FC Porto: a continuidade da indefinição

A substituição de Lopetegui por José Peseiro ainda não originou a estabilização pretendida na equipa do FC Porto. A troca de treinador a meio da época é sintoma do descontentamento dos responsáveis "azuis-e-brancos" com o modelo de jogo preconizado pelo timoneiro basco (futebol de excessiva circulação no primeiro terço e infrutífero nos últimos trinta metros). Lopetegui saiu, mas a sua filosofia ainda está impregnada na cabeça de muitos jogadores (o que emperra a fluência das novas ideias de Peseiro).

O novo treinador ainda não definiu a estrutura a utilizar na maior parte dos jogos (nem os intervenientes para a interpretar). Já foi experimentado o 4x2x3x1, com somente dois médios puros, mais defensivos (Danilo e Rúben Neves), soltando depois, numa segunda linha, um médio ofensivo. Nesta posição “10” já foram utilizados vários elementos, todos com interpretações diversas para o lugar (Herrera, André André, Varela, Corona e Brahimi), inviabilizando assim um conveniente diálogo entre a zona de construção e a zona de definição.

É notório que Peseiro quer romper com o jogo passivo que antecedeu a sua chegada, incutindo à equipa uma vertigem atacante (introduzindo muitos jogadores em zona de finalização). Ao avançado-centro juntam-se as diagonais dos extremos (movimentos pronunciados de fora para dentro) e o aproximar de dois médios (um no interior e outro à entrada da área, procurando passe atrasado ou remate de “ressaca”). Esta maior saturação do espaço central permite uma circulação mais rápida, sendo a largura deixada quase exclusivamente a cargo dos laterais Maxi e Layún (jogador que soma já 16 assistências na temporada).

Sendo esta uma revolução nos processos ofensivos, o dinamismo não está ainda bem oleado. Este modelo é antagónico quando comparado com o ataque posicional mais contido gizado por Lopetegui, preocupado com o momento de perda da bola (para posterior reorganização equilibrada). Este balanceamento desestabiliza, sobretudo, os momentos de transição defensiva (“o calcanhar de Aquiles” de Peseiro), existindo uma grande distância entre linhas (média e defensiva), facilmente preenchida por adversários que aproveitam esse espaço para explorar o adiantamento da defesa desprotegida do FC Porto.

Para conseguir ainda bons resultados esta época e (talvez) começar já a próxima de forma consistente, Peseiro tem de encontrar uma harmonia entre o que de bom foi feito por Lopetegui (equipa segura e equilibrada) e as suas concepções de bom futebol desequilibrador. Analista de futebol

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