A camisola da princesa Grace regressou ao topo do futebol francês

Leonardo Jardim está a um pequeno passo de interromper um jejum de 17 anos do Mónaco no campeonato francês. A festa monegasca pode sair para a rua já esta noite.

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Leonardo Jardim é o treinador do momento em França Reuters/STEPHANE MAHE

Já ninguém duvida que o Mónaco será o novo campeão francês, encerrando uma era de quatro anos de total domínio do PSG na Liga. A consagração pode chegar já esta noite na recepção ao Saint-Étienne (20h), bastando um empate para os monegascos festejarem. Será o oitavo título do clube treinado por Leonardo Jardim e o fim de um longo jejum de 17 anos. Este é também o último capítulo de uma história de sucesso, com muitos sobressaltos pelo meio, iniciada há 56 anos, com a conquista do primeiro campeonato. Precisamente no ano em que a princesa Grace Kelly idealizou a camisola estampada em diagonal com vermelho e branco, que perdura até hoje.

Grace Patricia Grimaldi, nome de casada da actriz Grace Patricia Kelly, não era exactamente uma amante do desporto, mas aceitou apadrinhar o AS Mónaco, em 1961, cinco anos depois da badalada união com o Príncipe Rainier III. O seu desenho da nova camisola do clube (que era até então listada com vermelho e branco na vertical), não poderia trazer mais sorte ao emblema, que procurava afirmar-se no primeiro escalão francês. No mesmo ano, conquistou um inédito campeonato e, duas épocas depois (1962-63), protagonizou a campanha mais espectacular da sua história nas competições gaulesas, com uma dobradinha, juntando à segunda liga a Taça de França.

Até à sua trágica morte, em Setembro de 1982, com apenas 52 anos, na sequência de um acidente de viação, esta antiga diva de Hollywood viu o AS Mónaco averbar mais dois campeonatos, em 1977-78 e em 1981-82, meses antes do seu desaparecimento. Em pouco mais de duas décadas, a equipa tornara-se numa potência futebolística em França, com quatro títulos na Liga. Seriam necessários mais 35 para somar outros quatro (já dando o actual como adquirido), num total de oito, que coloca os monegascos como a terceira equipa com mais êxitos no campeonato, igualando o Nantes e apenas atrás do Marselha (nove campeonatos) e do Saint-Étienne (10).

Será precisamente frente ao líder deste ranking que o Mónaco irá procurar esta noite o ponto que lhe falta para fazer já a festa, no jogo que tem atraso na liga. Se falhar terá ainda outra oportunidade na deslocação a Rennes, na última ronda, marcada para o próximo dia 20. Mas, na realidade, a pressão é quase nula para os jogadores de Leonardo Jardim, que nem precisariam ganhar nenhum destes encontros para serem campeões.

Ou seja, caso percam estas duas partidas e o PSG, segundo classificado, vença o único jogo que ainda tem para disputar (recebe o Caen, no dia 20), as equipas ficariam em igualdade pontual. Como no campeonato francês o primeiro factor de desempate é determinado pela diferença entre os golos marcados e sofridos, o cenário é praticamente idílico para os monegascos, que têm uma vantagem de 17 golos sobre o adversário parisiense. Só uma hecatombe sem precedentes poderia afastar o conjunto de Jardim do êxito.

Para o técnico português, nascido na cidade venezuelana de Barcelona, há 42 anos, este será também o ponto culminante de uma carreira ascendente, iniciada no Camacha, em 2003-04. Seguiram-se o Chaves, o Beira-Mar, o Sp. Braga e a primeira aventura nos palcos internacionais, ao serviço do Olympiacos. Uma passagem efémera pelo futebol grego, onde acabou demitido, sem razão aparente, quando comandava destacado o campeonato, acabando a equipa de Atenas por sagrar-se campeã e conquistar a Taça da Grécia. Regressou a Portugal pela porta grande do Sporting, que levou ao segundo lugar do campeonato, em 2013-14, antes de rumar ao Mónaco.

Depois de dois terceiros lugares (2014-15 e 2015-16), elevou esta temporada o patamar competitivo. Tanto na principal competição francesa como na Liga dos Campeões, onde chegou às meias-finais, antes de ser eliminado pela Juventus, após ter deixado pelo caminho o Manchester City e o Dortmund. Com um futebol atractivo, sempre com a baliza na mira (102 golos no campeonato, até ao momento, a uma média de 2,8 por partida), apostou na juventude, com oito jogadores com menos de 21 anos, num plantel onde brilharam também os portugueses Bernado Silva e João Moutinho.

A conquista de Jardim será também a afirmação do projecto conduzido pelo milionário russo Dimitri Rybolóvlev, proprietário do clube desde 2011, altura em que a equipa caíra para o segundo escalão, de onde regressou em 2013-14, pela mão do italiano Claudio Ranieri. Fundamental para a progressiva afirmação desportiva do futebol monegasco nestes últimos anos, foi também o empresário português Jorge Mendes, que agenciou a transferência de jogadores importantes como Falcao, João Moutinho, Bernardo Silva, James Rodríguez (que rumou, entretanto, para o Real Madrid) ou Fabinho (ex-Rio Ave).

Com contrato até ao final da temporada 2018-19, Leonardo Jardim passou a ser um dos treinadores mais cobiçados do momento e a sua aventura no principado pode estar perto do fim. Assim como a de muitas das jovens pérolas da equipa, com Kylian Mbappé, de 18 anos, à cabeça. Mas o Mónaco tem sabido renovar-se ao longo dos anos, sobrevivendo, melhor ou pior, à saída de estrelas como Wenger, Henry, Trezeguet, Tigana, Thuram, Weah e Djorkaeff.

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