A matemática legitima a maioria das “chicotadas” nesta época

Apenas cinco clubes mantêm-se fiéis ao treinador que iniciou a temporada 2016-17, mas na maior parte dos casos a alteração no comando técnico produziu efeitos positivos nos resultados desportivos

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Gregorio Cunha

Com 17 trocas de treinadores em 26 jornadas – duas por vontade dos próprios técnicos -, Portugal lidera no ranking das “chicotadas psicológicas” numa competição com os campeonatos do top 5 do futebol europeu (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália), mas será que compensa trocar de treinador no decorrer da época? Olhando para o que se passou nesta temporada, a matemática diz que sim: Apenas Pedro Carmona (Estoril), Jokanovic (Nacional) e Jorge Simão (Sp. Braga) não fizeram uma média de pontos por jogo melhor ou igual ao antecessor.

No total, desde que a 12 de Agosto, em Vila do Conde, Rio Ave e FC Porto deram o pontapé de saída para a I Liga 2016-17, já existiram 17 mudanças de treinadores, mas à excepção do D. Chaves, que não trocou de técnico por vontade dos seus dirigentes, dos três “grandes” (Benfica, FC Porto e Sporting), e dos dois Vitórias, dois terços dos clubes I Liga confirmaram a velha máxima do futebol: quando os resultados desportivos não agradam, o treinador é sempre o elo mais fraco.

A primeira “chicotada psicológica” da época aconteceu a 19 de Setembro, ao fim de apenas cinco jornadas, e foi um prenúncio do que se passaria, na maioria dos casos, nos meses seguintes. Com Paulo César Gusmão no comando técnico, o Marítimo somou apenas três pontos em cinco jogos (média de 0,60 pontos por partida). Com os funchalenses na 17.ª posição, os dirigentes maritimistas avançaram para a rescisão do contrato com o brasileiro e escolheram Daniel Ramos como seu sucessor. Meio ano depois, o Marítimo está num lugar que pode dar acesso à Liga Europa (6.ª posição) e o treinador português, de 46 anos, regista uma notável média de 1.76 pontos por jornada.

Mas há quem tenha conseguido uma alteração de resultados ainda mais radical. De regresso ao principal escalão do futebol português, o Feirense parecia, perto do final da primeira volta, condenado a manter a tradição: até esta época, a equipa de Santa Maria da Feira nunca conseguiu manter-se duas temporadas seguidas na I Liga. Com 11 pontos em 14 jogos, o Feirense ocupava a penúltima posição quando José Mota cedeu o seu lugar a Nuno Manta, uma “homem da casa”, e com o jovem técnico de 38 anos o Feirense saltou da 17.ª para a 11.ª posição e a média de pontos passou de 0.78 para valores que, se mantidos desde o início da época, colocariam os feirenses em lugares europeus: 1.75 pontos por jornada.

As “chicotadas” bem-sucedidas desportivamente não se ficam por aqui. Boavista e Rio Ave trocaram de treinadores ainda no primeiro terço do campeonato e os boavisteiros, com Miguel Leal, e os vila-condenses, com Luís Castro, viram o seu rendimento desportivo subir de forma inequívoca. Menos impactante foi a alteração técnica no Paços de Ferreira, mas Vasco Seabra está a conseguir uma média de pontos superior a Carlos Pinto: 1.13 pontos por jornada contra 0.90. No Belenenses e no Moreirense manteve-se praticamente tudo igual: os “azuis” continuaram a fazer a mesma época tranquila que estavam a realizar com o espanhol Julio Velázquez; os “cónegos” com Augusto Inácio (que saiu esta semana apesar de ter ganho a Taça da Liga), mantêm-se no mesmo antepenúltimo lugar em que estavam à 10.ª jornada.

Há, no entanto, o reverso da medalha. Com o Estoril na 11.ª posição e a realizar um campeonato tranquilo, Fabiano Soares (1.15 pontos por jogo) foi substituído à 13.ª jornada pelo Pedro Carmona. O desfecho dificilmente podia ser pior. Com uma paupérrima média de 0.45 pontos por jogo, o técnico espanhol somou apenas cinco pontos em 11 jornadas, valores que colocariam os “canarinhos” na última posição se somados desde o início do campeonato.

Tal como no Estoril, na Madeira o Nacional já vai no terceiro treinador e a troca de Manuel Machado por Jokanovic também se revelou um fiasco. Se com Machado, desde ontem ex-treinador do Arouca, os nacionalistas conseguiram 11 pontos em 15 jogos (média de 0.73), com o sérvio foram apenas seis pontos somados em 11 jornadas (0.54). Em Braga, apesar de Jorge Simão ter mantido os bracarenses no quarto lugar, os números de José Peseiro eram superiores. Quando o técnico ribatejano foi despedido, o Sp. Braga tinha uma média de dois pontos por jogo. Com Simão, os valores desceram para 1.53 pontos conquistados por partida.

 

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