A agonia do Dortmund em noites de gala no Estádio do Bessa

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Paulo Sousa e Otto Ado no jogo de 1999 no Estádio do Bessa Reuters
O cartaz do jogo entre o Boavista e o Borussia Dortmund
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O cartaz do jogo entre o Boavista e o Borussia Dortmund DR

Há vários jogadores que confessam que sentem um arrepio quando ouvem o hino da Liga dos Campeões. Em 1992, a UEFA convidou um compositor britânico, adepto do Norwich, a criar uma atmosfera especial antes dos jogos da Champions. Tony Britten inspirou-se num dos hinos de homenagem a Zadok the Priest, compostos por Händel para a coroação do rei Jorge II, e fez a música das noites de gala do futebol europeu. O italiano Andrea Bocelli e a portuguesa Mariza já a cantaram e emocionaram-se no melhor palco possível: um estádio completamente cheio e com aplausos de milhares de espectadores.

Em 1999, o Boavista chegou à Liga dos Campeões. Nos anos de enorme entusiasmo  que levaram ao título nacional em 2001, os jogos com o Borussia Dortmund ficaram bem gravados na memória colectiva. Os alemães, que recebem o FC Porto na próxima semana, na Liga Europa, e visitam o Dragão no dia 25, regressam a Portugal sem as melhores recordações na bagagem. Das duas vezes que aqui estiveram perderam sempre: em 1999 e em 2001.

Depois de uma duríssima prova de acesso com dois postulantes para uma única vaga, só após prolongamento com o Brondby (4-2) é que os “axadrezados” garantiram o lugar na fase de grupos. Apesar da entrada frouxa no clube dos ricos, nunca a expectativa foi tão grande como quando o Bessa recebeu cerca de 1.000 alemães que vieram acompanhar um campeão europeu de fresca data: o Borussia Dortmund, vencedor da Liga dos Campeões em 1997, no tempo de Paulo Sousa. Para chegar ao topo do futebol europeu o Boavista tinha cumprido, desde 1975, um largo estágio com cinco participações na Taça das Taças e 11 na Taça UEFA e avaliações feitas ante equipas como Celtic, Atlético de Madrid, Valência e Lazio ou Inter, estes por mais de uma vez. O Boavista era então conhecido pelos italianos como a equipa das camisolas esquisitas. A tradução parecia óbvia, mas eventualmente, sem ironia, não significava mais do que uma referência a um adversário de camisolas pouco usuais.

Bem curtido pelos combates semanais da Bundesliga, o Borussia Dortmund foi o adversário ideal para estimular o Boavista de Jaime Pacheco. A equipa respondeu com uma energia que surpreendeu Lehmann, Reuter e Kohler, os nomes mais sonantes da embaixada visitante. “Borussia Dortmund, que humilhação. Perde com o Boavista com dez”, escrevia La Gazzetta dello Sport no dia seguinte ao jogo. Era a época do “Boavistão”, que mandou a equipa alemã para a Taça UEFA. Pedro Emanuel marcou o golo da vitória depositando na tesouraria um bom prémio de 62 milhões, mas Pacheco acabou por lamentar a inesperada derrota em casa com o Rosenborg, que gelou o ambiente de entusiasmo do início da época. “Tenho consciência de que poderíamos ter ido mais longe na Liga dos Campeões”.

Não foi preciso esperar muito tempo para repetir a vitória. Desta vez, em 2001, pelo resultado de 2-1 e com o especial sabor da passagem à fase seguinte e o contentamento pela anulação do gigante Jan Koller, de Rosicky e dos seus altivos companheiros. Afinal os “axadrezados” também tinham grandes jogadores e Pedro Emanuel, Petit, o “pistoleiro” Silva ou o boliviano Erwin Sánchez mostraram-no, nada impressionados com o reclamado favoritismo alemão.

Nesta fase áurea do Boavista, os empates com o Liverpool e o Bayern Munique foram outros momentos de glória e a vitória sobre o Dínamo de Kiev figura também no rol de proezas das equipas treinadas por Jaime Pacheco, o homem que levou o clube ao título nacional. Só as duas derrotas com o Manchester United (0-3), no histórico percurso na Champions, mostraram que não se lhe podia exigir mais.

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