olímpica, tendo sido sétimo nos 200m bruços, em Los Angeles 1984. Em Maio, nos Europeus de piscina longa, Alexis conquistou a primeira medalha (bronze nos 200m estilos) portuguesa desde 1985, quando Yokochi alcançara a prata.

O treinador de Alexis Santos, Carlos Cruchinho, tem a perspectiva ideal da dimensão do feito alcançado pelo nadador no Rio 2016: “Eu tive a felicidade de ser colega de equipa do Alexandre Yokochi, e realmente aquilo foi fantástico na altura. Passados 28 anos, o Alexis está perto daquilo que o Alexandre conseguiu. Espero que não tenhamos de esperar mais 28 anos”, afirmou ao PÚBLICO. “O Alexis e o Alexandre têm muitos pontos em comum. São ambos muito ambiciosos, focados, competitivos – é preciso chegar a estes momentos e não claudicar, mas sim superar-se. Há muitos pontos de contacto. Os campeões têm sempre alguns aspectos fundamentais que os diferenciam dos outros”, reconheceu.

“Não havia resultados assim há 28 anos e isso é que é preocupante. Espero que seja a mola que nos faça catapultar para resultados destes de forma regular, e depois resultados ainda melhores. É perfeitamente possível, eles provaram que sim”, frisou Carlos Cruchinho, questionando: “Por que é que estamos 28 anos sem conseguir estes resultados?” A resposta surge de imediato: “Acho que há muita falta de confiança. Não é só na natação, mas vejo muita acomodação no sentido de acharmos que não somos capazes. Estes nadadores vieram provar que é possível e espero, sinceramente, que isto faça com que os atletas também acreditem. Se o Alexis conseguiu dois resultados no topo da natação mundial, nos Jogos Olímpicos, porque é que os outros não hão-de conseguir? É uma questão de crença”, reforçou o técnico.

O nadador corrobora as palavras do treinador e refere-se à tal “barreira invisível” que bloqueava os nadadores nacionais: “Se calhar era mais uma coisa mental, mas acho que agora ficou à vista de todos que é possível. Apesar de serem os meus primeiros Jogos Olímpicos, encarei esta prova como outra qualquer. Já estive em Europeus e Mundiais, já estive na câmara de chamada com grandes nadadores, mas sempre agi naturalmente. Não fiquei a pensar que ia chegar à piscina e ia haver muita gente e muito barulho. Isso sempre houve, e sempre encarei isso de forma natural, como algo motivador.”

Os resultados obtidos por Alexis Santos no Rio 2016 são como a cereja no topo do bolo para a natação portuguesa, que viveu uma época “brilhante”, diz Cruchinho. “Tivemos dois nadadores na final do Europeu, tivemos um medalhado na final do Europeu, tivemos uma campeã da Europa júnior. Tivemos um conjunto de resultados de topo que já não tínhamos há muito tempo. O fundamental é não deixar que isso caia, não acharmos que já fizemos tudo e somos muito bons. É pegar nisso e potenciar, fazer com que não seja um acaso”, sublinhou.

Alexis Santos não esconde a determinação: “O objectivo é que tenha sido o primeiro passo para a natação crescer e começar a ter mais resultados destes. Mais medalhas em Europeus, mais finais, que possamos em Mundiais e Jogos Olímpicos ter mais do que uma meia-final ou duas. E continuar a sonhar, a ambicionar, com a final. Para que depois, no futuro, consigamos chegar a estas grandes competições e sonhar com coisas mais altas.”

A nível pessoal, o nadador do Sporting ainda não sabe como será o período até aos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Há dois anos interrompeu o curso para dedicar-se à natação a tempo inteiro, mas na noite de quarta-feira, a seguir a nadar a meia-final, confessou que será difícil continuar assim nos próximos quatro anos. “O Alexis tem 24 anos, agora vai descansar e tem de pensar no que quer fazer. Falámos algumas coisas, mas ele é que vai ter de decidir. Ele parou de estudar para dedicar-se à natação, e agora tem de organizar muito bem a vida dele para os próximos Jogos”, notou o treinador Carlos Cruchinho. Voltar a ir para fora do país (Alexis Santos já passou um ano em Espanha a treinar) pode ser uma opção. “Se ele o entender, não é descabido. O facto de ele ter estado um ano fora deu-lhe muito arcaboiço.”

Concluída a participação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e com sentimento de missão cumprida, Alexis Santos confessou ao PÚBLICO que pretende descansar e ver um pouco da “Cidade Maravilhosa”. “Estão cá as minhas duas irmãs, o meu pai e alguns amigos meus. Vou tentar ver um bocadinho do Rio de Janeiro, aproveitar para estar com eles e descansar um pouco. Vamos embora no dia 14”, disse. E até lá também terá tempo para responder a todas as mensagens que recebeu: “Foi um apoio... sinceramente não estava à espera. Recebi muitas mensagens, de pessoas com quem já não falava há anos, de pessoas que não conheço, que tiveram o trabalho de me estar a mandar mensagem de boa sorte e de parabéns a seguir a eu nadar. Foram mensagens motivadoras, que me deixaram muito feliz.”

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