Rushfeldt ficou desapontado

O Benfica abdicou de Rushfeldt e está à procura de outro avançado. Os "encarnados" dizem que tinham dinheiro para o negócio, mas não o conseguiam colocar a tempo na Noruega. O avançado ficou desiludido com o desfecho: "Não foram correctos nem honestos comigo." Agora deve ir para Espanha.

A novela Rushfeldt chegou ao fim. O avançado norueguês, que seria peça fundamental no futebol de Jupp Heynckes, já não vem para Portugal porque o Benfica desistiu ontem do negócio, via fax. Os "encarnados" não conseguiram cumprir o prazo para o envio do dinheiro, apesar de o vice-presidente José Capristano ter garantido ao PÚBLICO que o clube tinha os cerca de 570 mil contos necessários para concluir a transferência. Capristano disse que o Benfica já está à procura de um substituto para Rushfeldt. Este critica duramente a direcção de Vale e Azevedo. O fax foi enviado da Luz perto das 12h30, apesar do Benfica ter mais algumas horas para proceder ao depósito bancário da quantia em falta. Mas José Capristano sabia da desistência do Benfica desde a noite anterior. Vale e Azevedo telefonou-lhe para Itália, a informá-lo da situação, momentos antes de entrar para uma recepção na Câmara Municipal de Trieste, como o próprio confirmou ao PÚBLICO. O comunicado emitido pelo clube é o menos informativo possível: "O Sport Lisboa e Benfica informa que desistiu da contratação do jogador Sigurd Rushfeldt. Os motivos que levaram o Sport Lisboa e Benfica a desistir da contratação deste jogador serão compreendidos pelos benfiquistas nos próximos dias."Embora o mesmo comunicado acrescente que não serão dadas explicações sobre este assunto, José Capristano forneceu-as ao PÚBLICO: "Devido às burocracias, a verba não chegaria ao Rosenborg antes das 14h30. O dinheiro ia via Nova Iorque e demoraria dois ou três dias a chegar à Noruega. Mas o Rosenborg foi irredutível, pressionou e o meu presidente é radical neste tipo de situações. Foi isto que aconteceu. Se fosse ao contrário, preferia receber em 'cash' daqui a dois dias do que esperar pelas garantias bancárias. Para mim, era suficiente saber que o montante estava depositado. Foi falta de confiança deles. Não estou a dizer que foi combinado, mas é de um rigor..."O vice-presidente para o futebol disse ainda que o Benfica já tinha disponível a verba em falta. "O presidente telefonou-me hoje [ontem] de manhã a dizer que havia dinheiro." Agora, Capristano espera que o Rosenborg devolva os mais de 160 mil contos que recebeu em Julho, como sinal de um negócio que rondava os 750 mil contos. "Sim, espero que nos devolvam esse dinheiro. O presidente [Vale e Azevedo] disse-me que tinham três dias para o fazer", referiu. O director desportivo do Rosenborg, Rune Bratseth, em declarações à Rádio Renascença, confirmou que esse será o procedimento. Bratseth disse ainda que o fax enviado pelo Benfica para Trondheim alegava questões burocráticas para justificar a anulação da transferência. No entanto, esta explicação não convenceu ninguém na Noruega. No Rosenborg e na imprensa local crê-se que esta retirada deve-se apenas à falta de dinheiro. Uma análise que parte, sem dúvida, dos vários episódios desta "novela", que começaram com divergências quanto ao envio das garantias bancárias (a data limite era 31 de Julho), o que forçou o regresso do futebolista à Noruega apenas cinco dias depois de ter chegado à Áustria para o estágio "encarnado". Aliás, mesmo esta viagem foi sucessivamente adiada. O Benfica reclamou junto da FIFA, que convidou os dois clubes a entenderem-se. Finalmente, Vale e Azevedo propôs ao presidente do Rosenborg, Knut Skoglund, o pagamento antecipado até ontem. Se tal não acontecesse, o negócio seria desfeito. E foi esse o desfecho, que não terá agradado a Heynckes.Ainda anteontem o treinador alemão frisara a importância para a sua equipa de um futebolista com as características de Rushfeldt. Segundo José Capristano, Heynckes "reagiu de uma forma profissional": "Falou com o presidente e aceitou bem."Agora, é necessário encontrar um substituto, o que, adiantou aquele dirigente, já começou a ser feito: "Sentimos a necessidade de contratar um ponta-de-lança. Já estamos a trabalhar nesse sentido no mercado europeu. Fornecemos um nome, que está a merecer o estudo do senhor Heynckes." Reforçando que não é um jogador oriundo do mercado nórdico, Capristano disse que a contratação será feita até ao final de Agosto.O PÚBLICO falou também com Rushfeldt. "Estou desapontado. Não esperava isto", salientou. Manifestando admiração pelo Benfica, disse ter passado por uma "experiência triste": "Foram seis semanas de longa espera. Não foram correctos nem honestos comigo, porque ainda ontem [anteontem] me ligou uma pessoa do Benfica a dizer que tudo ia ser resolvido. Gostava de ter ido para o Benfica, era o melhor clube para mim. Mas, se adivinhasse isto, não teria aceite a proposta nem teria ido até à Áustria. Não fiquei contente com Vale e Azevedo." E respondeu a Capristano, que o acusou de "não ter sido suficientemente pressionante" junto do Rosenborg, quando foi forçado a deixar Leogang e a regressar à Noruega: "Não foi bem assim. Se tivessem pago, teria ficado. Não me podem culpar de nada." Aos jornalistas locais, Rushfeldt disse que "tanto o Benfica como o Rosenborg deviam aprender alguma coisa com este caso": "A culpa não é só do Benfica. Situações destas não devem acontecer no Rosenborg." O melhor marcador do campeonato norueguês nas duas últimas épocas não vai ficar no Rosenborg, que quer fazer um encaixe financeiro. Rushfeldt disse ao PÚBLICO que o Racing Santander (Espanha) deverá ser o seu destino: "Sim, vou falar com eles." De acordo com a imprensa norueguesa, o avançado viaja hoje mesmo para Santander.

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